Matheus Viana
A
teoria de que o ser humano, desde a sua criação, consiste na dualidade corpo e
alma é oriunda do pensamento de Platão, que afirmava que o corpo é a prisão da
alma. A filosofia platônica influenciou Agostinho, um dos principais
personagens da Patrística, cuja teologia influenciou Lutero e ainda exerce forte
influência na teologia - e também na antropologia - cristã atual.
Platão
cria na preexistência da alma – no mundo inteligível – e que, para viver no
mundo sensitivo, passou a tomar posse de um corpo. É desta teoria que a
expressão latina anima é usada para dizer
que o ânimo que se manifesta no corpo do ser humano nada mais é do que desdobramento
de sua própria alma, ou seja, sua personalidade.
Por
sua vez, Agostinho afirmava que a alma é originada em Deus para animar o corpo,
mas ela não tem a natureza divina. Portanto, pensemos: se o corpo humano, por
ser feito do pó da terra, não possui a natureza divina e a alma também não
possui, e o ser humano é constituído de corpo e alma, então ele não compartilha
da natureza de Deus. Com base neste pensamento, há teólogos que afirmam que o
fato do ser humano ter sido formado à imagem e conforme a semelhança de Deus
consiste apenas no nível moral.
No
entanto, se isto é verdade, é certo que a moral divina exercia influência sobre
o ser humano. Conforme preconiza C.S Lewis em seu livro Cristianismo puro e simples, o ser humano tem necessidade de
estabelecer padrões morais por causa de uma Lei Moral soberana, oriunda de
Deus. Apesar de ter sido criado livre, esta liberdade, como Agostinho afirma em
sem livro Livre-arbítrio, o levou a
pecar.
Em
contrapartida, há teólogos que afirmam, por exemplo, que Adão e Eva eram
cobertos pela Shekinah (Presença
manifesta de Deus). Quando esta foi extirpada em detrimento do
pecado original, ambos viram que estavam nus. Portanto, quem diz a verdade?
Podemos dizer que não são verdades excludentes, mas complementares. Explico.
O termo nishmat, traduzido como sopro ou fôlego, é próximo
do termo nefesh, traduzido como alma ou ser vivente. Contudo, quando usamos a Septuaginta (Versão grega do
Antigo Testamento) para refletirmos em Gênesis 2:7, vemos que o termo usado
para “fôlego de vida” é
composto: pneun zoes. Pneuma é a expressão usada no Novo
Testamento para se referir aos termos espírito, vento e fôlego. Zoe,
por sua vez, é a vida de Deus no ser humano. O termo Espírito de Deus,
por exemplo, é pneumatos, que também se refere ao fôlego de Deus soprado
sobre o homem. Desta forma, podemos afirmar que este fôlego de vida é o
próprio Espírito de Deus agindo no homem.
A teologia
de Paulo fala do pneuma como o “espírito
do homem”. Em sua carta aos tessalonicenses, ele lhes deseja: “E
o mesmo Deus da paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito (pneuma),
alma (psique) e corpo (soma) sejam plenamente conservados irrepreensíveis para
a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.” (I Tessalonicenses 5:23). Este
é um dos principais versículos utilizados com base argumentativa para a
tripartição humana.
Uma das
regras básicas da hermenêutica é considerar o contexto em que o texto foi
produzido. Os tessalonicenses eram fortemente influenciados pela filosofia
grega. No intento de fazer o Evangelho compreensível, Paulo utilizou uma
didática semelhante ao helenismo. Por isso fez uma espécie de tripartição
do ser humano.
Platão dividia a alma em razão, coragem e desejo. E baseado nesta divisão, cria a dicotomia consciência/corpo, onde vai elucidar sobre a ação do ser humano no mundo inteligível e também no mundo sensitivo, teorizados por Parmênides. Para Platão, o sentimento e o desejo humanos não eram frutos de sua razão (consciência), mas puramente do corpo. Assim, concluía que tanto o sentimento como o desejo (incluindo os impulsos afetivos e sexuais) não têm nada de racional. Paulo usa esta teoria para falar, por exemplo, da dicotomia entre carne e Espírito (pneumatos). Ou seja, o pecado como fruto da carne, e a obediência plena a Deus como fruto do Espírito.
Platão dividia a alma em razão, coragem e desejo. E baseado nesta divisão, cria a dicotomia consciência/corpo, onde vai elucidar sobre a ação do ser humano no mundo inteligível e também no mundo sensitivo, teorizados por Parmênides. Para Platão, o sentimento e o desejo humanos não eram frutos de sua razão (consciência), mas puramente do corpo. Assim, concluía que tanto o sentimento como o desejo (incluindo os impulsos afetivos e sexuais) não têm nada de racional. Paulo usa esta teoria para falar, por exemplo, da dicotomia entre carne e Espírito (pneumatos). Ou seja, o pecado como fruto da carne, e a obediência plena a Deus como fruto do Espírito.
Na questão
da saudação de Paulo aos tessalonicenses, ele utiliza estes três aspectos para
elucidar sobre a nossa conduta como cristãos. A expressão “vosso
espírito” se refere à ação do Espírito de Deus em nosso interior. Já “alma” fala
da nossa personalidade subjetiva, da sujeição do nosso eu à ação do pneuma divino.
E o corpo (soma) é o desdobramento de nosso comportamento oriundo de uma alma
submissa e influenciada pela ação do Espírito de Deus em nós. Lembre-se, em
Jesus, não vivemos como alma vivente, mas como Espírito vivificante (I
Coríntios 15:45).
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