Matheus
Viana
Apesar
de refutar as teorias de Nietzsche, concordo – em um contexto diferente, é
claro – com a sua ideia sobre a busca pela verdade. Em seu livro Além do bem e do mal, além de criticar
os filósofos de sua época, elucida o fato de que para descobrirmos a verdade
plena sobre algo, temos que ir além dela.
É
semelhante aos nos depararmos com um tapete ilustrado manualmente. A imagem pode
ser bela. Contudo, é sustentada pelo seu avesso que não é belo. Mas tanto a
frente quanto o verso constituem a verdade sobre a imagem. Sendo assim, quando
contemplamos apenas a frente do referido tapete, temos contato com apenas parte
de sua verdade.
Platão
afirmava que o conhecimento da verdade não poderia ser pleno apenas com o uso
dos sentidos. Mas somente quando o nosso contato com o mundo através dos
sentidos – chamado de "mundo sensitivo" primeiramente por Parmênides e depois por
Platão – fosse submetido ao crivo da razão. O jargão jornalístico preconiza: “Toda
história tem dois lados”. Ela se aplica a todo ser humano. Por isso é
imprescindível a parceria entre a fé e razão/Deus e o homem na completa
compreensão das Escrituras.
O
sábio Salomão orienta: “Confie no Senhor
de todo o seu coração e não se apóie em seu próprio entendimento”
(Provérbios 3:5). No entanto, Jesus declarou aos saduceus: “Errais por não conhecerem as Escrituras, nem o poder de Deus”
(Evangelho segundo Mateus 22:29). Como? Os saduceus eram intérpretes da Lei
mosaica. Conheciam as Escrituras... Não, não conheciam. Tinham apenas o conhecimento
de um lado da verdade: a do entendimento humano. O conhecimento teórico das
Escrituras sem a intervenção do poder de Deus é morto, conforme o apóstolo
Paulo afirma: “A palavra por si só mata,
mas o Espírito vivifica” (II Coríntios 3:6).
No
entanto, a ação do Espírito Santo não anula, de forma alguma, a importância da
razão humana. Jesus fez a seguinte promessa: “Mas o consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome,
vos ajudará, vos ensinará e vos fará lembrar de tudo o que tenho dito”
(Evangelho segundo João 14:26). Reflita! Conforme as palavras de Jesus, o
Espírito Santo, chamado de Consolador, nos guiará a toda verdade (Evangelho
segundo João 16:13).
A
expressão “consolador” que aparece no original grego é parakletos: para – ao lado;
e kletós – chamado, convocado. Ou seja, o Espírito Santo é convocado por Deus
para estar ao nosso lado agindo em aspectos concernentes ao intelecto humano: ensinar
e nos lembrar dos ensinamentos de Jesus. Isso mesmo! A ação sobrenatural do
Espírito Santo possui conotação intelectual. É a parceria do Consolador com a
razão humana. Não se trata de racionalização da fé, mas do uso de algo que Deus
concedeu ao ser humano quando o criou: capacidade de pensar submissa à ação de
Seu Espírito. Pois é Ele quem perscruta as profundezas da mente de Deus e nos
revela (I Coríntios 2:11).
Sendo
assim, as profecias bíblicas são constituídas de verdades complementares. Para
testificar tal afirmação, analisaremos o texto de Gênesis 3:15: “Porei inimizade entre você e a mulher,
entre a sua descendência e o descendente dela; este lhe ferirá a cabeça e você
lhe ferirá o calcanhar”.
De
acordo com alguns teólogos, o primeiro elemento que representa o cumprimento
desta profecia é a morte na cruz ao qual Jesus se submeteu para salvar o homem
de seu pecado e restaurá-lo de sua queda (Filipenses 2:8-9). O apóstolo João
declarou: “Para isso se manifestou o
Filho de Deus, para destruir as obras do maligno” (I João 3:8). Milênios
antes, Isaías profetizou: “Pelas suas
pisaduras, fomos sarados... O castigo que nos traz a paz estava sobre ele”
(Isaías 53:4-6). É evidente que a narrativa de Isaías é sobre o sofrimento e a
agonia de Jesus na cruz. Sua morte representou, temporariamente, o
ferimento da serpente em Seu calcanhar. Mas, ao mesmo tempo,
representou Sua vitória sobre ela.
No
entanto, esta vitória não se concretizou na cruz. Sim, Jesus fez a parte Dele
ao proclamar: “Está consumado”.
(Evangelho segundo João 19:30). Não há o que completar. Ela apenas precisa ser
estabelecida em sua plenitude. E será através da Igreja. É aqui que entra em
cena o segundo elemento da profecia. Por isso Jesus disse a Pedro: “Tu és Pedro, e nesta pedra eu edificarei a
minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”
(Evangelho segundo Mateus 16:18).
O
nome “Pedro” no original grego é Petrus, que significa “pequena pedra”,
equivalente ao nome aramaico Céfas. Já a “pedra” ao qual Jesus citou que Sua
Igreja seria edificada não era Petrus,
mas a Petra – rocha ou grande pedra –
que se refere ao próprio Jesus que, conforme o apóstolo Paulo afirma, é a Pedra
angular da Igreja (Efésios 2:20-21).
O apóstolo Paulo também
afirma: “Em breve, o Deus da paz esmagará
Satanás debaixo dos vossos pés” (Romanos 16:20). Vemos aqui que não será a
Igreja, propriamente dita, que pisará a cabeça da serpente. Mas sim o próprio
Jesus através dela. Pois este “Deus da paz” citado por Paulo é, conforme o
texto de Isaías 9:6, o próprio Jesus, o descendente de Eva. O fato da serpente ferir
o calcanhar do descendente de Eva representa também a perseguição da Igreja
desde o seu nascimento em Pentecostes. Por isso Jesus, através do apóstolo
João, alerta Sua Igreja no tocante à severa perseguição e promete que aquele
que permanecer fiel até o fim receberá a coroa da vida (Apocalipse 2:10).
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