Matheus Viana
O
episódio conhecido como a entrada
triunfal de Jesus em Jerusalém não foi em uma pomposa e ornada carruagem
real. Tampouco montado sobre um cavalo puro sangue de linhagem nobre. Aquele a
qual a multidão saudava: “Bendito é o que
vem em nome do Senhor! Bendito é o Reino vindouro do vosso pai Davi!”
(Evangelho segundo Marcos 11:9-10), o Messias (Evangelho segundo Mateus 16:16),
O dinasta davídico prometido (II Samuel 7:16) entrou montado em um jumento.
Ao
lermos tal narrativa, uma questão surge de súbito em nossa mente: Por que um
jumento? A resposta, além de ser o cumprimento da profecia feita por Zacarias (Zacarias 9:9), é a síntese de toda a mensagem e
ensinamento de Jesus durante Seu ministério terreno. Ele disse aos Seus
ouvintes: “Aprendei de mim que sou manso
e humilde.” (Evangelho segundo Mateus 11:29). Antes disso, porém, no sermão
da montanha, preconizou: “Bem-aventurados
os mansos, pois herdarão a terra.” (Evangelho segundo Mateus 5:4). Outras
traduções dizem “humildes”.
Há
uma clara alusão messiânica em torno destas mensagens. Jesus é o Filho de Davi
cujo trono foi estabelecido para sempre. Ou seja, Ele é o herdeiro do grande
rei por ser, como homem, da linhagem davídica. Além de, como Deus, ser o Cristo
que viria para reinar (Isaías 9:6), embora seu Reino não foi e não é deste
mundo. Mas uma das características do Rei que herdaria tal reinado é a
mansidão. No entanto, o que é ser manso? É ser obediente. Embora recebera toda
a autoridade nos céus e na terra (Evangelho segundo Mateus 28:18), Jesus foi
manso. Ou seja, se humilhou até a morte, e morte de cruz (Filipenses 2:6-8).
A
prática de Seu reinado foi pautada na humildade. Por isso, advertiu Seus
discípulos: “Quem quiser tornar-se
importante entre vocês deverá ser servo. E quem quiser ser o primeiro deverá
ser servo, assim como o Filho do Homem que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua
vida em resgate de muitos.” (Evangelho segundo Mateus 20:26-28).
Jesus
entrou em Jerusalém montado em um jumento para evidenciar o caráter e a
essência de Seu reinado: humildade e serviço. Paulo, em sua carta aos
filipenses, descreve tais características. Assim como o profeta Isaías, Paulo
definiu tal reinado como servo. A
expressão usada pelo apóstolo não foi terapeia
(serviços/cuidados médicos) nem diakonia
(serviços gerais), mas a mesma usada por Mateus ao descrever o ensinamento de
Jesus sobre quem seria o maior no Reino de Deus: doulos (escravo).
O
Rei que se fez escravo de súditos rebelados. O filósofo e sociólogo francês
Michel Foucault disse em seu livro Vigiar e
punir que, durante a Idade Média, quando um súdito infringia alguma lei do
reinado, era severamente punido – cujas punições eram chamadas de suplícios –
por contrariar a vontade e a autoridade do próprio rei. Ou seja, a punição era
uma demonstração da autoridade do rei que não poderia, em nenhuma circunstância,
ser ameaçada ou contestada. Não fizemos algo semelhante (Romanos 3:23)? Mas o
Rei que entrou montado em um jumento, ao invés de nos punir, se entregou para
ser punido (Evangelho segundo João 10:16-18).
Não
há maior ato de humilhação e serviço do que este. Não há mansidão maior do que
a expressa na seguinte oração: “Pai, se
possível, afasta de mim este cálice. Contudo, não seja como eu quero, mas como
tu queres.” (Evangelho segundo Mateus 26:39), cuja prática foi a morte na
cruz. Foi tudo isso que o jumento representou naquele momento.
No
entanto, o caráter que permeia nossos corações, e consequentemente determina
nossa prática, é bem diferente disto. Não medimos esforços para estar no “ápice”
da “prosperidade” financeira e/ou no topo das várias empresas de marketing multinível – atualmente em
voga – que têm trazido severas contendas, discussões e divisões em meio ao
corpo de Cristo. Hoje em dia, por conta da perniciosa teologia da prosperidade, montar o jumento da humildade e da
servidão, que significa não amar e não viver de acordo com as riquezas e os
valores deste mundo (I João 2:15), mas buscar o Reino de Deus e a Sua justiça (Evangelho
segundo Mateus 6:33), é “sintoma” de pecado, e sua consequente maldição ou falta de fé.
Sim,
Jesus virá para reinar como o Cavaleiro do cavalo branco, com toda excelência e
glória (Apocalipse 19:11-16). Foi exaltado à mais alta posição e Seu Nome está
acima de todo nome nos céus, na terra e debaixo da terra (Filipenses 2:9-10). Contudo,
somos chamados a obedecer e representar o Rei montado em um jumento. É isso que
significa atender ao Seu pedido de seguí-Lo: “Aquele
que quiser me seguir, negue-se a si mesmo (humildade e mansidão), tome a tua cruz e siga-me.” (Evangelho
segundo Mateus 16:24). Qualquer proposta contrária é puro ufanismo humano.
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