Matheus Viana
Na
antiga aliança, um pecado não era redimido sem um sacrifício, fosse ele realizado
em forma de oferta ou holocausto. Um sacrifício, por sua vez, não poderia ser
oferecido sem a presença de um sacerdote, pois apenas ele poderia realizá-lo.
Este sacrifício, no entanto, somente era válido se o sacerdote que o realizasse
estivesse portando um adereço fundamental: “Faça
um diadema de ouro puro e grave nele como se grava um selo: Consagrado ao SENHOR.
(...) Estará sempre sobre a testa de Arão, para que as ofertas sejam aceitas
pelo SENHOR.” (Êxodo 28:36).
Todos
os detalhes que Deus ordenou para que fossem estabelecidos no Tabernáculo, em
seus utensílios, no ritual e no traje sacerdotal não foram em vão. Embora o
aspecto cerimonial da Lei foi cumprido em Cristo (Evangelho segundo Mateus
5:17, Romanos 10:4), seus significados ainda são aplicáveis a nós, mesmo que
nosso culto seja realizado de forma diferente. Contudo, o espaço e a sua
paciência não me permitem elucidar um estudo exaustivo de tipologia (estudo sobre o significado – e com seus devidos
apontamentos para Jesus - de cada um destes detalhes), tampouco tenho
conhecimento para tanto. Mas, por ser pertinente, proponho-me a refletir sobre o
diadema que Deus ordenou que o sacerdote utilizasse na ocasião do ritual e suas
devidas aplicações para os cristãos.
Este
diadema deveria permanecer na testa (cabeça) do sacerdote. Por quê? Para que
não se esquecesse de que o caráter daquele ritual deveria ser santo (kadesh, separado, consagrado), pois
seria realizado para o único e verdadeiro Santo (Kadosh, santidade plena, completa ausência do profano): Yahweh.
Além disto, era para demonstrar que este ritual era o culto racional que o povo, por intermédio do sacerdote, deveria
oferecer a Deus.
O
fato de este diadema permanecer na testa de Arão era a representação de uma
mentalidade sacerdotal exigida por Deus: consagrada ao Senhor. Algo necessário,
pois a mente humana foi corrompida pelo ardiloso argumento da serpente (Gênesis
3:5, II Coríntios 11:3). O culto que Deus espera do ser humano exige
racionalidade, por isso ela precisa ser consagrada. Ou seja, nossos pensamentos
devem refletir a Santidade e a Glória de Deus. Isto é amá-Lo e serví-Lo com
todo o nosso intelecto (Evangelho segundo Mateus 22:37).
Esta
consagração é apenas o início para que todo nosso ser seja consagrado (e
santificado). É neste mote que o salmista declara: “Quão bom e agradável que os irmãos vivam em comunhão (como
consequência de nossa comunhão com Deus)!
É como óleo ungido, derramado sobre a cabeça, que desce pela barba, a barba de
Arão, até a gola de suas vestes.” (Salmo 133:1-2).
Cabeça na Bíblia fala de
autoridade. Por isso o apóstolo Paulo apresenta Jesus como “O cabeça da Igreja.” (Efésios 5:23). A analogia de que o cérebro comanda
todo o corpo vem bem a calhar. Pois foi a uma semelhante a essa que Paulo se
referiu usando tanto a didática judaica, elucidada no salmo anteriormente
citado, e a grega, onde Platão, que em sua antropologia dividiu o ser humano em
cabeça (razão), peito (coragem) e baixo ventre (desejo), afirmou que a razão deve
ter o pleno controle sobre a coragem e o desejo de um indivíduo a fim de que ele
seja virtuoso.
Assim,
a racionalidade do sacerdote deveria ser utilizada como um dos fatores
fundamentais do culto. Além disso, deveria ser desdobramento de uma consciência
e racionalidade submissas à Santidade de Deus expressa em Sua Lei. Por isso, o
diadema deveria trazer os dizeres: Consagrado
ao SENHOR. Algumas traduções trazem o termo “Santidade ao SENHOR.”, pois o termo hebraico é kadesh, que pode ser traduzido tanto
como consagrado quanto como santidade. Somente assim o culto,
realizado através do sacrifício, seria aceito. Fato que representa a verdade de
que nosso culto a Deus, para ser aceito por Ele, deve ser racional. E, claro,
uma racionalidade consagrada. Este foi o significado que Jesus aplicou à
declaração que fez para os discípulos: “Vocês
estão limpos pela palavra que vos tenho dito.” (Evangelho segundo João
15:3). Aqui é necessário evocar o ouvir,
o compreender e o praticar.
A
Palavra de Deus nos purifica porque ao ouvirmos, Ela gera fé em nosso coração
(Romanos 10:17). É por Ela que o Espírito Santo nos convence do pecado, da
justiça e do juízo (Evangelho segundo João 16:8) a fim de que sejamos
conscientes do fato de que precisamos nos arrepender (Evangelho segundo João
14:26) e de que o sacrifício realizado por Jesus é suficiente para nos
purificar e nos redimir de todo pecado (II Coríntios 7:10). É por isso que o
apóstolo Paulo exorta os romanos: “Transformai-vos
pela renovação de vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, perfeita
e agradável vontade de Deus.” (Romanos 12:2). Pois, como um judeu erudito
na Lei mosaica, tinha conhecimento do fato, bem como o caráter nele implícito,
do uso do diadema pelo sacerdote.
O
fato do diadema ser de ouro puro
também não é em vão. É baseado neste fato que Isaías proclama: “Mas o homem nobre faz planos nobres, e
graças aos seus feitos nobres, permanece firme.” (Isaías 32:8). Não há nada
mais nobre e precioso do que a Palavra de Deus. Por isso Esdras afirma: “Guardo no meu coração as tuas palavras.”
(Salmo 119:11). E o apóstolo Paulo orienta: “Pois
nele (Jesus) vocês foram enriquecidos
em tudo, isto é, em toda palavra e em todo conhecimento.” (I Coríntios
1:5).
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