Matheus Viana
Jesus
Cristo é a essência do Cristianismo. Óbvio ignorado por muitos, o que tem corroborado para
a derrocada do Evangelho. A restauração rumo ao verdadeiro Cristianismo acontece
na medida em que a revelação de quem Cristo É torna-se evidente (Cf. Colossenses
1:27-28, 2:2). E isto se dá através das Escrituras (Evangelho segundo João
5:39).
Mas
outro fator que deve ser considerado é o nosso entendimento no tocante às
Escrituras. Nossa mente não é, por si só, capaz de compreendê-las. Por isso é
necessária sua renovação a fim de realizarmos o culto racional (Romanos 12:1-2) instituído desde o ato da Criação.
O
apóstolo João narra um episódio protagonizado por Jesus que retrata esta
realidade (Cf. João 9:1-12). Certa vez Ele viu um cego de nascença. Cego.
Atributo que não pode passar despercebido. A narrativa não descreve nenhuma
outra característica deste homem. Sua cegueira, de certa forma, era marca
principal de sua identidade.
Cegueira na Bíblia fala de
entendimento obscurecido. O apóstolo Paulo elucidou: “Porque o Deus deste século cegou
o entendimento das pessoas, a fim de que não lhes resplandeça a luz do Evangelho.” (II Coríntios
4:4 – Ênfase acrescentada). Esta luz do
Evangelho é o próprio Cristo. Esta afirmação está fundamentada no princípio
elucidado pelo salmista que afirmou: “Lâmpada
para os meus pés e luz para os meus caminhos é a Tua Palavra, ó Senhor.” (Salmos
119:105). Por sua vez, o apóstolo João, algumas décadas depois de Paulo, reiterou que
Esta Palavra, a mesma que gerou a Luz criadora de todas as coisas (Gênesis 1:3),
é o próprio Jesus (Evangelho segundo João 1:1-3). Como podemos ver, esta era a
tônica da doutrina apostólica.
No
entanto, nascemos em pecado (Cf. Salmos 51:5, Romanos 5:12), o que nos faz nascer com
a mente degradada. Este entendimento incompleto e incorreto, e também o fato de
que nosso coração é enganoso e desesperadamente corrupto são importantes
entraves que nos impedem de conhecermos, de fato, quem Jesus foi, é e será (Cf.
Hebreus 13:8) através das Escrituras.
O
apostolo Paulo preconizou: “Destruímos
argumentos e toda pretensão que se levante contra o conhecimento de Deus, e
levamos cativo todo pensamento, para torna-lo obediente a Cristo.” (II
Coríntios 10:5). Esta pretensão nada
mais é do que o orgulho humano que, por sua vez, é resultado de nossa mente
depravada e de nosso coração idólatra. Portanto, conforme disse Paulo, a única
maneira de derrubarmos tais entraves a fim de obtermos o conhecimento de Cristo
é submetermos todos os nossos pensamentos e sentimentos à obediência Dele. Isto
nada mais é do que amá-Lo de todo coração, com toda alma e com todo o intelecto
(Deuteronômio 6:5, Marcos 12:28).
Hoje,
temos doutrinas oriundas de um falso evangelho que tenta colocar Jesus nos
moldes dos pensamentos humanos. Vemos pessoas associando Jesus a ideologias políticas,
a dinâmicas empresariais e a muitos outros modelos humanos. O que deve
acontecer é exatamente o contrário. Jesus deve ser o nosso soberano modelo que
norteia nossos pensamentos, sentimentos e, consequentemente, nossas atitudes.
Mas para isso, nossa cegueira deve ser
curada. No processo de cura que Jesus realizou para com aquele cego, vemos uma
abordagem interessante: “Seus discípulos
lhe perguntaram: ‘ Mestre, quem pecou: este homem ou seus pais, para que ele
nascesse cego?”. (Evangelho segundo João 9:2). Indagação pertinente. O
padrão religioso judaico contava com o fato de que toda doença era resultado de
uma transgressão da Lei, que por Sua vez era uma transgressão contra o próprio
Deus. Um exemplo disso é quando Moisés profere ao povo as bênçãos decorrentes
da obediência e as maldições decorrentes da desobediência (Deuteronômio 28).
Uma verdadeira teodiceia da retribuição.
Este
padrão ainda está vigente, mas de uma forma um pouco diferente. A teologia da
prosperidade preconiza que toda doença é sinal de falta de
fé ou de pecado. Intrigante! Pois a Bíblia diz que todos temos pecado, e que
quem afirma o contrário é mentiroso, ou seja, pecador (I João 1:8-10). Assim,
todos nós deveríamos estar doentes. Portanto, a teologia da prosperidade
torna-se incoerente. Devemos também observar que Jesus disse que passaríamos
por aflições (Evangelho segundo João 16:33). Mas, afinal, quais aflições são
essas? Jesus não especificou. A expressão que aparece no texto traduzida como aflições é tlipsin, que também pode ser traduzida como tribulações.
Jesus
disse que passaríamos por toda sorte de aflições e/ou tribulações e mesmo assim
devemos ter bom ânimo, ou seja,
disposição para continuarmos a jornada. Não se trata de motivação autoajuda,
mas de vida cristã. Sobre isso, o apóstolo Paulo afirmou: “Agora me alegro em meus sofrimentos por vocês, e completo no meu corpo
o que resta das aflições de Cristo (tlipseon
tou Cristos), em favor do Seu corpo, que
é a Igreja.” (Colossenses 1:24 – Ênfase acrescentada).
Este
foi o mote que levou Jesus a responder aos Seus discípulos: “Nem ele nem seus pais pecaram, mas isto aconteceu
para que a obra de Deus se manifestasse na vida dele.” (Evangelho segundo
João 9:3). Independente da circunstância, devemos viver para glorificar a
Cristo. Não há lugar, no cristianismo genuíno, para teologia da prosperidade ou
qualquer outro ufanismo destoante do Evangelho. Devemos observar o princípio de
que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus (Romanos
8:28). Mas que bem é este? Bênçãos
materiais? Saúde? Riqueza? Sucesso? Não. Há apenas um bem para o verdadeiro cristão: glorificar a Cristo através de Sua
vida em todos os momentos.
É
claro que não estou querendo dizer que o verdadeiro Cristianismo consiste no
sofrimento e que por isso devemos buscá-lo. Longe disso. Jesus veio para que
fôssemos livres (Evangelho segundo João 8:36). O que a Bíblia
afirma é que não estamos imunes às tribulações e aflições, mas mesmo em
situações adversas o propósito divino que repousa sobre a nossa vida é
glorificar Seu nome (Cf. I Coríntios 10:31). Esta foi a resposta de Jesus aos
discípulos. O mal que vem sobre nós não deve ser creditado como poder
do diabo, mas ao fato de que a Graça de Deus está sobre nós mesmo
em meio às intempéries (Cf. II Coríntios 12:9).
Após
Sua resposta, Jesus “cuspiu no chão.”
Isso nos remete ao ato criador inicial em que Deus sopra nas narinas do ser
humano Seu fôlego de vida (Gênesis 2:7). O elemento divino misturando-se com o
humano (terreno). Isso aponta para a plenitude de Jesus em Sua dupla natureza
divina/humana: O Deus que se fez homem para nos salvar. E esta salvação implica
em curar nossa cegueira a fim de conhecermos quem Ele é (Filipenses 2:12). Pois
Jesus é o Deus encarnado que veio revelar quem Deus é (Evangelho segundo João
1:14, 14:9, Colossenses 1:15).
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