sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Santificação favorável


Outra vez a mesma “ladainha”: sucumbi diante do pecado da imoralidade. Meus olhos contemplaram o ilícito. Jesus denomina tal ação de adultério (Evangelho segundo Mateus 5:28).

A tristeza foi súbita. Prostrei-me em arrependimento e supliquei o perdão de Deus. Às 03h40min do dia 22/12/12 – isso mesmo, o mundo não acabou – procuro descrever o sentimento que brotou em minha mente e em meu coração enquanto tentava – em vão – dormir após meu pedido de perdão.

Lembrei-me do seguinte trecho da oração sacerdotal de Jesus: “Em favor deles (discípulos) eu me santifico, para que também eles sejam santificados pela verdade”. (Evangelho segundo João 17:19). Em sequência, veio à minha mente o sermão que compartilhei no culto de Ação de Graças do IAVEC, no dia 12/12/12 (Não, não acredito em nenhuma espécie de numerologia em relação a esta data): nossa obediência a Deus, síntese de nossa ação de graças, consiste em sermos “puros e irrepreensíveis, filhos de Deus em meio de uma geração perversa”. (Filipenses 2:15).

Note que nesta elucidação do apóstolo Paulo está implícito o fato de sermos referenciais para outros, à semelhança da advertência do próprio Paulo aos cristãos em coríntios: “Sede meus imitadores como eu sou de Cristo Jesus” (I Coríntios 11:1).

Responsabilidade dobrada. A ordem de ser e fazer discípulos é completa por si só (Evangelho segundo Mateus 28:19). Seu cumprimento pleno, no entanto, consiste em um processo árduo e paulatino. O “fruto” colhido “verde” é amargo. Já a sua maturação leva tempo. Não entreguemos “frutos” amargos – sem se submeterem a todo o processo de um discipulado duradouro e eficaz – como oferta a Deus. (Não deixe de ler o texto: Fruto ou folha).

Amo ser professor de ensino religioso e capelão escolar. A oportunidade de ensinar a Palavra de Deus aos alunos, de modo que eles sejam formados no caráter de Cristo, é formidável. Mas o único método que culminará no pleno êxito é o do Fazer e ensinar. Sendo assim, a minha conduta fora das salas de aula e de aconselhamento conta, e muito.

Por isso, a observação ao trecho da oração de Jesus que é objeto de nossa reflexão é imprescindível. Quando a tentação vem contra nós, – e ela é insistente e perseverante, ou melhor, teimosa, acredite! – devemos nos lembrar, sempre, de nos santificarmos por aqueles que Deus nos confiou: filhos, alunos e discípulos. Para quê? Conforme Jesus preconizou: “... para que também eles sejam santificados pela verdade”.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

"Psicose" necessária


Matheus Viana

“Jesus, porém, ouvindo, disse-lhes: Não necessitam de médico os sãos, mas, sim os doentes.” (Evangelho segundo Mateus 9:12).

Afirmação um tanto óbvia. Mas, acredite: ela também é alvo de relativização. Explico. O fato de um indivíduo crer e servir a Deus, desde o advento do iluminismo, é considerado uma espécie de patologia intelectual ou emocional. Sigmund Freud, embora não escondesse sua admiração pelo apóstolo Paulo, classificava toda experiência religiosa – como a que Paulo tivera a caminho de Damasco (representada na imagem acima) – como “psicose alucinógena”.

Este mesmo diagnóstico é considerado, ainda hoje, por psicanalistas. Intrigante. Pois são muitos os casos de infratores da lei que foram “vítimas de psicose alucinógena” e deixaram de cometer crimes, fazendo as pazes com a justiça. São muitos os casos de maridos agressores que, após “sofrerem” desta “psicose”, tornaram-se verdadeiros cavalheiros para com suas respectivas esposas. Outros que abandonaram as drogas, o sexo ilícito, entre outras condutas. Enfim, pessoas que faziam todo tipo de mal e passaram, após se tornarem “psicóticos” de acordo com a psicanálise freudiana, a fazer o bem oposto. Sou testemunha de casos assim.

Imaginemos o planeta Terra tomado por “psicóticos” que, conforme Jesus preconizou, amam os seus inimigos, consideram o próximo ao invés de si mesmos, socorrem os pobres, os órfãos e as viúvas; pais que amam e cuidam de seus filhos e filhos que amam e honram seus pais; maridos que amam e respeitam suas esposas e vice-versa.

Sim, a história é repleta de barbáries cometidas por insanos que usaram o nome de Deus e o poder das religiões para satisfazer seus próprios interesses. O que dizer das Cruzadas? Muito sangue foi derramado em favor de Papas e do enriquecimento da Igreja Católica Apostólica Romana. Milhares morreram e, ainda hoje, morrem no conflito étnico-religioso deflagrado no Oriente Médio entre israelenses e palestinos. Não nos esqueçamos do fundamentalismo muçulmano com todo seu arsenal de terror, tampouco do charlatanismo “evangélico” e de seu mercado da fé.

Tais fatos não são provenientes de uma genuína “experiência religiosa”, mas do uso indevido do fundamentalismo religioso institucional como escudo ideológico em prol de cobiças escusas. Não é esta, definitivamente, a experiência que Jesus propôs à humanidade. Quando fez a afirmação citada como epígrafe deste texto, Jesus estava na casa de um publicano chamado Mateus, comendo junto a pecadores.

Publicanos eram considerados traidores. E os pecadores, impuros para a cúpula religiosa judaica, fonte de segregação social. Mas, como disse, a proposta “psicótica” de Jesus é diferente. Ela visa alcançar todo tipo de pessoa para transformá-la, a fim de que toda sua realidade seja mudada, e para melhor. Claro que tal mudança não implica na ausência de dificuldades. Porém, a vitória sobre cada uma delas é certa. Não é a toa que o “pensador psicótico”, Paulo de Tarso, preconizou: “Em tudo somos mais do que vencedores, por meio daquele que nos amou”. (Romanos 8:37). E o próprio Jesus declara: “No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, pois eu venci o mundo”. (Evangelho segundo João 16:33).

Finalizo esta breve reflexão com outra afirmação do apóstolo Paulo: "Pois a mensagem da cruz é loucura (psicose) para os que perecem, mas para os que são salvos, o poder de Deus". (I Coríntios 1:18). Qual lado você escolhe? Eu já escolhi: o dos "psicóticos".

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Ações de graças

O Salmo 100:4 nos propõe: “Entrai pelas portas do Senhor com ações de graças”. Ao ouvirmos a expressão ações de graças, de maneira óbvia pensamos em gratidão. No entanto, com um caráter passivo, cuja síntese se expressa no pedido de obrigado. Depois, surge em nossa alma o senso de dívida de gratidão, um sentimento de retribuirmos o favor recebido.

Mas as ações de graças que o salmista nos propõe vão além de um mero pedido de obrigado e também da responsabilidade da dívida, embora ambos sejam válidos e consideráveis. Sim, Deus espera que de nossos lábios fluam a nossa gratidão a Ele, desde que seja fruto de um coração verdadeiramente grato. Pois, conforme Jesus preconiza: “A boca fala do que está cheio o coração” (Evangelho segundo Mateus 12:34, 15:18). O apóstolo Paulo, em sua carta aos romanos, disse que era devedor para com os judeus, aos gentios e aos bárbaros (Romanos 1:14).

Contudo, em que, afinal, consistem estas ações de graças? O primeiro passo para a resposta é compreendermos a magnitude da Graça que Deus nos concedeu. Pois ações de graças nada mais são do que nossa resposta a Ela. Portanto, como o próprio nome já diz, nossa gratidão a Deus consiste em atitudes, ações.

Temos muito para agradecer. Jeremias sintetiza a Graça de Deus ao ser humano quando diz: “As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos”. (Lamentações 3:22). O fato de acordarmos todas as manhãs é, por si só, motivo de gratidão. Há muitos motivos para serem citados, mas não quero parecer piegas. Todas elas são desdobramentos do fato de que Jesus tomou sobre si a pena de morte que deveria ser aplicada a nós em detrimento de nossos pecados. Por isso o apóstolo Paulo elucida: “Onde abundou o pecado, superabundou a graça”. (Romanos 5:20). Mas antes alertou os “desavisados”: “Todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus”. (Romanos 3:23).

Quando nossa razão é tomada pela consciência de gratidão à Graça de Deus, começamos a compreender que um pedido de obrigado e um sentimento de dívida – a qual nunca conseguiremos, por maior que sejam nossos esforços, retribuir - são pobres diante dela. Vemos então que a manifestação da Graça de Deus possui algumas implicações na vida do agraciado. Todas elas, entretanto, convergem no elemento obediência.

O sentido bíblico de pecado, em suma, é errar o alvo. Que alvo, no entanto, é este? O proposto ao ser humano desde a gênese de sua criação. Podemos concluir então que as nossas ações de graças a Deus consistem em voltarmos a trilhar rumo a este alvo e nele permanecer conforme o apóstolo Paulo adverte: “Prossigo o alvo para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus”. (Filipenses 3:14). O escritor aos Hebreus também alerta: “E todos nós, rodeados por tão grande nuvem de testemunhas, livrando-nos de todo desembaraço e do pecado que tenazmente nos assedia, corramos com perseverança a carreira que nos está proposta”. (Hebreus 12:1).

Esta obediência que caracteriza as nossas ações de graças a Deus, no entanto, não possui um caráter de obrigatoriedade, tampouco de temor à penalidade da transgressão. Mas na gratidão pavimentada pelo amor, assim como a Graça de Deus foi fruto de Seu amor por nós. Amor que o apóstolo João elucidou: “Nisto consiste o amor de Deus, não que o tenhamos amado, mas ele nos amou e deu seu filho como propiciação pelos nossos pecados”. (I João 4:10).

Era isso que o apóstolo Paulo quis dizer quando afirmou que não vivemos mais debaixo do jugo da Lei, mas na Graça de Deus (Romanos 6:14). O conceito de amor no A.T possui o caráter de mandamento, e não propriamente de sentimento. Em Deuteronômio 6:4-5, o trecho conhecido como Shemá, Moisés declara: “Ouve, ó Israel, o que o Senhor vosso Deus vos fala. Amarás o Senhor teu Deus de todo o coração, de toda alma e com todo entendimento”. Mandamento que Jesus cita em sua discussão com os saduceus registrada no Evangelho segundo Mateus 22:37.

Um dos alvos propostos por Deus a nós é descrito pelo apóstolo Paulo: “Para que sejais irrepreensíveis e puros, filhos de Deus inculpáveis, no meio de uma geração corrompida e perversa, entre a qual resplandeceis como estrelas no mundo”. (Filipenses 2:15). Ou seja, sermos irrepreensíveis e puros e neste mesmo mote fazermos com que as pessoas que Deus coloca em nossas mãos, sejam filhos, alunos ou discípulos, também sejam. Conforme o apóstolo Paulo afirma: “A ardente expectativa da criação aguarda pela manifestação dos filhos de Deus”. (Romanos 8:19). Para exercermos esta obediência há um método infalível deixado a nós como legado pelo próprio Jesus: o fazer e ensinar. Isto é ações de graças.


Não deixe de ler: Fazer e ensinar

Sermão ministrado no culto de ação de graças do IAVEC no dia 12/12/12