Matheus Viana
A
consciência de que somos pecadores é o principal instrumento que impede a ação
do orgulho sobre nós. O apóstolo João preconizou tal fato (I João 1:8). Paulo o
repercutiu em suas cartas, principalmente na dirigida aos romanos, como nenhum
outro. Mas a explanação de Tiago sobre a ação do pecado em nós foi peculiar.
Tenho a impressão de que ele pegou emprestado o princípio aristotélico do
ato/potência (Tiago 1:14-15).
Cada
um é tentado por sua própria cobiça. O desejo pelo pecado está em nosso DNA
interior (Salmos 51:5, Colossenses 3:5). Portanto, somos pecadores em
potenciais. Por isso, somos tentados. Diferentemente de Deus que não pode ser
tentado, pois não há nEle o desejo pelo mal (Tiago 1:13). Infelizmente, este
desejo natural pelo pecado (potência) se transformará em ato. Santidade é
justamente a difícil tarefa de impedir esta transformação.
Analisando
a Palavra de Deus, vemos que Ele busca em nós uma santidade pautada no
arrependimento. É de conhecimento público, e graças a Deus bastante difundido,
o conceito de “arrependimento”. Não é, portanto, necessário o elucidarmos. Por
outro lado, é impossível praticar a impecabilidade (Romanos 7:18-19). João nos adverte sobre isto
(I João 1:9-10). Mas a santidade que Jesus nos adverte (Evangelho segundo
Mateus 5:48) é possível através do... Isso mesmo: arrependimento.
Sua
ação, no entanto, exige a consciência de que somos pecadores lutando, através
da manifestação do Espírito Santo de Deus (Evangelho segundo João 16:8), para
sermos santos. E não a de que “somos santos lutando contra o pecado”. Quando
estudamos os atributos de Deus, os comunicáveis e os incomunicáveis, vemos dois
tipos de santidade. A que Deus comunica ao ser humano, e consequentemente deseja que
ele viva, é Kadesh. Já a santidade
que pertence somente a Deus, que significa a plena ausência do mal, é Kadosh. Os apóstolos, ao chamarem os
crentes de “santos”, estavam falando do primeiro tipo e em seu primeiro
estágio: separado, em santificação. Ou seja, separados de toda ação e padrão ético provenientes
do pensamento mundano, contrários à Palavra de Deus (Romanos 12:2, II Coríntios
4:4) para começarmos a trilhar rumo à estatura do varão perfeito (Efésios
4:13).
Uma
das formas mais sutis em que o pecado se manifesta é o orgulho. Por isso, nossas
ações, mesmo as bem intencionadas, estão eivadas dele. Servirmos a Deus por
querermos o reconhecimento dos homens. Pregamos a Palavra para que nossa
opinião seja considerada e repercutida. Falem mal ou bem, mas falem de mim é o
ditado em voga. Mediante tal realidade, vemos o ribombar de ministros buscando
um “lugar ao sol” (leia-se fama). Alguns destes, quando contrariados, queixam
que estão “sofrendo perseguição” e vociferam frases piegas como se fossem
pérolas.
Quando
temos a plena consciência de que somos pecadores, e por isso precisamos de
arrependimento, o sentimento, na maioria das vezes inconsciente, de que somos
superiores aos outros desaparece. E não nos enganemos. Este sofisma é tão
latente que Paulo, em sua carta aos filipenses, precisou exortar aos cristãos a
considerarem os outros superiores a si mesmos (Filipenses 2:1-3). Cujo golpe de
misericórdia foi a advertência de termos o mesmo sentimento (phronesis/phroneisto – sentimento que
gera uma atitude) que houve em Cristo Jesus e o levou a se tornar servo (doulos – escravo) por nós.
Qual a intenção de nossas ações? Quando nos
esquecemos do fato de que somos pecadores, corremos o grave risco de pensarmos
que somos importantes. Pelo menos, mais que alguém. Um erro crasso.