Matheus Viana
“Seu pulmão está retendo CO2. Isto
significa que sua situação respiratória é crônica. A constante falta de ar que
você tem sentido é por conta de seu pulmão não possuir ventilação suficiente e,
por isso, não libera espaço satisfatório para a entrada de oxigênio.”
Este foi o
diagnóstico unânime dos clínicos gerais da emergência e do pneumologista que me
atende após um exame de gasometria no sangue. A solução para isso foi a
indicação de um aparelho de auxílio ventilatório (e não respiratório) chamado
BIPAP. Não me pergunte o que esta sigla significa, pois eu também não sei. E
não me dei o trabalho de fazer uma pesquisa rápida no Google. Mas sei que ele
ajuda a ventilar os pulmões na medida necessária para que, aos poucos, o CO2
que não consigo liberar por mim mesmo seja liberado para a entrada de mais
oxigênio. O que tem acontecido e me feito sentir melhor.
No entanto, para
que o aparelho faça o efeito esperado, preciso permanecer ligado a ele por no
mínimo 6 (seis) horas diárias. Há dias, quando possível, que permaneço de 7
(sete) a 8 (oito) horas, claro, divididas em períodos de 2 (duas) a 3 (três)
horas. Durante estes períodos, além de assistir televisão para que o tempo
passe mais rápido, reflito sobre minha situação.
Vários são os meus
questionamentos. A história de Jó parece renascer. Um dos meus principais
questionamentos é o por que sinto um desejo enorme de servir a Deus mas
permaneço impossibilitado. A partir disto, surge em meu intelecto o
questionamento sobre o motivo de eu querer servir a Deus: se é para agradar a
Deus ou achar sentido em minha vida atribulada.
Algumas lições
tenho aprendido nestas situações. A primeira é a de que, mesmo com a intenção
correta, corremos o risco de nos tornarmos, a exemplo de Marta, irmã de Lázaro,
ativistas. Preocupada com o servir, mas sem tempo para prostrar-se aos pés de
Jesus (Evangelho segundo Lucas 10:40-42). Eu estava entrando por este caminho.
E o que é pior, sem perceber. Paulo foi um dos cristãos que mais trabalhou em
prol do Evangelho. Mas em situações de prisões e açoites, ele substituía o
tempo que poderia ser usado para o questionamento ou murmuração para... louvar
e adorar a Deus (Atos 16:26-27).
Outra lição é que,
assim como eu retenho CO2 em meus pulmões, adquirimos muitas coisas que são
nocivas a nós e não conseguimos desfazer delas. Não vou fazer aqui uma relação
destas coisas, pois vai ficar parecendo texto autoajuda, ou estes textos
piegas que pretendem ter o caráter de terapêuticos sem serem de fato. O que
posso fazer é citar a questão a fim de propor a reflexão. Esta última, no
entanto, é própria do leitor. Ou seja, qual o “CO2” retido no “pulmão” interior
de seu coração é você quem deve diagnosticar. Lembremos o que o sábio Salomão
adverte: “De todas as coisas que deves guardar, guardas o coração, pois dele
procedem as fontes da vida.” (Provérbios 4:23). Assim como o pulmão precisa
liberar CO2 para a entrada de oxigênio, nosso coração liberará vida se primeiro
receber. E, para receber, precisa ter espaço para isso, ou seja, liberar o
“CO2” que recebemos ao longo de nossa jornada.