Matheus
Viana
Jesus
certa vez disse: “Eu lhes asseguro que, a
não ser que vocês se convertam e se tornem como crianças, jamais entrarão no
Reino dos Céus”. (Evangelho segundo Mateus 18:3 – Nova Versão
Internacional).
Afirmação
que exige reflexão. Já ouvi várias interpretações sobre ela. A que mais me
satisfez foi a de Brennan Manning em seu livro O Evangelho Maltrapilho. Ele aborda a questão bastante explorada de
sermos inocentes como uma criança e também a de adquirirmos o senso de dependência
que ela possui. Mas vai além. Ele nos lembra de que crianças, nos
tempos de Jesus, não eram contadas como cidadãs. Assim como as mulheres, “pecadores”
– os que não cumpriam toda a Lei, como se alguém a cumprisse em sua plenitude -,
publicanos e leprosos, faziam parte do “segundo escalão”.
Sim, Jesus veio para os pobres de espírito, os aflitos, os
rejeitados, os marginalizados... Enfim, para aqueles que não possuem valor
social. Mesmo assim, Sua mensagem é mais ampla. Quando resolvi ler este texto bíblico
novamente, veio à minha mente o fato de que uma criança está sempre disposta a
aprender.
Apesar de “inocentes”, crianças já nascem pecadoras (Salmo
51:5), ou seja, propensas para o mal. Por isso, não é apenas a “inocência”
infantil que Jesus quis abordar. Penso que, ao fazer tal afirmação, se referiu
à necessidade e desejo de aprendizado que a criança possui. Não é a toa que na fase
posterior, a da adolescência, o ser humano é acometido pela síndrome do “sabe-tudo”,
mesmo não sabendo.
Como
professor, detecto facilmente esta discrepância. É comum em minhas aulas no
ensino médio eu explicar o conteúdo e, ao fazer a questão: “Alguém tem alguma
dúvida?”, todos dizerem “não”. Os resultados das provas, no entanto, revelam
exatamente o contrário. O desinteresse em aprender é, podemos dizer, bastante
comum nesta fase.
Ao
analisarmos o texto, vemos que a conversão – mudança de mente (arrependimento),
de comportamento e de conduta – não é suficiente para herdarmos o Reino dos
Céus. É preciso também ser como uma criança. Estar sempre disposto a aprender. Por
isso Jesus, antes da afirmação aqui analisada, disse: “Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração”. (Evangelho
segundo Mateus 11:29). Entretanto, só aprende quem está disposto a se submeter
ao Seu ensino. Jesus confrontou severamente a cúpula religiosa de Sua época por
se julgar sábia pelo fato de conhecer a Lei mosaica. E, por isso, não estava
disposta a aprender de Seu Evangelho.
Cabe
aqui um contraste. Devemos nos lembrar de que o fato de sermos “crianças” não
anula a necessidade de amadurecermos a fim de que alcancemos a “estatura do varão perfeito”. (Efésios 4:13).
O próprio Jesus cresceu em sabedoria, estatura e graça diante de Deus e dos
homens (Evangelho segundo Lucas 2:52). Em outras palavras, adquiriu como homem
plena maturidade.
Amadurecer
não extingue a nossa necessidade de aprender. O sábio Salomão adverte: “Confie no Senhor de todo o seu coração e
não se apóie em seu próprio entendimento; reconheça o Senhor em todos os seus
caminhos, e ele endireitará as suas veredas. Não seja sábio aos seus próprios
olhos; tema o Senhor e evite o mal”. (Provérbios 3:5-7).
Conhecer
a Deus equivale a aprender Seus ensinamentos. Foi por isso que o próprio Jesus
afirmou: “Examinai as Escrituras, pois
elas de mim testificam”. (Evangelho segundo João 5:39). Foi por isso que,
milênios antes desta afirmação, o profeta Oséias advertiu: “Conheçamos o Senhor, esforcemo-nos por conhecê-lo”. (Oséias 6:3).
Reconhecermos
que não sabemos o suficiente e nos dispormos a aprender são atitudes oriundas
de mentes e corações sábios. Não é a toa que Sócrates, considerado o maior
de todos os filósofos clássicos, afirmava: “Sei que nada sei”. Que tenhamos esta disposição infantil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário