terça-feira, 26 de março de 2013

Quem é o corrupto?


Matheus Viana

Jean-Jaques Rousseau preconizou: “o homem é corrompido pelo meio em que vive”. Ou seja, para o filósofo, o ser humano nasce bom, mas é corrompido pela realidade a qual está inserido. No campo da religião, Pelágio também afirmava que o ser humano nasce bom por ter sido criado à imagem e semelhança de Deus. E que esta bondade não foi totalmente corrompida pelo pecado original. Há ainda quem acredite desta forma.

Na contramão, o apóstolo Paulo elucida: “Por um homem entrou o pecado, e pelo pecado a morte, e a morte passou a todos os homens”. (Romanos 5:12). Que homem é este? Ele mesmo: Adão. E que morte é esta? Há duas expressões traduzidas para “morte” no grego: nekros e thanatos. Nekros é usada para descrever a morte física. É desta expressão que se origina os termos necropsia e necrotério, por exemplo. Já thanatos é usada para descrever a morte de forma geral, mas principalmente a espiritual.

A palavra que aparece no trecho bíblico citado anteriormente e traduzida como morte para o português é thanatos. A thanatos que Paulo se refere é a ausência do Espírito de Deus, o fôlego de vida soprado por Ele nas narinas do homem no momento em que o formou (Gênesis 2:7). A nekros passou a ser, em detrimento do pecado, a consequência da thanatos, uma vez que a thanatos implicou também na perda da infinitude que o ser humano desfrutava até então.

Davi, milênios antes de Paulo, afirmou: “Em iniquidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe.” (Salmo 51:5). O profeta Jeremias é ainda mais contundente: “O coração do homem é enganoso, desesperadamente corrupto, quem o conhecerá? (Jeremias 17:9). Indagação retórica. Coração aqui representa o centro de nossa existência, o nosso eu. Por isso, o sábio Salomão adverte: “De todas as coisas que deves guardar, guardas o coração, pois dele procedem as fontes da vida. (Provérbios 4:23).  Assim, por conta do pecado original, o centro de nossa existência foi corrompido. O que implica no fato de que, conforme Davi afirmou, já nascemos pecadores. Em outras palavras, somos corruptos por natureza. É por isso que o apóstolo Paulo exorta: “Fazei morrer a vossa natureza terrena.” (Colossenses 3:5).

Surge então um círculo vicioso: O ser humano, corrupto por natureza, corrompe o meio em que vive. Por sua vez, esta realidade degradante corrompe ainda mais o ser humano. Jesus se tornou humano para quebrar este círculo. Apesar de sua origem ser divina, – pois não nasceu da semente humana – tomou sobre si a forma humana (Filipenses 2:7-8), degradada e inclinada para a corrupção. Mas não se corrompeu. Como homem, foi tentado em tudo, de todas as formas, mas não pecou em nenhum momento (I Pedro 2:22, Hebreus 4:15). Ou seja, venceu a corrupção que o tentou seduzir por várias vezes provando da mesma humanidade corrupta. Pois Deus não pode ser tentado (Tiago 1:13).


Uma pessoa enferma só se submete ao tratamento quando adquire a consciência de tal situação. Há milênios tenta-se combater a corrupção com a nobre finalidade de vivermos em um mundo mais justo. No entanto, o sistema corrupto, em sua completude, não será vencido enquanto a corrupção humana não for extinta. O apóstolo João diz: “Para isso se manifestou o Filho de Deus, para destruir as obras do maligno” (I João 3:8). Que “obras do maligno” são estas? A corrupção instalada no interior do ser humano. E este objetivo não será alcançado com nenhuma ideologia ou atitude revolucionária ou fundamentalista. Mas com amor e de forma inteligente. 



Inteligência em reconhecermos que somos corruptos e vencermos esta corrupção com a paz que excede todo o entendimento, fundamentados no amor manifesto por Jesus quando tomou sobre si toda a nossa corrupção (Isaías 53:5) e se submeteu à morte de cruz. Por isso Ele afirmou: “Eu não vim para os sãos, mas para os doentes.” (Evangelho segundo Marcos 2:17 – contextualizado). Em outras palavras: para os corruptos. Quem não é? 

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