Matheus
Viana
Jean-Jaques Rousseau
preconizou: “o homem é corrompido pelo meio em que vive”. Ou seja, para o
filósofo, o ser humano nasce bom, mas é corrompido pela realidade a qual está
inserido. No campo da religião, Pelágio também afirmava que o ser humano nasce
bom por ter sido criado à imagem e semelhança de Deus. E que esta bondade não
foi totalmente corrompida pelo pecado original. Há ainda quem acredite desta
forma.
Na
contramão, o apóstolo Paulo elucida: “Por
um homem entrou o pecado, e pelo pecado a morte, e a morte passou a todos os
homens”. (Romanos 5:12). Que homem é este? Ele mesmo: Adão. E que morte é
esta? Há duas expressões traduzidas para “morte” no grego: nekros e thanatos. Nekros é usada para descrever a morte
física. É desta expressão que se origina os termos necropsia e necrotério,
por exemplo. Já thanatos é usada para
descrever a morte de forma geral, mas principalmente a espiritual.
A
palavra que aparece no trecho bíblico citado anteriormente e traduzida como
morte para o português é thanatos. A thanatos que Paulo se refere é a
ausência do Espírito de Deus, o fôlego de vida soprado por Ele nas narinas do
homem no momento em que o formou (Gênesis 2:7). A nekros passou a ser, em detrimento do pecado, a consequência da thanatos, uma vez que a thanatos implicou também na perda da infinitude que o ser humano desfrutava até então.
Davi,
milênios antes de Paulo, afirmou: “Em
iniquidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe.” (Salmo 51:5). O
profeta Jeremias é ainda mais contundente: “O
coração do homem é enganoso, desesperadamente corrupto, quem o conhecerá?” (Jeremias 17:9). Indagação retórica.
Coração aqui representa o centro de nossa existência, o nosso eu. Por isso, o
sábio Salomão adverte: “De todas as
coisas que deves guardar, guardas o coração, pois dele procedem as fontes da
vida.” (Provérbios 4:23). Assim, por conta do pecado original, o centro
de nossa existência foi corrompido. O que implica no fato de que, conforme Davi
afirmou, já nascemos pecadores. Em outras palavras, somos corruptos por
natureza. É por isso que o apóstolo Paulo exorta: “Fazei morrer a vossa natureza terrena.” (Colossenses 3:5).
Surge
então um círculo vicioso: O ser humano, corrupto por natureza, corrompe o meio em
que vive. Por sua vez, esta realidade degradante corrompe ainda mais o ser
humano. Jesus se tornou humano para quebrar este círculo. Apesar de sua origem
ser divina, – pois não nasceu da semente humana – tomou sobre si a forma humana
(Filipenses 2:7-8), degradada e inclinada para a corrupção. Mas não se
corrompeu. Como homem, foi tentado em tudo, de todas as formas, mas não pecou
em nenhum momento (I Pedro 2:22, Hebreus 4:15). Ou seja, venceu a corrupção que
o tentou seduzir por várias vezes provando da mesma humanidade corrupta. Pois
Deus não pode ser tentado (Tiago 1:13).
Uma pessoa enferma só se
submete ao tratamento quando adquire a consciência de tal situação. Há milênios
tenta-se combater a corrupção com a nobre finalidade de vivermos em um mundo
mais justo. No entanto, o sistema corrupto, em sua completude, não será vencido
enquanto a corrupção humana não for extinta. O apóstolo João diz: “Para isso se manifestou o Filho de Deus,
para destruir as obras do maligno” (I João 3:8). Que “obras do maligno” são
estas? A corrupção instalada no interior do ser humano. E este objetivo não
será alcançado com nenhuma ideologia ou atitude revolucionária ou
fundamentalista. Mas com amor e de forma inteligente.
Inteligência em
reconhecermos que somos corruptos e vencermos esta corrupção com a paz que
excede todo o entendimento, fundamentados no amor manifesto por Jesus quando
tomou sobre si toda a nossa corrupção (Isaías 53:5) e se submeteu à morte de
cruz. Por isso Ele afirmou: “Eu não vim
para os sãos, mas para os doentes.” (Evangelho segundo Marcos 2:17 – contextualizado).
Em outras palavras: para os corruptos. Quem não é?
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