Matheus
Viana
Há
alguns meses minha saúde, em especial a respiração, – já bastante precária –
tem piorado consideravelmente. O que tem me deixado fisicamente fraco.
Diante
deste quadro, reflito sobre as limitações – que beiram a impossibilidade – que tenho
para executar o que creio ser o propósito de Deus para mim: fazer e ensinar.
Estas limitações têm aumentado na medida em que tornam-se alvo do meu foco. Levado
pelas emoções, medito na história de Jó. Sim, já a li várias vezes, mas o atual
contexto é peculiar. Movido pelo Espírito, de forma simples e prática, medito
na carta do apóstolo Paulo aos colossenses. Dois relatos completamente
discrepantes para uma experiência comum: o sofrimento.
Jó
estava diante de um contexto cuja degradação era tão horrenda – perdera os 10
filhos, os bens que possuía e fora acometido por uma terrível enfermidade – que
ele, além de amaldiçoar o dia em que nasceu, pediu para si a morte. Apesar de
não blasfemar contra Deus, Jó contemplava os males que o acometia e seu clamor
era a demonstração de seu absurdo desespero.
Com
Paulo era diferente. Ele estava algemado, preso em uma masmorra e havia sido,
por diversas vezes, açoitado por conta de sua fé em Cristo. Mas seu alvo de
contemplação, ao contrário de Jó, não era ele mesmo, ou seja, toda sorte de
males que o acometia, mas o conhecimento de Cristo. Seu clamor não era mórbido
e pessimista como o de Jó. Era, na contramão, de esperança.
Ao
me deparar com tais discrepâncias, fiquei intrigado. O que determinou estas
atitudes tão díspares e contraditórias foi apenas um fator: o alvo de
contemplação. Apliquei estes conceitos em minha vida e constatei: eu sou o alvo
da minha contemplação, juntamente com os males que me acometem. Em outras
palavras, isso é egolatria. E esta atitude redunda, concomitantemente, em
justiça humana. Ou seja, na afirmação enganosa de que Deus é indiferente ao
nosso sofrimento ou de que não o merecemos.
Poderíamos
discorrer sobre teodiceia, mas o meu tempo e sua paciência não permitem. Faremos
isso em outra ocasião, lembrem-me! Em contrapartida, quando temos Cristo como
alvo (Filipenses 3:13-14, Hebreus 12:1-2), nosso latente sofrimento se
transforma em “leve e momentânea
tribulação” (II Coríntios 4:17) quando comparado à “boa, perfeita e agradável vontade de Deus” (Romanos 12:2).
Por
vezes me esqueço de que um genuíno discípulo de Cristo – ainda que não seja
perfeito – não possui vida própria (Evangelho segundo Mateus 16:24). Cruz é
lugar de morte. Ou seja, nossas atitudes devem ser determinadas pela
consciência de que não vivemos para nós mesmos (II Coríntios 4:9-10), mas para
cumprir a plenitude do propósito de nosso Criador. É isso que Jesus quis dizer
quando declarou: “Porque a minha comida
consiste em fazer a vontade daquele que me enviou a fazer a boa obra.”
(Evangelho segundo João 4:34). É por isso que o apóstolo Paulo atesta: “tende em vós a mesma atitude que houve em
Cristo Jesus” (Filipenses 2:5).
Jesus
nos libertou (Evangelho segundo João 8:32-36) para que fôssemos livres e, assim,
nos tornarmos seus escravos (Romanos 6:18). Esta condição, no entanto, não é a
de Jesus para conosco, mas é a nossa para com Ele. Pois assim como o filho
pródigo reconheceu seu erro e se arrependeu, colocando-se diante de seu pai em
uma posição de escravo e foi recebido como filho pelo pai (Evangelho segundo
Lucas 15:21-22), Jesus nos recebe como filhos (I João 3:1) e amigos (Evangelho
segundo João 15:16). Sofrimento não é limitador de altruísmo e do cumprimento
do propósito de Deus a nós. Qualquer afirmação contrária é engano altruístico.