Adquirir sabedoria
envolve um processo que se dá em três partes: obtenção da informação
(conhecimento), exercício do intelecto (inteligência para processar o
conhecimento obtido) e a sabedoria propriamente dita que consiste em aplicar o
conteúdo obtido, de forma prática, em seu cotidiano.
Matheus
Viana
Não
podemos extrair do tema “educação” o preceito “de geração para geração”. Em
todo o Antigo Testamento, Deus se mostra zeloso no tocante ao ensinar à geração
posterior Sua lei para que se tornasse “Estatuto perpétuo”. Não é em vão que o
sábio Salomão advertiu: “Ensina a criança
o caminho em que deve andar, para que quando for velho não se desvie dele”
(Provérbios 22:6). E Esdras, o escriba, declarou: “Guardo
no meu coração a Tua Lei para não pecar contra Ti” (Salmos 119:11).
Além
disso, teóricos da educação como Jean Piaget e Lev Vygotsky, entre outros, preconizam
que o papel dos pais é crucial no desenvolvimento moral e acadêmico da criança.
Mas uma verdade deve ser constatada e observada: os papeis dos pais e dos
professores neste processo ainda não são plenamente definidos, por isso se
confundem, o que compromete a tão necessária sinergia entre eles.
Como
professor, tenho visto um grande número de pais que transferem suas
responsabilidades aos professores e cobram dos mesmos o que eles, pais, devem
fazer em prol da educação de seus filhos. Pior, muitos destes pais criticam e
prejudicam o trabalho desenvolvido na escola em prol de seus filhos.
A
criança mais extraordinária que passou pela Terra, Jesus, conforme a narrativa
de Lucas, cresceu em sabedoria, estatura e graça diante de Deus e dos homens
(Evangelho segundo Lucas 2:52). É papel dos pais e dos professores fazer com
que as crianças e adolescentes aos quais temos acesso experimentem este
desenvolvimento.
No
entanto, adquirir sabedoria envolve um processo que se dá em três partes:
obtenção da informação, exercício do intelecto (inteligência
para processar o conteúdo obtido, transformando-o em conhecimento) e a sabedoria propriamente dita que
consiste em aplicar tal conhecimento, de forma prática, em seu cotidiano. Há
um amplo arcabouço filosófico, histórico e psicológico que pode – e deve – ser
discutido e aplicado. Mas não é, pelo menos por enquanto, a nossa proposta. É
preciso, antes de tudo, diagnosticar os males para solucioná-los da maneira
mais otimizada possível.
É
justamente na obtenção da informação que temos o que chamamos de
“gargalo”. Ou seja, uma falha no processo que compromete seu todo. Devido ao
“boom” tecnológico, crianças e adolescentes são acometidas por um contexto em
que a informação é excessiva e rápida, e que não ignora o elemento “futilidade”.
Por isso, sua obtenção não exige o pensamento, apenas o saber manusear os
diferentes e atrativos meios de comunicação como celulares, tablets, notebooks,
entre outras parafernálias. O que, com o passar do tempo, torna-se algo
mecânico, vicioso, puramente “taylorista”. A consequente alienação,
infelizmente, é inevitável...
É
incoerente negar os benefícios decorrentes do avanço tecnológico. Mas ocultar
seus malefícios é tanto quanto. O fato de que temos nos deparado com crianças
alienadas e com dificuldade de pensar e processar o conteúdo adquirido é,
apesar de triste, real. E, por que não dizer, preocupante? A origem de tal
problema é justamente na obtenção da informação. Platão fazia a distinção entre
mundo sensitivo (uso dos sentidos) e mundo inteligível (uso da razão,
intelecto). Por isso, dizia que para obter o conhecimento (verdade) de forma
satisfatória, o uso dos sentidos não é suficiente. A experiência com o mundo e
com o conhecimento através dos sentidos (que mais tarde vai receber o nome de
empirismo) deve passar pelo crivo e regência da razão. É justamente este o
ponto da defasagem: estamos diante de uma geração com extrema dificuldade de
pensar.
Esta
interatividade é capaz de determinar a identidade do usuário. Certa vez
perguntei para um aluno como seria sua vida sem um aparelho celular. Ele
respondeu sem pestanejar: “Simplesmente não existo”. Na adolescência – que a
cada dia que passa torna-se mais precoce – o indivíduo tem extrema necessidade
de sentir-se aceito pelo grupo social onde convive. Por isso, quer moldar sua
personalidade (identidade) de modo que seja aceito. Aqui reside um grande
conflito. Sua personalidade, por conta desta necessidade de aceitação, não será
determinada somente pelos seus desejos interiores, mas pela opinião de seu
grupo social. E esta opinião é, em grande parte, determinada pela
mídia de forma geral.
É
neste momento que os pais encontram dificuldades em fazer com que os filhos
absorvam os princípios por eles emitidos e ensinados através de exemplos
decorrentes da educação “de geração para geração”. Alguns, no entanto, não os
transmitem por não terem recebido na infância ou por pura leniência. Deixam os
corações de seus filhos vazios, suscetíveis a todo tipo de informação e
conceitos que a mídia dissemina à exaustão. Moldados por estes conceitos, os
filhos tornam-se problemáticos. Com isso, a tendência dos pais, ao invés de
reconhecerem suas ausências, é de colocarem toda a culpa na escola.
Sem
invadir o papel dos pais, os professores devem deixar de atuar apenas no nível
acadêmico e permear o social, o moral/comportamental e, principalmente, o
espiritual a fim de que a criança e o adolescente encontrem sua verdadeira
identidade. A psicologia afirma que todo ser humano tem necessidade de ter um
referencial. Verdade inquestionável. Tal necessidade é reflexo de que fomos
formados por um referencial, um modelo. Como sabemos, este modelo é Jesus, a
imagem do Deus invisível (Colossenses 1:15).
O pastor e sociólogo
Ariovaldo Ramos afirma: “Jesus é o que Deus é e o que todo ser humano deve
ser”. O apóstolo Paulo expressou o desejo de Deus de que vivamos à imagem e
semelhança de Jesus (Romanos 8:29, Efésios 4:13). Portanto, é missão dos pais e
professores, cada um cumprindo seu devido papel, proporcionar este conhecimento
à criança e ao adolescente. Na esteira do conselho de Sócrates: “Conhece-te a
ti mesmo!”, eles conhecerão, assim como nós, a verdadeira identidade quando conhecerem
quem Jesus, o Deus encarnado, o Primogênito, é.