Matheus
Viana
“Não fui com
discurso eloquente, nem com muita sabedoria para lhes proclamar o mistério de
Deus. Pois decidi nada saber entre vocês, a não ser Jesus Cristo, e este,
crucificado.”
(I Coríntios 2:1-2).
Embora
registrada há muito tempo, esta declaração do apóstolo Paulo é pertinente a
nós. Seu fator central é a proclamação do mistério
de Deus. Em algumas traduções aparece o termo testemunho, já que a expressão grega é martírion. Por quê? Que mistério
ou testemunho é esse? O Evangelho de
Jesus Cristo (Cf. I Coríntios 1:17). O que é Evangelho? As boas novas de Deus aos homens. O que são estas boas
novas? Cristo, a imagem do Deus invisível. Sua pessoa, vida e obra.
Por
que Paulo não usou em sua declaração o termo evangelion (evangelho), e sim martírion?
Este termo é derivado de mártires,
que aparece em Atos 1:8, por exemplo, e é traduzido por testemunha. O que ele quis dizer foi que, ao se portar como uma testemunha de Cristo, estava sendo um
instrumento usado por Deus para transmitir o conhecimento de quem Cristo é e o
que fez e ensinou (Cf. Atos 1:1). Mediante isso, você já parou para pensar por
que precisamos obter tal conhecimento?
Conforme
preconizaram Agostinho de Hipona em seu livro Cidade de Deus e João Calvino em suas Institutas, o conhecimento do
homem é completamente dependente do conhecimento de Deus, revelado em Jesus
Cristo (Colossenses 1:15, João 14:9). O conhecimento de Cristo, além de revelar
quem Deus é, revela também, além de sua origem, o que o ser humano deve ser e realizar
(Filipenses 2:13). Por isso Jesus possui duas naturezas - plenamente Deus e
plenamente homem -, conforme afirma o Credo niceno-constantinopolitano, também
confirmado no Concílio de Calcedônia (451 d. C.).
Tal
conhecimento, entretanto, não se refere a uma espécie de gnosticismo. Não é o conhecimento (gnose) de Cristo quem salva, mas o próprio Cristo (pessoa e obra).
Assim, embora o conhecimento do Theologos
não seja condição prévia para nossa salvação e redenção, ele é fundamental para
a plena restauração da Imago Dei
(Imagem de Deus) em nós (Cf. II Coríntios 3:18 e Filipenses 3:7-11) e o consequente
cumprimento de Seu propósito. Elementos que o apóstolo Paulo chamou de desenvolvimento da salvação (Filipenses
2:12). Óbvio que ele não se referiu ao desenvolvimento
da obra salvadora de Cristo, consumada na cruz (Evangelho segundo João
19:30), tampouco da salvação em si. Mas da restauração da ética de Deus no homem, que é oriunda de Sua essência em nós.
A
nossa vida só possui sentido neste conhecimento. Pois fomos formados por Ele,
por meio Dele e para Ele (Colossenses 1:16). Fomos criados à Sua imagem e
semelhança. Ele é a fonte da vida e de todos os aspectos que a constituem, que
foram depravados pelo pecado. Este conhecimento, no entanto, não se dá através
da sabedoria humana. Sobre isso, o apóstolo Paulo afirmou: “Visto que, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por meio da
sabedoria humana...” (I Coríntios 1:21).
Conforme
vimos no livro Culto racional, a
sabedoria humana é produto da depravação de nossa mente. Por isso, a
racionalidade humana tornou-se obscurecida, por se afastar da Luz suprema, ao
ponto de não ser capaz de obter os conhecimentos teológicos (de Deus),
antropológicos (do homem) e cosmológicos (do universo) como realmente são
(Isaías 60:1, II Coríntios 4:4), pois são complementares. O primeiro serve de
referência aos demais. Se o primeiro não for considerado, os outros não serão
plenamente obtidos.
Um
método do conhecimento, qualquer que seja, precisa de absolutos, abstratos ou
concretos, que sejam usados como fundamentos e referências do objeto a ser
conhecido. Na tentativa de estudar o homem (antropologia, seja ela biológica,
psíquica ou sociocultural) sem a existência de Deus, o padrão referencial
passou a ser um ancestral comum que, por sua vez, é oriundo da evolução natural
aleatória (sem propósito). Assim, o ser humano é definido como um mero acidente
da natureza. Por isso, não há definição que sirva como resposta para a questão:
O que é o ser humano?. Pois ela só será respondida quando houver o
reconhecimento de que Seu antecessor, que funciona como padrão referencial, é
Cristo, o Deus que se fez homem.