Matheus
Viana
Após João ter sido preso, Jesus foi
para a Galileia proclamando as boas novas de Deus (Evangelho segundo Marcos
1:14). Episódio que pode parecer, em um primeiro momento, cotidiano por se
referir a Jesus. Mas não é. Ele traz consigo uma mensagem muito importante e
pertinente.
Jesus nos mostrou que toda
circunstância, por pior que seja, é propícia para a proclamação das boas novas
de Deus. Sobre isso, o apóstolo Paulo afirmou aos cristãos em Filipos: “Quero que saibam, irmãos, que aquilo que me
aconteceu tem, ao contrário, servido para o progresso do evangelho.” (Filipenses
1:12). Afirmação que soa como óbvia para nós, mas que não possui tal caráter em
sua prática.
Jesus atravessava um momento
difícil. João era uma pessoa muito importante para Ele, pois era seu primo natural,
e não apenas isso. Foi João quem preparou, ao cumprir a profecia que Deus
proferiu ao seu respeito através de Isaías, o caminho para a Sua vinda (Evangelho segundo Mateus 3:3). João
proclamou a mensagem de arrependimento e batizou no rio Jordão. Foi Ele quem
proclamou à multidão que o seguia que Jesus era (e É) o cordeiro que tira o
pecado do mundo (Evangelho segundo João 1:29). Obs: Para maiores informações, leia o texto: Quem
é o estranho?
Imagine uma pessoa muito importante
para você sendo presa! Você ficaria triste? Claro que sim. Jesus também ficou.
Mas tal tristeza não foi suficiente para impedi-Lo de proclamar as boas novas
de Deus, também conhecidas como
Evangelho. A vontade de Deus em Sua vida era mais forte do que Suas
emoções.
Surgem diante desta realidade três
questões para reflexão: O que é pregar o Evangelho?
Como pregar o Evangelho? E por que
pregar o Evangelho? Não, não tenho a pretensão
de respondê-las. E sim de apenas coloca-las sob a perspectiva analítica. Antes,
portanto, há outra questão: O que é Evangelho?
Apesar da resposta parecer óbvia, ela está longe de ser exercida.
Sim, O Evangelho é O próprio Cristo.
Jesus passou a pregar Dele mesmo, de Sua vinda e da obra que veio realizar. Sua
mensagem foi clara e sucinta: “O tempo é
chegado. O Reino de Deus está próximo. Arrependam-se e creiam nas boas novas.”
(Evangelho segundo Marcos 1:14).
O tempo é chegado! Não há mais tempo
para vivermos as nossas vontades. Não há mais tempo a ser desperdiçado em busca
de sonhos particulares. A verdade a nosso respeito proferida por Jesus ecoa dos
céus: “Por que a minha comida consiste em
realizar a vontade daquele que me enviou a fazer a boa obra.” (Evangelho
segundo João 4:34). Esta é a verdade que deve pautar a nossa existência.
O que é o Reino de Deus? Não é comida nem bebida, mas justiça, paz e alegria
no Espírito Santo (Romanos 14:17). O Reino de Deus é o próprio Deus governando
sobre todas as coisas, incluindo a nossa vida. Ele é nada mais, nada menos do
que a proposta contida no culto racional
desde o princípio: Que o homem exerça na terra o mesmo governo que Deus exerce
nos céus (Salmos 115:16). Este foi o mote que levou Jesus a ensinar Seus
discípulos a orarem: “Pai Nosso que estás
nos céus, santificado seja o teu nome. Venha a nós o teu Reino, seja feita a tua
vontade, assim na terra como nos céus.” (Evangelho segundo Mateus 6:10).
Santificar o nome de Jesus é entroniza-Lo (Isaías 6:3, Apocalipse 4:7-8).
Entroniza-lo é Lhe conceder o pleno governo sobre nós.
O caráter do governo de Deus,
portanto, foi e é plenamente revelado em Cristo: servir (Evangelho segundo
Mateus 20:23-28, Filipenses 2:6-10). A autoridade de Deus sobre todas as coisas
é revelada na medida em que nos submetemos a ela. Ou seja, na medida em que nos
submetemos, de todo o nosso coração, com toda nossa alma, com todo nosso intelecto
e com todas as nossas forças à Sua vontade (Evangelho segundo Marcos 12:28-30).
Tarefa nada fácil.
Temos vivido de acordo com este
Reino? O Evangelho que tem sido
proclamado pelos nossos lábios e pelas nossas ações (Tiago 1:22) é, de fato,
Cristo Jesus como essência? Parece que não. Os fatos falam por si.
Em primeiro lugar, o fato de um crente
passar por dificuldades é algo, por si só, rechaçado pela teologia moderna. De acordo com ela, lutas e dificuldades são elementos que devem ser “quebrados e anulados em nome
de Jesus”, jargão usado com o mesmo caráter de um “abracadabra”.
É fato: Cristãos passarão por
dificuldades. O próprio Jesus advertiu sobre isso (Evangelho segundo João
16:33). A Igreja de Cristo nasceu sob os jugos da tirania e da perseguição do
império romano e do fundamentalismo judaico. Cristãos, constantemente, eram presos, torturados e
mortos. Elementos que fazem parte do mosaico da História da Igreja. Mesmo
assim, conforme Jesus fez, devemos continuar proclamando as Boas Novas de Deus.
Ouvem-se, em demasia, as “boas novas”
de denominações, de líderes de mega-igrejas, de teólogos e etc... Menos a de
Deus, contidas em Suas Sagradas Escrituras. Por conta da dificuldade que nos
assola, o Evangelho tem sido deturpado e rebaixado aos níveis da autoajuda e do
conforto existencial. O Reino de Deus é reduzido a um conjunto de
bênçãos materiais, onde riqueza e saúde não podem faltar. Não sou contra estes
dois atributos. Mas me oponho frontalmente quando ambos ocupam um lugar indevido: a essência do Evangelho.
Arrependam-se! Arrependimento, no
contexto moderno, nada mais é do que a reconciliação com os muitos “suseranos
da fé” que existem em nosso meio. Isso não é arrependimento. É subserviência
que anula a liberdade que Cristo nos concedeu por meio de Sua obra na Cruz
(Evangelho segundo João 8:32). O profeta Isaías profetizou sobre isso, há
milênios:
“As
autoridades e os homens de destaque são a cabeça, os profetas que ensinam
mentiras são a cauda. Aqueles que guiam este povo o desorientam, e aqueles que
são guiados deixam-se induzir ao erro.” (Isaías 9:15-17).
O Reino de Deus é chegado. Por isso,
todo “reino” que não for o de Deus cairá. Isaías profetizou antes da
sentença citada acima: “Por essa razão o
Senhor corta de Israel tanto a cabeça como a cauda, tanto a palma como o junco.”
(Isaías 9:14). Jesus reiterou tal profecia ao dizer que o Templo ruiria (Evangelho segundo Mateus 24:2). E João
recebeu a visão da queda da Babilônia, que naquele momento representou o
império romano e hoje representa o reino humano que é erguido em nome de Deus,
mas Ele não governa (Apocalipse 14:8). Uma verdadeira reedição de Babel, pois o
intento principal é fazer nomes célebres. Qualquer semelhança não é mera
coincidência.
Crer nas boas novas. Não há como não
evocar o clamor de Paulo: “Como, pois,
invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem não ouviram
falar? E como ouvirão, se não houver quem pregue?” (Romanos 10:14). Como
podemos desejar que as pessoas creiam se o Evangelho não tem sido pregado?
Jesus é mais do que uma estratégia. Jesus é mais do que um movimento cultural gospel. Jesus é mais do que um sistema
eclesiástico de organização e evangelismo. Jesus é mais do que uma teologia de
caráter doutrinário/acadêmico. Jesus é o Deus que se fez homem para que
possamos conhecer como Deus é e deseja que a gente seja.
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