quarta-feira, 22 de maio de 2013

Pedra não é tijolo


Verdade óbvia, porém ignorada

Matheus Viana

Unidade e uniformidade são a mesma coisa? Não. Infelizmente, alguns acham que são. E, por isso, a Igreja de Jesus se encontra tão distante do padrão original. Explico. A torre de Babel (Gênesis 11) é o rascunho original do que mais tarde ficou conhecido como o império da Babilônia, cuja essência é descrita pelo anjo que deu a visão ao apóstolo João: “... a grande Babilônia, a mãe das prostituições e abominações da terra.” (Apocalipse 17:5).

O intento que levou a torre de Babel ser construída foi tornar célebres os nomes dos construtores. Se usarmos a teoria matéria/forma, estabelecida por Aristóteles, para refletirmos sobre sua constituição a fim de vermos sua aplicação, vemos que a matéria usada foi tijolos, e a forma foi uma torre, algo imponente, magnífico, que conduzisse os homens até os céus pelos seus próprios esforços. O que tudo isso significa?

Tijolo fala de uniformidade. Fato intrigante. Quando Jesus revelou o pavimento de Sua Igreja ao Seu discípulo Simão, disse: “Bem-aventurado és, Simão Barjonas, pois não foi carne ou sangue quem te revelou, mas meu pai que estás nos céus. Por isso eu te digo que tu és ‘tijolo’, e neste Tijolo eu edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”, não foi?

Quando o apóstolo Paulo elucidou sobre o fundamento desta mesma Igreja em sua carta aos cristãos de Éfeso, disse: “Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é o principal ‘tijolo’ angular, no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor.” (Efésios 2:20-21), não disse?

Ambas questões devem ser respondidas negativamente. Pois a expressão “tijolo” deve ser substituída por pedra. Diferente do material usado para construir a torre de Babel, o fundamento original da Igreja é pedra. Pedras são diferentes umas das outras, não são uniformes como os tijolos.

Mas, infelizmente, a Igreja atual tem substituído pedras por tijolos. Sistemas contemporâneos de evangelização de massa - com direito a marketing e tudo -, de crescimento rápido e vertiginoso e de um “cristianismo de impacto” têm reduzido pessoas ao mecanicismo destes métodos. Pois elas não passam por uma experiência íntima e pessoal de conversão, mas são condicionadas ao processo dinâmico, ininterrupto e invariável destes sistemas. Os que não se conformam de modo a ser um dos tijolos, como diria Pink Floyd em “Another Brick in the wall”, são preteridos e descartados.

Completamente na contramão, embora milênios antes, o apóstolo Paulo, no capítulo 12 de sua primeira epístola aos coríntios, fez um tratado brilhante sobre a unidade – e não uniformidade – orgânica da Igreja. Muitos membros diferentes, que agem de formas distintas, mas com um ideal: a edificação do corpo de Cristo. Ou seja, do próprio Cristo. Veja que o intento é completamente diferente do da torre de Babel. Na torre, o objeto de louvor são os nomes dos construtores, já na Igreja, é o cabeça: Jesus Cristo.

A matéria revela a forma. Se a uniformidade impede a pluralidade tão bíblica e necessária de ministérios (I Coríntios 12:12), é sinal que o material usado na edificação do corpo de Cristo na terra não é pedra, conforme Ele mesmo estabeleceu que deveria ser (Evangelho segundo Mateus 16:18), mas é tijolo.

Se é tijolo, não é Cristo o objeto de louvor. Ainda que Seu nome Santo e Precioso seja evocado, nada mais é do que pretexto para colocar o nome dos construtores da “torre” em evidência. Lembre-se, Cristão! Você foi chamado para ser pedra, não tijolo. Você não foi chamado para construir torres, muito menos a de Babel. Mas sim edificar o corpo de Cristo na Terra. Seja pedra e permaneça edificado na Pedra Angular.

Leia também: Unidade de propósito, diversidade de linguagem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário