Arrependimento,
conversão, nova vida em Cristo. O filho pródigo não voltou para casa em busca
de um milagre. Não reivindicou absolutamente nada. Foi convencido, por um
coração quebrantado, de que não poderia viver distante de seu pai.
Matheus
Viana
Devido
à dinâmica e ao frenesi de uma sociedade globalizada – desdobramento da revolução
industrial do século XIX e também da revolução científica e tecnológica vigente
– surgem, com cada vez mais frequência, métodos pragmáticos de comportamentos e
ações. E isso se dá em todas as áreas da vida humana. Três passos para isso,
quatro para aquilo... Enfim. Estamos diante de um verdadeiro “taylorismo”
moderno.
Esta
espécie de fenômeno social alcançou o Evangelho. Sim, temos nos deparado com um
cristianismo cada vez mais pragmático e limitado por métodos e estratégias. Os
que não se adéquam a ele correm o risco de serem considerados blasfemos, à
semelhança de Jesus, pela cúpula religiosa de sua época, quando veio
estabelecer a reforma no relacionamento do homem para com Deus onde seria livre
do jugo da Lei para viver a plenitude da Graça divina.
Há
anos tenho ouvido a respeito de uma determinada “escada do êxito” que tem
servido de fundamento para a prática do cristianismo: ganhar, consolidar,
discipular e enviar. Isso mesmo! Para alguns, esses quatro passos são a
metodologia suprema que define as nossas ações como cristãos. Mas quando meditamos, de maneira acurada, nas Sagradas Escrituras, pautados na
liberdade que Jesus estabeleceu a nós através da doutrina dos apóstolos e dos profetas (Evangelho segundo João 8:32, Efésios 2:20-21) - e da pluralidade
ministerial que ela gera - vemos que não é bem assim.
A
saga do filho pródigo, relatada por Jesus através de uma parábola (Evangelho
segundo Lucas 15:11-32), é uma representação lúdica de nossa jornada no tocante
ao relacionamento com Deus. Antes, portanto, de falarmos sobre as ações do
filho pródigo a fim de analisarmos os degraus desta “escada”, precisamos
meditar sobre o significado de ‘êxito’.
Ao
estudarmos sobre a história da filosofia, vemos que Sócrates (470-399 a.C) foi
um dos principais personagens clássicos que empreenderam o modo de pensar que exerceu
influência nos tempos bíblicos e, de certa forma, ainda exerce no mundo ocidental.
Seu método de obtenção do conhecimento consiste na Ironia (em grego, perguntar), depois na Maiêutica (parto), onde dizia que as perguntas davam à luz a novas
ideias cujo intento era sempre encontrar o conceito do objeto de seu
pensamento. Sócrates foi responsável por dar um novo significado à expressão Logos – palavra, razão - que surgira com os adventos da cosmologia, vista sob o prisma do physis, que substituiu a cosmogonia que marcou a era mítica; e da escrita juntamente com a formação da Pólis (cidade/estado) e a
democracia ateniense entre os séculos VIII e VI a.C.
Ao
questionar “Qual a logos de justiça?”,
Sócrates queria chegar ao conhecimento do que é, de fato, a justiça e qual a
razão de sua existência. Pois, para ele, a justiça só poderia ser aplicada ao
povo, de modo a beneficiá-lo, se seu conceito fosse plenamente definido e conhecido.
Mas,
devido aos pensadores pós-socráticos, entre eles Soren Kierkegaard, considerado
o pai do existencialismo cristão que contrapôs o liberalismo teológico, a Logos deu lugar ao relativismo dos absolutos por se derivar da
dialética hegeliana. O que fez com que cada um interpretasse certos aspectos
sociais e morais à sua maneira. E a expressão ‘êxito’ também foi atingida por
esta mutação. Consequentemente, surgem os métodos para alcançá-lo de acordo com
as interpretações existentes, ignorando o fato de que cada indivíduo possui uma
personalidade. Ou seja, nenhum ser humano é, em sua essência, igual ao outro
por ter sido criado por um Deus de multiforme sabedoria (Efésios 3:10). Portanto,
uma pessoa age de forma diferente de outra.
O
que é êxito para os homens nem sempre é êxito para Deus. Para muitos, o êxito é
a riqueza. No entanto, para Jesus este “êxito” pode impedir alguém de herdar o
Reino dos Céus (Evangelho segundo Lucas 18:25). No episódio do jovem rico, o
êxito proposto a ele por Jesus era de abandonar as riquezas. Completamente o
oposto do que é êxito para muitos, inclusive para o mancebo. Depois de avaliar,
preferiu as riquezas ao invés de abandoná-las e seguir a Jesus.
Se
o pecado foi o ato que levou o homem à queda e trouxe a morte a todos os homens
(Romanos 5:12), e seu significado é ‘errar o alvo’, podemos concluir que o
verdadeiro êxito é abandonarmos nossos caminhos e seguirmos rumo ao alvo que um
dia o homem errou. Ou seja, renovarmos a nossa mente para vivermos a boa,
perfeita e agradável vontade de Deus (Romanos 12:2). Não há êxito maior do que
este. É por isso que o apóstolo Paulo preconizou: “Prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em
Cristo Jesus”. (Filipenses 3:14).
Foi
exatamente isso que o filho pródigo fez. Ele errou o alvo quando pediu sua
parte na herança e abandonou o seio familiar em detrimento das agruras do
mundo. Idealizou um êxito e o perseguiu. Mas o lugar para onde foi conduzido
não foi nada bom. Chegou ao ápice da degradação humana: desejou se alimentar de
comidas de porcos. E isso o fez se lembrar do verdadeiro êxito: viver na
presença e na casa de seu pai.
Por
isso galgou a verdadeira escada do êxito: arrependimento, conversão e nova vida
em Cristo. Ao se deparar com a subvida ao qual estava submetido, disse: “Levantar-me-ei, e irei ter com meu pai, e
dir-lhe-ei: Pai, pequei contra o céu e perante ti”. (Evangelho segundo Lucas
15:18). Depois se levantou, “foi para seu
pai; e, quando ainda estava longe, viu-o seu pai, e se moveu de íntima compaixão
e, correndo, lançou-se ao pescoço e o beijou.” (Evangelho segundo Lucas
15:20). E, consequentemente, passou a viver a vida abundante que somente seu
pai poderia lhe oferecer. “Mas o pai
disse aos seus servos: Trazei depressa a melhor roupa; e vesti-lho, e ponde-lhe
um anel na mão, e alparcas nos pés”. (Evangelho segundo Lucas 15:22). Falaremos
sobre estes três aspectos em outra oportunidade...
O
filho pródigo não voltou para casa em busca de um milagre. Não reivindicou
absolutamente nada. Foi convencido, por um coração quebrantado, de que não
poderia viver distante de seu pai. Arrependido, converteu-se do caminho equivocado
que trilhava, o de independência para provar dos prazeres do mundo. Esses são
os elementos que o verdadeiro Evangelho gera na vida de uma pessoa. Mas, para isso,
ele deve ser pregado.
Infelizmente,
o evangelho (ouso chamá-lo de pseudo, devido às circunstâncias) atualmente
propagado preza o triunfalismo e o “êxito” humano.
Ignora que a salvação implica em renúncia e cruz (Evangelho segundo Mateus
16:24), elementos nada bons para o nosso ego. Sim, Jesus tem vida abundante para todo
aquele que Nele crê (Evangelho segundo João 10:10). Mas, em muitos casos, ela
se manifestará diferentemente do que esperamos. Se Jesus diz que no mundo
teremos aflições (Evangelho segundo João 16:33), é porque enfrentaremos
situações difíceis. Mas Ele estará conosco. Portanto, nada disso pode ter o
poder de nos afastar Dele. Se o milagre esperado não se manifestar no tempo e
da maneira que você espera, saiba que Jesus já realizou o maior milagre de
todos: o de sua salvação!
Dispensa qualquer comentário. Reflexão verdadeira, pautada de fato na Palavra de Deus. Continue sendo essa voz, nunca se cale diante de nada, a menos que Ele pare de falar... Leandro Pereira
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