Mas
as ações de graças que o salmista nos propõe vão além de um mero pedido de obrigado e também da responsabilidade da
dívida, embora ambos sejam válidos e consideráveis. Sim, Deus espera que de
nossos lábios fluam a nossa gratidão a Ele, desde que seja fruto de um coração
verdadeiramente grato. Pois, conforme Jesus preconiza: “A boca fala do que está cheio o coração” (Evangelho segundo Mateus
12:34, 15:18). O apóstolo Paulo, em sua carta aos romanos, disse que era
devedor para com os judeus, aos gentios e aos bárbaros (Romanos 1:14).
Contudo,
em que, afinal, consistem estas ações de
graças? O primeiro passo para a resposta é
compreendermos a magnitude da Graça que Deus nos concedeu. Pois ações de graças nada mais são do que
nossa resposta a Ela. Portanto, como o próprio nome já diz, nossa gratidão a
Deus consiste em atitudes, ações.
Temos
muito para agradecer. Jeremias sintetiza a Graça de Deus ao ser humano quando
diz: “As misericórdias do Senhor são a
causa de não sermos consumidos”. (Lamentações 3:22). O fato de
acordarmos todas as manhãs é, por si só, motivo de gratidão. Há muitos motivos para
serem citados, mas não quero parecer piegas. Todas elas são desdobramentos do
fato de que Jesus tomou sobre si a pena de morte que deveria ser aplicada a nós
em detrimento de nossos pecados. Por isso o apóstolo Paulo elucida: “Onde abundou o pecado, superabundou a graça”.
(Romanos 5:20). Mas antes alertou os “desavisados”: “Todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus”. (Romanos
3:23).
Quando
nossa razão é tomada pela consciência de gratidão à Graça de Deus, começamos a
compreender que um pedido de obrigado e um sentimento de dívida – a qual nunca
conseguiremos, por maior que sejam nossos esforços, retribuir - são pobres
diante dela. Vemos então que a manifestação da Graça de Deus possui algumas implicações
na vida do agraciado. Todas elas, entretanto, convergem no elemento obediência.
O
sentido bíblico de pecado, em suma, é errar
o alvo. Que alvo, no entanto, é este? O proposto ao ser humano desde a
gênese de sua criação. Podemos concluir então que as nossas ações de graças a Deus consistem em voltarmos a
trilhar rumo a este alvo e nele permanecer conforme o apóstolo Paulo adverte: “Prossigo o alvo para o prêmio da soberana
vocação de Deus em Cristo Jesus”. (Filipenses 3:14). O escritor aos Hebreus
também alerta: “E todos nós, rodeados por
tão grande nuvem de testemunhas, livrando-nos de todo desembaraço e do pecado
que tenazmente nos assedia, corramos com perseverança a carreira que nos está
proposta”. (Hebreus 12:1).
Esta
obediência que caracteriza as nossas ações
de graças a Deus, no entanto, não possui um caráter de obrigatoriedade,
tampouco de temor à penalidade da transgressão. Mas na gratidão pavimentada
pelo amor, assim como a Graça de Deus foi fruto de Seu amor por nós. Amor que o
apóstolo João elucidou: “Nisto consiste o
amor de Deus, não que o tenhamos amado, mas ele nos amou e deu seu filho como
propiciação pelos nossos pecados”. (I João 4:10).
Era isso que o apóstolo Paulo quis dizer quando afirmou que não vivemos mais
debaixo do jugo da Lei, mas na Graça de Deus (Romanos 6:14). O conceito de amor no A.T possui o caráter de mandamento, e não
propriamente de sentimento. Em Deuteronômio 6:4-5, o trecho conhecido como Shemá, Moisés declara: “Ouve, ó Israel, o que o Senhor vosso Deus
vos fala. Amarás o Senhor teu Deus de todo o coração, de toda alma e com todo
entendimento”. Mandamento que Jesus cita em sua discussão com os saduceus
registrada no Evangelho segundo Mateus 22:37.
Um dos alvos propostos por
Deus a nós é descrito pelo apóstolo Paulo: “Para
que sejais irrepreensíveis e puros, filhos de Deus inculpáveis, no meio de uma
geração corrompida e perversa, entre a qual resplandeceis como estrelas no
mundo”. (Filipenses 2:15). Ou seja, sermos irrepreensíveis e puros e neste
mesmo mote fazermos com que as pessoas que Deus coloca em nossas mãos, sejam
filhos, alunos ou discípulos, também sejam. Conforme o apóstolo Paulo afirma: “A ardente expectativa da criação aguarda
pela manifestação dos filhos de Deus”. (Romanos 8:19). Para exercermos esta obediência há um
método infalível deixado a nós como legado pelo próprio Jesus: o fazer e
ensinar. Isto é ações de graças.
Não deixe de ler: Fazer e ensinar
Sermão ministrado no culto de ação de graças do IAVEC no dia 12/12/12
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