segunda-feira, 12 de novembro de 2012

A outra face da verdade


Matheus Viana

Apesar de refutar as teorias de Nietzsche, concordo – em um contexto diferente, é claro – com a sua ideia sobre a busca pela verdade. Em seu livro Além do bem e do mal, além de criticar os filósofos de sua época, elucida o fato de que para descobrirmos a verdade plena sobre algo, temos que ir além dela.

É semelhante aos nos depararmos com um tapete ilustrado manualmente. A imagem pode ser bela. Contudo, é sustentada pelo seu avesso que não é belo. Mas tanto a frente quanto o verso constituem a verdade sobre a imagem. Sendo assim, quando contemplamos apenas a frente do referido tapete, temos contato com apenas parte de sua verdade.

Platão afirmava que o conhecimento da verdade não poderia ser pleno apenas com o uso dos sentidos. Mas somente quando o nosso contato com o mundo através dos sentidos – chamado de "mundo sensitivo" primeiramente por Parmênides e depois por Platão – fosse submetido ao crivo da razão. O jargão jornalístico preconiza: “Toda história tem dois lados”. Ela se aplica a todo ser humano. Por isso é imprescindível a parceria entre a fé e razão/Deus e o homem na completa compreensão das Escrituras.

O sábio Salomão orienta: “Confie no Senhor de todo o seu coração e não se apóie em seu próprio entendimento” (Provérbios 3:5). No entanto, Jesus declarou aos saduceus: “Errais por não conhecerem as Escrituras, nem o poder de Deus” (Evangelho segundo Mateus 22:29). Como? Os saduceus eram intérpretes da Lei mosaica. Conheciam as Escrituras... Não, não conheciam. Tinham apenas o conhecimento de um lado da verdade: a do entendimento humano. O conhecimento teórico das Escrituras sem a intervenção do poder de Deus é morto, conforme o apóstolo Paulo afirma: “A palavra por si só mata, mas o Espírito vivifica” (II Coríntios 3:6).

No entanto, a ação do Espírito Santo não anula, de forma alguma, a importância da razão humana. Jesus fez a seguinte promessa: “Mas o consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, vos ajudará, vos ensinará e vos fará lembrar de tudo o que tenho dito” (Evangelho segundo João 14:26). Reflita! Conforme as palavras de Jesus, o Espírito Santo, chamado de Consolador, nos guiará a toda verdade (Evangelho segundo João 16:13).

A expressão “consolador” que aparece no original grego é parakletos: para – ao lado; e kletós – chamado, convocado. Ou seja, o Espírito Santo é convocado por Deus para estar ao nosso lado agindo em aspectos concernentes ao intelecto humano: ensinar e nos lembrar dos ensinamentos de Jesus. Isso mesmo! A ação sobrenatural do Espírito Santo possui conotação intelectual. É a parceria do Consolador com a razão humana. Não se trata de racionalização da fé, mas do uso de algo que Deus concedeu ao ser humano quando o criou: capacidade de pensar submissa à ação de Seu Espírito. Pois é Ele quem perscruta as profundezas da mente de Deus e nos revela (I Coríntios 2:11).

Sendo assim, as profecias bíblicas são constituídas de verdades complementares. Para testificar tal afirmação, analisaremos o texto de Gênesis 3:15: “Porei inimizade entre você e a mulher, entre a sua descendência e o descendente dela; este lhe ferirá a cabeça e você lhe ferirá o calcanhar”.

De acordo com alguns teólogos, o primeiro elemento que representa o cumprimento desta profecia é a morte na cruz ao qual Jesus se submeteu para salvar o homem de seu pecado e restaurá-lo de sua queda (Filipenses 2:8-9). O apóstolo João declarou: “Para isso se manifestou o Filho de Deus, para destruir as obras do maligno” (I João 3:8). Milênios antes, Isaías profetizou: “Pelas suas pisaduras, fomos sarados... O castigo que nos traz a paz estava sobre ele” (Isaías 53:4-6). É evidente que a narrativa de Isaías é sobre o sofrimento e a agonia de Jesus na cruz. Sua morte representou, temporariamente, o ferimento da serpente em Seu calcanhar. Mas, ao mesmo tempo, representou Sua vitória sobre ela.

No entanto, esta vitória não se concretizou na cruz. Sim, Jesus fez a parte Dele ao proclamar: “Está consumado”. (Evangelho segundo João 19:30). Não há o que completar. Ela apenas precisa ser estabelecida em sua plenitude. E será através da Igreja. É aqui que entra em cena o segundo elemento da profecia. Por isso Jesus disse a Pedro: “Tu és Pedro, e nesta pedra eu edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Evangelho segundo Mateus 16:18).

O nome “Pedro” no original grego é Petrus, que significa “pequena pedra”, equivalente ao nome aramaico Céfas. Já a “pedra” ao qual Jesus citou que Sua Igreja seria edificada não era Petrus, mas a Petra – rocha ou grande pedra – que se refere ao próprio Jesus que, conforme o apóstolo Paulo afirma, é a Pedra angular da Igreja (Efésios 2:20-21).

O apóstolo Paulo também afirma: “Em breve, o Deus da paz esmagará Satanás debaixo dos vossos pés” (Romanos 16:20). Vemos aqui que não será a Igreja, propriamente dita, que pisará a cabeça da serpente. Mas sim o próprio Jesus através dela. Pois este “Deus da paz” citado por Paulo é, conforme o texto de Isaías 9:6, o próprio Jesus, o descendente de Eva. O fato da serpente ferir o calcanhar do descendente de Eva representa também a perseguição da Igreja desde o seu nascimento em Pentecostes. Por isso Jesus, através do apóstolo João, alerta Sua Igreja no tocante à severa perseguição e promete que aquele que permanecer fiel até o fim receberá a coroa da vida (Apocalipse 2:10).

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