Matheus
Viana
Na
tentativa de definir a essência do ser humano, Descartes teorizou o chamado cogito, onde dizia que o ser humano é essencialmente razão, ou seja, pensamento. Por sua vez, Kant definiu o ser humano como um ser cognoscente, que conhece e pode ser conhecido
e explicado, cuja essência é a razão que, segundo ele, é o conjunto entre o pensar e o uso dos sentidos através
da experiência.
Já
Schopenhauer definiu o ser humano como um ser
desejante, cuja essência é vontade. O filósofo foi além: afirmava que o
mundo nada mais é do que a representação da vontade. Para ele, o mundo existe
por causa dos fenômenos e objetos. E estes existem como desdobramentos da
vontade. Na esteira, Nietzsche definiu o ser humano como um ser dominante, cuja vontade, elucidada por
Schopenhauer como vontade de viver, é
a vontade de poder. É neste contexto
que Nietzsche define a moral nobre – egoísta, pautada na ação – e a moral
escrava – não-egoísta, pautada na não-ação.
A afirmação de Schopenhauer, apesar de contestável, é a mais próxima, das citadas acima, da elucidação do apóstolo Paulo: “O
primeiro Adão foi feito alma (psique) vivente. Já o segundo Adão, Espírito vivificante”.
(I Coríntios 15:45).
O
ser humano se tornou “alma vivente” por receber o fôlego de vida de Seu Criador (Gênesis 2:7). Embora o termo hebraico nefesh seja traduzido como psique para o grego (Septuaginta) e anima para o latin (Vulgata), ele não carrega apenas o sentido de alma que conhecemos. Pois, para um judeu, nefesh é o ser humano integral. O apóstolo Paulo, ao usar o termo psique, trouxe o conceito judaico do termo, mas também abordou o conceito grego de alma, que é o interior do homem, cuja razão é soberana por ser ela capaz de obter aquilo que Platão, por exemplo, considerava o supremo bem: a sabedoria. Em síntese seria a capacidade de pensar, sentir, desejar e escolher que Deus conferiu ao homem.
Sua vontade, juntamente com a capacidade de pensar, era resultante do que era em essência: à imagem e conforme a semelhança de Deus. Algo interior que refletia em seu exterior. Por isso, ele pensava e desejava conforme o propósito de Deus. Consequentemente, agia segundo Seus preceitos. Portanto, a vontade humana era produto da razão - que era resultante da essência - e não a própria essência, conforme afirmou Schopenhauer.
Sua vontade, juntamente com a capacidade de pensar, era resultante do que era em essência: à imagem e conforme a semelhança de Deus. Algo interior que refletia em seu exterior. Por isso, ele pensava e desejava conforme o propósito de Deus. Consequentemente, agia segundo Seus preceitos. Portanto, a vontade humana era produto da razão - que era resultante da essência - e não a própria essência, conforme afirmou Schopenhauer.
Mas a razão
(forma de pensar) humana foi subvertida ao absorver o
engano da serpente. Por isso, o ser humano passou a cobiçar o ilícito e
tornou-se um desobediente em potencial (Gênesis 3:5). Seu ser (essência) passou
a ser determinado pela vontade (cobiça) de tomar posse de algo proibido e
nocivo. No entanto, a vontade veio como efeito colateral de uma razão
deturpada. O ato da desobediência, por sua vez, foi mera consequência. E ela
trouxe a consciência do bem e do mal.
Schopenhauer, apesar de alguns equívocos, acerta quando sua filosofia se equipara com a alteração consequente
da desobediência. O ato da desobediência foi produto da vontade humana que, por sua vez, foi produto de sua razão. Ou seja, a conduta do primeiro Adão foi pautada pela sua alma (pensamento e desejo). Portanto, o apóstolo Paulo elucida sobre a
diferença entre instinto (impulso) e vontade quando diz: “O mal que não quero, faço, e o bem que quero, eu não faço”. (Romanos
7:19).
A
desobediência degradou a natureza – essência – humana. Por isso, podemos afirmar que nossa
conduta, muitas vezes, é pautada pelo instinto em detrimento da vontade e também da razão.
Mesmo não querendo, cometemos o que é mal por conta do conhecimento obtido
indevidamente no Éden. E o bem a qual temos vontade de realizar, por conta dos impulsos
degradados, não conseguimos. Portanto, a essência humana – desprovida da divina
– é, de acordo com o apóstolo Paulo, instinto, e não vontade. Faltou a Schopenhauer apenas distinguir uma da
outra.
Mas
o segundo Adão, Jesus, reverteu esta drástica situação. Renunciou sua vontade
por pensar de acordo com os desígnios de Deus (Evangelho segundo Mateus 26:39).
Pois, além de ser homem, Jesus também era - e é - Deus (Colossenses 1:15). Por
ser Deus (essência), pensou como Deus – ao ponto de renunciar sua vontade
humana – e agiu conforme o plano predestinado desde antes da fundação do mundo
(Apocalipse 13:8).
Fez isso para que nossa
essência volte a ser a mesma do homem no princípio: à imagem e semelhança de Deus
(Romanos 8:29). E que nossa conduta seja pautada não mais pela alma (vontade humana), mas pelo Espírito
vivificante, a essência de Deus, Seu fôlego de vida, em nós.
Não deixe de ler: Cobiça x necessidade
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