Verdade óbvia,
porém ignorada
Matheus
Viana
Unidade
e uniformidade são a mesma coisa? Não. Infelizmente, alguns acham que são. E,
por isso, a Igreja de Jesus se encontra tão distante do padrão original.
Explico. A torre de Babel (Gênesis 11) é o rascunho original do que mais tarde
ficou conhecido como o império da Babilônia, cuja essência é descrita pelo anjo
que deu a visão ao apóstolo João: “... a
grande Babilônia, a mãe das prostituições e abominações da terra.” (Apocalipse
17:5).
O
intento que levou a torre de Babel ser construída foi tornar célebres os nomes
dos construtores. Se usarmos a teoria matéria/forma, estabelecida por
Aristóteles, para refletirmos sobre sua constituição a fim de vermos sua
aplicação, vemos que a matéria usada
foi tijolos, e a forma foi uma torre,
algo imponente, magnífico, que conduzisse os homens até os céus pelos seus
próprios esforços. O que tudo isso significa?
Tijolo
fala de uniformidade. Fato intrigante. Quando Jesus revelou o pavimento de Sua
Igreja ao Seu discípulo Simão, disse: “Bem-aventurado
és, Simão Barjonas, pois não foi carne ou sangue quem te revelou, mas meu pai
que estás nos céus. Por isso eu te digo que tu és ‘tijolo’, e neste Tijolo eu
edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”, não
foi?
Quando
o apóstolo Paulo elucidou sobre o fundamento desta mesma Igreja em sua carta
aos cristãos de Éfeso, disse: “Edificados
sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é o
principal ‘tijolo’ angular, no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para
templo santo no Senhor.” (Efésios 2:20-21), não disse?
Ambas
questões devem ser respondidas negativamente. Pois a expressão “tijolo” deve
ser substituída por pedra. Diferente do material usado para construir a torre
de Babel, o fundamento original da Igreja é pedra. Pedras são diferentes umas
das outras, não são uniformes como os tijolos.
Mas,
infelizmente, a Igreja atual tem substituído pedras por tijolos. Sistemas
contemporâneos de evangelização de massa - com direito a marketing e tudo -, de
crescimento rápido e vertiginoso e de um “cristianismo de impacto” têm reduzido
pessoas ao mecanicismo destes métodos. Pois elas não passam por uma experiência
íntima e pessoal de conversão, mas são condicionadas ao processo dinâmico,
ininterrupto e invariável destes sistemas. Os que não se conformam de modo a
ser um dos tijolos, como diria Pink Floyd em “Another Brick in the wall”, são
preteridos e descartados.
Completamente
na contramão, embora milênios antes, o apóstolo Paulo, no capítulo 12 de sua
primeira epístola aos coríntios, fez um tratado brilhante sobre a unidade – e
não uniformidade – orgânica da Igreja. Muitos membros diferentes, que agem de
formas distintas, mas com um ideal: a edificação do corpo de Cristo. Ou seja, do
próprio Cristo. Veja que o intento é completamente diferente do da torre de
Babel. Na torre, o objeto de louvor são os nomes dos construtores, já na
Igreja, é o cabeça: Jesus Cristo.
A
matéria revela a forma. Se a uniformidade impede a pluralidade tão bíblica e
necessária de ministérios (I Coríntios 12:12), é sinal que o material usado na
edificação do corpo de Cristo na terra não é pedra, conforme Ele mesmo estabeleceu
que deveria ser (Evangelho segundo Mateus 16:18), mas é tijolo.
Se
é tijolo, não é Cristo o objeto de louvor. Ainda que Seu nome Santo e Precioso
seja evocado, nada mais é do que pretexto para colocar o nome dos construtores
da “torre” em evidência. Lembre-se, Cristão! Você foi chamado para ser pedra,
não tijolo. Você não foi chamado para construir torres, muito menos a de Babel.
Mas sim edificar o corpo de Cristo na Terra. Seja pedra e permaneça edificado
na Pedra Angular.
Leia também: Unidade de propósito, diversidade de linguagem.
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