Matheus Viana
Ao longo da História da Igreja, incluindo os dias atuais, debate-se
sobre o livre-arbítrio humano em relação à predestinação feita por Deus. Não
entrarei em
reminiscências. Tampouco viso defender os pontos de vista
“calvinista” ou “arminiano”. O que desejo, de forma breve e prática, é
analisar algumas advertências de Jesus que nos ensinam algo sobre estes
aspectos. Bem, o fato de eu desejar... Deixe pra lá!
Desde o século IV, quando Agostinho e Pelágio discutiram
sobre a total degradação humana oriunda do pecado original, este fato, através
dos Concílios, fica estabelecido como doutrina da salvação, conhecida na
teologia sistemática como ‘soteriologia’. Contudo, Lutero - em seu debate
com Erasmo de Roterdam -, e posteriormente Calvino, sustentaram a doutrina de
que a degradação do ser humano, por ser total, comprometeu sua volição. Ou
seja, fez com que ele desejasse e escolhesse apenas o que é mal e ofende a Deus
(pecado). É neste ponto que quero me ater.
Jesus disse algo que nos faz refletir sobre isto: “Qual de vós, se seu filho lhe pedir pão,
lhe dará pedra? Se vós, que sois maus, sabem dar coisas boas aos filhos, quanto
mais o vosso Pai, que está nos céus, dará coisas boas aos que Lhe pedirem.”
(Evangelho segundo Mateus 7:11). De acordo com esta reflexão, o ser humano,
apesar de totalmente degradado pelo pecado (Romanos 5:12, Colossenses 3:5), tem
a capacidade - comprometida e limitada, é verdade - de desejar e escolher
coisas boas. Não foi apenas Jacob Armínio que disse isso. Foi o próprio Jesus.
Se o ser humano não tem esta capacidade, então a afirmação
feita pelo apóstolo Paulo de que não somos salvos pelas nossas obras (Efésios
2:8) é vã. Pois, se todas as nossas ações – oriundas de desejos corrompidos –
são ruins, é óbvio que não seremos salvos por elas. Poderíamos discutir sobre o
nosso querer e realizar (Romanos 7:18-19, Filipenses 2:13), mas não quero
deixar o texto demasiado longo.
Ainda sobre a volição humana, Jesus disse: “Aquele que quiser me seguir, negue-se a si
mesmo, tome a tua cruz e siga-me.” (Evangelho segundo Mateus 16:24).
Analisemos a proposta do Messias: “Aquele
que quiser me seguir...”. “Quiser”, conjugação verbal indissociável de
vontade própria. Pensemos sobre algo: se a degradação total, oriunda do pecado
original, impede o ser humano de desejar, escolher e fazer o que é correto, por
que Jesus faria tal proposta? Por outro lado, se alguns são predestinados para
isso, Jesus não precisaria usar o verbo “querer”, tampouco “fazer” – implícito
na expressão “negue-se” -, já que a
soberania de Deus sobre o ser humano, de acordo com alguns cristãos reformados,
culmina no chamado “monergismo” ou Graça irresistível.
O fato de que a salvação vem única e exclusivamente de
Deus é inquestionável. O de que o pecado original degradou a natureza
humana também é. Mas eles, de acordo com as Palavras de Jesus, não anulam a
nossa capacidade – que deve ser aperfeiçoada pela ação do Espírito Santo em nós
– de querer e escolher.
Baseado em tais fatos, Jesus nos adverte a negarmos a nós
mesmos. Negação fala de renúncia. Renúncia, por sua vez, é um ato oriundo de
uma decisão. E decisão é desdobramento de nossa vontade. Sendo assim, se o ser
humano não possui a capacidade de querer e escolher a Jesus por si mesmo, por
que Jesus faz esta proposta? Se tal fato fosse verdadeiro, esta proposta não
soaria incoerente? Mas sabemos que não é.
Sobre a predestinação para a salvação... Bem, cito, para
encerrar, duas advertências do apóstolo Paulo; uma para Timóteo e outra para
Tito: “Isso é bom e agradável perante
Deus, nosso Salvador, que deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao
conhecimento da verdade. Pois há um só Deus e um só mediador entre Deus e os
homens: Jesus Cristo, homem, o qual se entregou a si mesmo como resgate por
todos.” (I Timóteo 2:3-6). “Porque a
Graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens.” (Tito 2:11).
Tanto o Antigo Testamento (Provérbios 16:4, Isaías 55:11) quanto o Novo nos falam sobre a predestinação e soberania de Deus ao homem (Efésios 1:4-5, Romanos 8:29-30). Há muitos textos na Bíblia referentes a estes temas. No entanto, repito: esta predestinação, além de evidenciar a soberania de Deus ao ser humano, não anula a volição humana.
Tanto o Antigo Testamento (Provérbios 16:4, Isaías 55:11) quanto o Novo nos falam sobre a predestinação e soberania de Deus ao homem (Efésios 1:4-5, Romanos 8:29-30). Há muitos textos na Bíblia referentes a estes temas. No entanto, repito: esta predestinação, além de evidenciar a soberania de Deus ao ser humano, não anula a volição humana.
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