Acredite! Cartaz de uma campanha evangélica. |
Matheus
Viana
Traduzindo
os dois primeiros versículos da terceira carta do apóstolo João diretamente do
grego, sem estilização da sentença, mas mantendo a escrita mais próxima possível do
original, temos: “Ó presbítero
Gaio amado, que eu amo na verdade. Amado, com respeito a tudo, desejo que
prosperes em sua saúde e também prosperes em sua alma.”.
Prosperidade.
Algo em franca e constante evidência. E que, por isso, seu conceito tem sido
completamente deturpado. Não quero aqui, nesta primeira parte de nossa
reflexão, complementar a teologia disseminada à exaustão que afirma a
espécie de “clichê” de que prosperidade é estar no centro da vontade de Deus.
Sim, isto é verdade. Mas é justamente esta a verdade que tem sido mudada.
Para
a maioria, o “centro da vontade de Deus” ao ser humano é que ele viva uma vida
abastada em todos os níveis. Com isso, a “prosperidade” sócio-econômica,
consciente ou inconscientemente, permanece na berlinda (vide imagem acima). Mas eis o fato bíblico:
Jesus não promete isso. Pelo contrário! Ele sentenciou: “Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que possuem riquezas!
Porque é mais fácil entrar um camelo no buraco de uma agulha do que um rico
entrar no reino de Deus.” (Evangelho segundo Lucas 18:25).
Interprete
este “buraco de agulha” como queira.
Sendo uma agulha literal ou algo natural existente, a questão
em voga é que as riquezas as quais a “prosperidade” humana busca nos impedem de
alcançar o reino de Deus. Palavras do próprio Jesus. Durante Seu sermão da
montanha, disse: “Não podeis servir a
dois senhores, pois amará a um e aborrecerá o outro. Não podeis servir a Deus e
às riquezas”. (Evangelho segundo Mateus 6:24).
Vemos
nas palavras de Jesus um claro e evidente antagonismo entre a prosperidade
disseminada à exaustão, que preconiza as riquezas materiais, e o reino de Deus.
Intrigante. Quer dizer, então, que exercer o verdadeiro cristianismo consiste
em sermos pobres? Claro que não! O próprio Jesus disse que veio para que
tivéssemos vida abundante (Evangelho segundo João
10:10). A questão é que precisamos compreender a prosperidade originada em Jesus.
Pois, conforme João Batista elucidou, clamemos: “O homem não pode receber nada se do céu não lhe for dado.” (Evangelho segundo João 3:27).
O
apóstolo Paulo dá a chave: “Porque em tudo
fostes enriquecidos nele, em toda a palavra e em todo o conhecimento”. (I
Coríntios 1:5). Em tudo fomos enriquecidos. No entanto, a fonte de nossa
riqueza é Cristo. Se isto é verdade, toda riqueza que contraria e nos impede de
entrar em Seu reino não pode vir Dele. Tal fato é dedução lógica pura e
simples. Por isso, vemos, de acordo com o apóstolo Paulo, que a riqueza de
Cristo para nós consiste em “toda palavra
e em todo conhecimento.”. O que mais podemos querer?
A
expressão “palavra” que aparece no versículo acima é logos na escrita original, diferentemente de graphás, que é comumente traduzida como “escritura”, como por
exemplo, no Evangelho segundo Mateus 22:29. Paulo está dizendo que não fomos
enriquecidos apenas nas escritas deixadas por Deus através de homens (II
Timóteo 3:16), mas do Logos, ou seja,
a essência do próprio Jesus conforme relata o apóstolo João no primeiro
capítulo de seu registro do Evangelho de Cristo: “No princípio era a Palavra, a Palavra estava com Deus e era Deus.”.
Já
a expressão “conhecimento” não é eidos
(ideia) conforme aparece, por exemplo, em Mateus 22:29 quando Jesus diz aos
saduceus: “Errais por não conheceres (“eidotes”
– verbo originado na palavra “eidos”) as
escrituras (graphás) nem o poder (dumanis) de Deus.”. A palavra usada por Paulo é gnose. Gnose é o conhecimento que não é obtido apenas pela razão, como por
exemplo, o epistêmico, elucidado por Platão que consistia na consciência da
existência do homem e na meditação no saber filosófico; mas também através de
algo transcendental ao ser humano.
A
seita que perturbou a Igreja no primeiro século, chamada de gnosticismo, dizia, grosso modo,
que o ser humano só pode ser salvo se obter uma espécie de conhecimento
alcançado através de renúncias e profundas meditações, o que anulava a obra
salvífica de Jesus na cruz. Paulo e os demais pais da Igreja refutaram esta
heresia.
Paulo não estava se referindo ao gnosticismo, mas sim ao pleno
conhecimento de Jesus Cristo. Os coríntios, por serem gregos, eram
influenciados pela filosofia clássica, sobretudo pela maiêutica de Socrátes e
também pela sua proposta: “Conhece-te a ti mesmo”. Por isso o apóstolo Paulo
também propôs: “Examine o homem a si
mesmo.” (I Coríntios 11:28), além de dizer que é este conhecimento que nos
faz ser prósperos. Portanto, só conheceremos a nós mesmos quando conhecermos
àquele ao qual fomos formados à Sua imagem e semelhança: Jesus, a imagem do
Deus invisível (Colossenses 1:15).
João
Calvino afirmou: “O verdadeiro conhecimento de nós mesmos é completamente
dependente do verdadeiro conhecimento de Jesus Cristo”. Verdade completa. Pois
só conheceremos (gnose) a nós mesmos
quando conhecermos quem Jesus foi, é, e será eternamente (Hebreus 13:8). Conforme
preconiza Ariovaldo Ramos: “Jesus é o que Deus é e o que todo ser humano deve
ser”. Por isso, o próprio Jesus advertiu: “Examinai
as Escrituras, pois elas de mim testificam.” (Evangelho segundo João 5:39).
Conhecer a Cristo e, com isso, ter a consciência do ser que Deus deseja que
sejamos. Isso sim é riqueza. Isso é estar no centro da vontade de Deus em todos
os níveis de nossas vidas (Romanos 8:29).
O
apóstolo Paulo possuía esta consciência. Por isso afirmou: “E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência
do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor, pelo qual sofri a perda de todas
estas coisas e as considero como esterco para que possa ganhar a Cristo.”
(Filipenses 3:8). Comparemos, para encerrarmos esta longa reflexão, o balanço
da vida do homem mais rico da Bíblia e do apóstolo Paulo. O primeiro chegou à
conclusão de que tudo é vaidade, e de que sua devoção às muitas riquezas que
possuía nada mais foi do que correr atrás do vento (Eclesiastes 1:1-6). Já o
apóstolo Paulo, conforme ele mesmo disse, combateu o bom combate, completou a
carreira, guardou a fé (II Timóteo 4:6-7). Qual destes dois foi, de fato,
próspero?
Respondo. O mesmo que advertiu seu amado discípulo em Cristo, Timóteo: “Mas os que querem ser ricos caem em
tentação, e em laço, e em muitas concupscências loucas e nocivas, que submergem
os homens na perdição e na ruína. Porque o amor ao dinheiro é a raiz do todos
os males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé e se traspassaram a si mesmos
com muitas dores. Mas tu, ó homem de Deus, foge destas coisas e segue a
justiça, a piedade, a fé, o amor, a paciência e a mansidão... Manda aos ricos
deste mundo que não sejam altivos, nem ponham a esperança na incerteza das
riquezas, mas em Deus, que abundantemente nos dá todas as coisas para delas desfrutarmos.” (I Timóteo 6:9-10 e 18).
Continua...
Ótimo texto! Continue escrevendo! Benção de Deus para as nossas vidas!
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