terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Meros adendos


Matheus Viana

O sábio Salomão advertiu: “Meu filho, guarde consigo a sensatez e o equilíbrio, nunca os perca de vista”. (Provérbios 3:21 – Nova Versão Internacional). Equilíbrio e sensatez. Embora sejam alvos de todo ser humano em condição salutar, suas carências em nós têm descaracterizado, consequentemente, a Igreja de Jesus. A tentativa de alcançá-los é a causa dos extremos.

Na busca pela santidade, muitos se tornam legalistas. Mas a nova onda da “liberdade em Cristo”, em muitas nuances, produz o extremo da libertinagem. Esta “modalidade da fé” preconiza que a Graça e o amor de Deus – demonstrados de forma radical na Cruz do Calvário –, apesar de alcançarem o pecador em seu estado deplorável, não confrontam seus pecados e não exigem dele mudanças de mente e de comportamento. Ou seja, arrependimento.

Ignoram o fato de que Jesus, contrariando a lógica, exercia sua santidade radical com equilíbrio e sensatez. Embora estabeleceu misericórdia e não fez distinção entre santos e pecadores, como homem tocou o ponto fulcral das pessoas com as quais se deparou de modo que se arrependessem e abandonassem suas más condutas. Veja, por exemplo, os episódios da mulher samaritana (Evangelho segundo João 4:16-18) e da mulher pega em flagrante adultério (Evangelho segundo João 8:11).

Existem os tradicionais que impedem a renovação do Espírito Santo. Na contramão, estão os que buscam abandonar as “tradições da religiosidade frívola” e acabam caindo na insensatez de criar, conforme o apóstolo Paulo elucida, “ventos de doutrinas” (Efésios 4:14) e são, como barcos a vela, guiados por eles.

Uma espécie de numerologia “bíblica” adquire caráter profético. Patuás e adereços tornam-se utensílios e objetos de fé. A lista é longa: rosa ungida, vassoura do descarrego, pulseira da aliança, arca da prosperidade, cajado de Moisés... Rudimentos que a Cruz de Cristo substituiu e os anulou por completo. O discurso de Lutero contra a “sacralidade” das relíquias da Igreja no Século XVI é atual e encontra pouso, pasmem, no meio protestante.

Diante de tudo isso, questionemos e reflitamos: Por que este descalabro? Por que a Igreja se tornou tão descaracterizada? Paulo sintetizou suas características: “... gloriosa, sem mácula nem ruga, santa e inculpável”. (Efésios 5:27). Gloriosa: que reflete o caráter de Jesus, a plena personificação da Glória de Deus aos homens (Evangelho segundo João 1:14, Colossenses 1:15).

Sem mácula: sem pecado, imaculada. Que ama o pecador, mas que dissemina e viabiliza a ele o arrependimento genuíno (Evangelho segundo Mateus 3:8). Sem ruga: renovada pela ação do Espírito Santo, mas sem abandonar os princípios imutáveis das Escrituras. Invenções e entretenimentos humanos, oriundos de interpretações bíblicas equivocadas, cujo intento é o alcance de objetivos pessoais, devem ser descartados.

Santa: separada das coisas do mundo – sistema de ser, pensar e agir – que o apóstolo Paulo orientou a não nos conformarmos (Romanos 12:2), observando a oração sacerdotal de Jesus de que não sejamos tirados dele (Evangelho segundo João 17:15) a fim de sermos sal e luz (Evangelho segundo Mateus 5:13-14).

Inculpável: fundamentada na Graça de Deus que nos justifica (Romanos 8:1) e nos santifica. Que possui e nutre a consciência de que apenas Ela – que abarca nossa resposta a Ela (Leia os textos: A prática da Graça e Ações de Graças) – é que fará com que se conforme às características salientadas explicitamente nas Escrituras. Seu alicerce é Jesus (Efésios 2:21) - Verdade óbvia, porém esquecida. E não a busca pelo sucesso em sua conotação secular. Jesus disse: “E nesta pedra, eu edificarei a minha igreja...”. (Evangelho segundo Mateus 16:18). Pedro, neste contexto, simboliza o fato de que somos meros adendos. Pequenas pedras colocadas sobre a Rocha principal. Portanto, sigamos o Seu modelo, não o nosso.

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