Tradução: Chuck Norris pode dividir por zero. Não, nem "ele" pode. |
Matheus Viana
Analisemos
mais alguns problemas lógicos no argumento de Epicuro (citado na primeira parte
deste ensaio), principalmente na questão sobre a onipotência de Deus. O fato de
Deus ser onipotente não significa que Ele não siga alguns princípios absolutos.
Aliás, o ser humano só tem a noção ética e moral por conta do padrão ético que recebeu
de Deus. Todo ser humano tem necessidade de pautar sua vida sobre princípios
absolutos. O próprio relativismo é um absoluto. Discordas? Então pergunte para
um relativista se ele tem certeza de que tudo é relativo. Se responder que
sim... Bingo! Ele considera sua “verdade” absoluta. Se responder que não,
apenas confessou sua incoerência lógica.
Ou
então diga para um relativista que o seu ponto de vista está errado! Você não terminará de contar até dois para
ele dizer que você é que está errado. Isso mesmo! Ele considera, ainda que
inconscientemente – o que é pior -, o relativismo como um absoluto. Falaremos
sobre isto posteriormente.
Eis
alguns absolutos em relação a Deus: Ele não pode mentir: “Deus não é homem (humano) para
que minta.” (Números 23:19). Ele não pode ser tentado pelo mal nem tentar a
ninguém: “... Deus não pode ser tentado
pelo mal, e a ninguém tenta.” (Tiago 1:13). Ele não pode ir contra Seus
princípios: “Você viu bem, pois estou
vigiando para que a minha palavra se cumpra.” (Jeremias 1:12 - Leia também Isaías 55:11). Ele não pode
impedir o ser humano de provar as consequências de suas escolhas. Paradoxal para com Sua onipotência? Claro que é! Explico.
Um
Juiz (meritíssimo) é soberano em um julgamento. Ele tem o poder de condenar ou
absolver um réu, de declará-lo culpado ou inocente. Contudo, ele não pode
deixar de seguir a ética jurídica. Ele não pode, por exemplo, mentir ou ser
parcial e faltar com a retidão e equidade a fim de favorecer ou prejudicar o
réu. Resumindo, ele não pode, de forma alguma, ser injusto. Portanto, posso usar o que um
juiz não pode (não deve) fazer como base para afirmar que ele não é soberano em um
julgamento? Claro que não! Isso seria uma falácia, ou melhor, uma picaretagem
lógica. O argumento de Epicuro faz exatamente isso. Apesar de ser onipotente, Deus não irá revogar as
consequências provenientes das escolhas e dos atos dos seres humanos. E o mal
está incluso nelas.
Há
quem diga, pelo fato de Deus dizer em sua Palavra que os maus serão condenados,
que Ele não pode ser considerado bom. Sim, Ele é bom. E um dos atributos de Sua
bondade é a justiça. Deus é justo ao ponto de entregar o Seu próprio Filho para
cumprir em nosso lugar a justiça e a condenação – a penalidade - de nossos
pecados: o sofrimento e a morte. Conforme o próprio Jesus elucidou: “Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida
pelas ovelhas.” (Evangelho segundo João 10:11).
É
sobre exatamente isso que o apóstolo João afirma: “Nisto consiste o amor de Deus: não que nós temos amado a Deus, mas em
que ele nos amou e enviou seu filho como propiciação pelos nossos pecados.”
(I João 4:10). Sobre isso, o apóstolo Paulo afirmou: “Deus o ofereceu (Jesus) como
sacrifício para propiciação mediante a fé, pelo seu sangue, demonstrando a sua
justiça.” (Romanos 3:25). E também: “Mas
Deus demonstra seu amor por nós: Cristo morreu em nosso favor quando ainda
éramos pecadores.” (Romanos 5:8). Jesus é, ao mesmo tempo, o cumprimento das
plenas justiça e bondade de Deus ao ser humano. Não há bondade maior do que
sofrer e morrer por alguém mesmo sem merecer.
Assim,
Jesus foi a obra suprema para acabar com o mal que assola a humanidade.
Contudo, ela ainda desfruta de liberdade que Deus a concedeu. Mas é preciso
reiterar que, pelo fato de os primeiros seres humanos terem feito uso indevido
desta liberdade, a humanidade está debaixo da escravidão do pecado.
Consequentemente, tem sofrido toda sorte de mal. Em outras palavras: o ser
humano escolheu o mal e agora tem arcado com suas terríveis consequências.
Deus
pode acabar com o mal. Sua “arma” foi o sofrimento e morte de seu Filho em
nosso lugar. Foi isso que Isaías declarou ao dizer: “O castigo que nos traz a paz estava sobre ele.” (Isaías 53:5). O sacrifício
passado de Jesus nos traz paz no presente, e trará no futuro (Evangelho segundo
João 14:27). A “escolha”, portanto, é nossa de retornarmos, por intermédio da
cruz, ao Bem Supremo. Ele já fez a Sua parte, o Seu ato soberano de bondade.
Sobre
o fato do ser humano arcar com as consequências de suas escolhas e atos, há
quem diga que Deus pode reverter a penalidade do ser humano, por isso concede,
através de Jesus, a vida eterna ao pecador. Contudo, a vida eterna, apesar de
não ser meritória - mas absolutamente pela Graça - é fruto da escolha humana de
se arrepender de seus pecados, receber a justificação oriunda da morte de Jesus
e recebe-Lo, pela fé, como Senhor e salvador (Efésios 2:8).
Conforme
Paulo preconiza, o salário (consequência) por escolher e cometer o pecado (mal)
é a morte, mas o dom gratuito de Deus (consequência) para aqueles que se
arrependem – escolhem ser justificados em Cristo – é a vida eterna (Romanos
6:23). Esta escolha, no entanto, é fruto da ação do Espírito Santo de Deus
(chamado de Graça precedente por uns
e Graça irresistível por outros) no interior
do ser humano, conforme Jesus advertiu: “Quando
ele (O Espírito Santo) vier,
convencerá o mundo (kosmon/cosmon - cosmos) do pecado, da justiça e do juízo.”
(Evangelho segundo João 16:8).
O apóstolo Paulo elucida: “Irmãos, você foram chamados para a
liberdade. Mas não usem a liberdade para dar ocasião à vontade da carne; ao
contrário, sirvam uns aos outros mediante o amor.” (Gálatas 5:13). Paulo
aqui nos adverte sobre o bom uso de nossa capacidade de escolha. Que possamos
reconhecer o quanto somos maus, por conta de nossa natureza corrompida que nos
torna escravos do mal (Romanos 3:12) a fim de que, por intermédio do Espírito Santo,
busquemos o Bem Supremo.
Continua...
Continua...