sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Cárcere emotivo


A resposta de Jesus, além de revelar o quanto João, naquele momento, estava preso em suas emoções, revelou também o quanto este cárcere seria nocivo para todo o Plano divino de redenção.

Matheus Viana

Ao ler os quatro primeiros capítulos do meu livro A parábola de um deficiente, minha esposa fez a seguinte observação: “É evidente, em sua narrativa, o quanto você foi uma criança insegura, presa em suas emoções”. Concordei de imediato. Se ainda não o fez, leia o livro e veja que ela tem razão. Mas a afirmação seguinte me deixou estarrecido: “Você ainda é assim”.

Não foi um “puxão de orelha”. Foi simples constatação. Certeira. Precisa. Cirúrgica. Confesso que, em um primeiro momento, quis contestar. Mas não tinha como. Atenciosa esposa que é, me desnudou por completo. O que mais me deixou intrigado, no entanto, foi a expressão ‘preso em suas emoções’. A insegurança é mero efeito colateral.

Sim, a alma tem o poder de nos encarcerar. Mais do que isso. Ela é capaz de determinar o êxito em outros fatores de nossas vidas. É por isso que o apóstolo João diz ao presbítero Gaio: “Amado, acima de tudo, faço votos por tua prosperidade e saúde, assim como é próspera a tua alma”. (III João 2).

Naquele momento comecei a recordar de quantos insucessos experimentei por ser um indivíduo preso em minhas emoções que sempre me emitiram a mensagem de que não conseguiria. Calma! Não se trata de “pensamento positivo” nem qualquer outro clichê existencialista de autoajuda. Mas sim do necessário controle sobre as emoções.

Uma das narrativas que mais me impacta em todas as Escrituras é a de quando Jesus chega ao rio Jordão para ser batizado por João, o Batista. Ao ver Jesus, João declara sem pestanejar: “Eis o cordeiro que tira o pecado do mundo”. (Evangelho segundo Mateus 3:9). João sabia que estava diante do Deus encarnado. Sabia que Ele era a pessoa ao qual havia se referido quando afirmou: “Mas depois de mim virá aquele que é mais poderoso do que eu, do qual não sou digno de desatar as correias de suas sandálias”. (Evangelho segundo Mateus 3:11).

Estarrecido, João indagou: “Eu careço de ser batizado por ti, e vens tu a mim?” (Evangelho segundo Mateus 3:14). A resposta de Jesus, além de revelar o quanto João, naquele momento, estava preso em suas emoções, revelou também o quanto este cárcere seria nocivo para todo o plano divino de redenção. “Jesus, porém, respondendo, disse-lhe: Deixa por agora, porque assim nos convém cumprir toda a justiça. Então ele o permitiu.” (3:15).

Cumprir toda a justiça. Jesus não estava falando apenas da necessidade de ser batizado que a tradição judaica lhe imputava (Evangelho segundo Mateus 5:17). Mas de todo o processo para o cumprimento do plano que Ele, juntamente com Deus, traçou desde a eternidade. Lembre-se, Jesus é o cordeiro morto antes da fundação do mundo (Apocalipse 13:8). Ele sabia o que e como fazer. Portanto, se João fosse sucumbido pelas suas emoções de modo a não cumprir seu chamado de batizar Jesus, todo este maravilhoso plano seria comprometido. E a humanidade arcaria com tamanho prejuízo. (Não deixe de ler o texto Não desperdice seu talento).

O próprio Jesus enfrentou drama semelhante. Momentos antes de sua crucificação, no tenebroso jardim do Getsêmani, a turbulência instalada em suas emoções (Evangelho segundo Mateus 26:38) quase colocou tudo a perder. Por isso, fez a seguinte oração: “Pai, se possível, afasta de mim este cálice”. (Vs. 42). Jesus se referia ao cálice da salvação elucidado por Davi no Salmo 116:13-14, que era a cruz ao qual teria que passar. Para felicidade nossa, Jesus sabia, como ninguém, equilibrar suas emoções: “Mas não seja conforme quero, mas sim como tu queres”. (Vs. 42).

Esse é o controle que devemos exercer em nossas emoções: a alma deve se render, por mais árdua e impossível que pareça, à vontade de Deus. No final ela sempre redunda em vida abundante. Por isso Paulo de Tarso, um dos cristãos que mais sofreu por cumpri-la, a define como boa, perfeita e agradável (Romanos 12:2).

Jesus emitiu a seguinte profecia: “Se o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres”. (Evangelho segundo João 8:36). É óbvio que estava se referindo a Ele mesmo. E esta liberdade inclui a alma. É nisto que consiste em O amarmos, segundo Ele orientou, de todo coração, de toda alma e de todo entendimento. (Evangelho segundo Mateus 22:37).

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Jogando nossa “vara” no chão


O comando divino foi claro: pegue pela cauda! Moisés obedeceu e a serpente, ao invés de virar em um bote rápido e mordê-lo, se transformou, mediante o poder de Deus – sempre Ele -, novamente em vara. A serpente (orgulho) foi extinta. O talento de Moisés foi purificado. Agora sim poderia ser usado como instrumento para a manifestação do poder e da libertação de Deus aos hebreus.

Matheus Viana

Algo óbvio: ser cristão é ser um discípulo de Cristo (Evangelho segundo Mateus 16:24). Atributo que consiste em algumas observações a serem consideradas. Uma delas é de compartilharmos de Seu sentimento (Filipenses 2:5).

Ao exercermos tal consideração é impossível permanecermos indiferentes à ardente expectativa da humanidade (Romanos 8:19). Mais do que mera expectativa, trata-se da necessidade de ser liberta. Temos visto os diferentes, porem coesos, movimentos que, no intento de buscar liberdade, promovem todo tipo de subversão moral, social e espiritual. Há, por exemplo, a aglutinação da chamada ‘Marcha da maconha’ que pleiteia a liberdade de uso do indivíduo. Rota que, mais cedo ou mais tarde, o conduzirá ao cárcere do vício. A incoerência é notória.

A “liberdade” que o pós-modernismo, sob a égide do humanismo, apregoa nada mais é do que o caminho rumo à clausura existencial. Poderíamos elucidar sobre vários outros movimentos atualmente na berlinda. Mas o espaço e sua paciência não permitem.

Assim como Deus, através dos que são chamados a restaurar todas as coisas (Evangelho segundo Mateus 17:11), quer libertar os oprimidos (Evangelho segundo Lucas 4:18 e João 8:36), Ele chamou Moisés para libertar os hebreus que eram escravos no Egito. Mas antes, Moisés precisou passar por um criterioso processo pelo qual também devemos passar.

Depois de revelar a ele Seu plano, Deus lhe pergunta: “O que é isso em sua mão?”. (Êxodo 4:2). Indagação de amplo significado. ““Uma vara”, respondeu Moisés”. Moisés era pastor de ovelhas (Êxodo 3:1). Portava em sua mão o instrumento de seu trabalho. Isso fala dos talentos - sejam eles dinheiro, bens, profissão ou dons - que nos são concedidos por Deus (Evangelho segundo Mateus 25:15, I Coríntios 12:7). São com eles que executaremos sua vontade, a exemplo de Moisés (Êxodo 4:17). Ao lermos as Escrituras, vemos que suas habilidades pastorais foram indispensáveis durante o êxodo dos hebreus rumo à terra prometida. Não é – nem será – diferente conosco.

Aqui está o primeiro grande desafio: ter consciência de nosso talento. Deus sabia o que Moisés portava em sua mão. Ele é ciente do talento que possuímos, pois foi Ele quem nos concedeu. No entanto, Ele deseja que saibamos como e para que usá-lo. Havia revelado a Moisés o intento: libertar o povo hebreu. Restava saber como. A parte mais difícil do processo.

Antes de usar a vara (o talento) de Moisés como instrumento para a manifestação de Seu poder, Deus lhe ordena: “Jogue-a no chão”. (Êxodo 4:3). Ato que simboliza a nossa rendição plena a Ele. Era a representação de que Moisés, para ser o libertador que Deus queria fazer dele, precisava render aquilo que era (um pastor de ovelhas) e o que possuía (uma vara). Resumindo, render toda sua vida.

Em sua visão do Trono de Deus, o apóstolo João relata: “Os vinte e quatro anciãos prostravam-se diante do que estava assentado sobre o trono, e adoravam o que vive para todo o sempre; e lançavam as suas coroas diante do trono, dizendo: “Digno és, Senhor, de receber glória, e honra, e poder; porque tu criaste todas as coisas, e por tua vontade são e foram criadas.”” (Apocalipse 4:10-11). No capítulo 2 de Apocalipse, lemos o Anjo dizendo à Igreja em Esmirna: “Sê fiel até a morte, e dar-te-ei a coroa da vida.” (Apocalipse 2:10). Coroa é o símbolo da fidelidade – em meio a uma intensa perseguição - que aqueles anciãos – como figuras simbólicas - exerceram. Mais do que mero exercício, era traço de suas personalidades.

Quando Moisés jogou sua vara ao chão, ela se transformou em uma serpente. Esta serpente nada mais é do que a personificação da vileza contida no âmago de nosso ser. Herdamos de Adão a natureza pecaminosa (Romanos 3:23, 5:12). É por isso que o profeta Jeremias preconiza: “Pois o coração do homem é enganoso, desesperadamente corrupto. Quem o conhecerá?” (Jeremias 17:9).

O orgulho – que desencadeia toda sorte de corrupção e engano - é o principal empecilho que impede Deus de nos usar. Por isso ele precisa ser extinto. Mas, para isso, precisa ser primeiramente revelado. Contudo, ele só se revela quando nos rendemos a Deus, ou seja, jogamos nossa “vara” no chão. Nunca se esqueça disso: a arma contra o orgulho é o quebrantamento genuíno.

Após fugir da serpente, Moisés ouviu a ordem divina: “Estenda a mão e pegue-a pela cauda”. (Êxodo 4:4). Um momento! Pegar a serpente pela cauda? Então Moisés teria que pegar a serpente pela cabeça, não é verdade? Negativo.

O ato de pegar pela cauda representa a fé que devemos nutrir em relação a Deus. Não apenas no caráter de que Ele é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo que pedimos ou pensamos (Efésios 3:20), mas de que Ele é a nossa fonte. Ou seja, que não podemos nada – absolutamente nada – sem Ele. Nem cumprirmos a promessa que Ele estabeleceu a nós. 

Por isso o comando foi claro: pegue pela cauda! Moisés obedeceu e a serpente, ao invés de virar em um bote rápido e mordê-lo, se transformou, mediante o poder de Deus – sempre Ele -, novamente em vara. A serpente (orgulho) foi extinta. O talento de Moisés foi purificado. Agora sim poderia ser usado como instrumento para a manifestação do poder e da libertação de Deus aos hebreus.

Joguemos nossa vara ao chão, em total rendição a Deus, e deixemos que Ele extermine a serpente do orgulho que reside em nós. A libertação da humanidade depende disso. Pois Jesus já fez a parte Dele...

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Surdos e gagos


Sabemos que boa parte da mensagem disseminada está longe da essência da cruz e de todo o legado de Cristo. O motivo? Não temos ouvido o Evangelho pleno. Consequentemente, não o temos proclamado.

Matheus Viana

Foi trazido à presença de Jesus um homem surdo e com grande dificuldade na fala (Evangelho segundo Marcos 7:31-35). Algumas traduções dizem que ele era gago. Como era de praxe, Jesus o curou. Embora seja um episódio remoto, é completamente pertinente a nós.

Antes de meditarmos nos pormenores da cura, analisemos as deficiências sensoriais que acometiam o homem. São reflexos das deficiências espirituais que nos acometem. Sua surdez representa a nossa incapacidade de ouvirmos a voz de Deus. Sei que a afirmação seguinte causará espanto e indignação. Mas se compararmos o contexto atual com o desejo de Deus de se revelar a nós por meio de Sua Palavra veremos que estamos no mesmo enredo vivido nos dias do menino Samuel: “E o jovem Samuel servia ao SENHOR perante Eli; e a palavra do SENHOR era de muita valia naqueles dias; não havia visão manifesta.” (I Samuel 3:1).

Sim, avançamos muito desde a Reforma Protestante. Temos vivido dias de certa abundância da Palavra de Deus em nosso meio. Mas, na medida em que o Espírito perscruta o coração de Deus e nos revela (I Coríntios 2:10), adquirimos a consciência de que ainda estamos longe do alvo que Ele deseja que alcancemos.

No Éden, Deus falava diretamente com o homem todos os dias na viração do dia. Uma relação de amizade baseada numa aliança de paternidade. Mas, como sabemos, o pecado causou uma grave ruptura que só pôde ser restaurada pelo sangue do cordeiro morto antes da fundação do mundo (Apocalipse 13:8). Ao longo do Antigo Testamento, vemos Deus, com algumas exceções, falando ao Seu povo através de intermediadores: os profetas (Amós 3:7).

Creio (sem contar com informações teológicas para isso) que Deus não intentava levantar profetas ou qualquer outro mediador para fazer Sua voz ser ouvida pelo homem. Mas a quebra no relacionamento criou esta necessidade. Por conta do pecado, fomos separados de Deus (Isaías 59:2), o que nos impede de ouvirmos Sua voz.

Hoje não é diferente. O povo de Deus, mesmo com toda obra que Ele tem feito em nosso meio, ainda não é capaz de ouvir a plenitude de Sua Palavra diretamente da fonte. Os apóstolos e profetas são necessários? Claro que sim! Mas o relacionamento que Deus espera ter conosco é falar diretamente a nós. Que sejamos os profetas que recebam de Sua Palavra e a repasse aos “surdos”, a fim de que seus “ouvidos” sejam abertos e ouçam a voz de Deus de Seus próprios lábios (Evangelho segundo Mateus 17:11).

É neste ponto que outra deficiência se manifesta: a gagueira, ou seja, a incapacidade de falar normalmente. A “gagueira” espiritual consiste em não proclamarmos a plenitude do Evangelho de Cristo. Temos vivido dias de um notável crescimento demográfico dos “evangélicos”. Portanto, sabemos que boa parte da mensagem disseminada está longe da essência da cruz e de todo o legado de Cristo. O motivo? Não temos ouvido o Evangelho pleno. Consequentemente, não o temos proclamado. Pois, conforme preconiza o apóstolo Paulo: “Como ouvirão se não há quem pregue?”. (Romanos 10:14). Só poderemos pregar aquilo que ouvimos.

O homem relatado por Marcos passou a ouvir quando Jesus colocou seus dedos no ouvido dele. Tal gesto é mais do que uma simples dinâmica. A Lei divina foi escrita pelo dedo de Deus (Êx 31:18). Jesus era a Palavra encarnada (Evangelho segundo João 1:1 e 14). Ou seja, o dedo de Jesus no ouvido daquele surdo significa nossos ouvidos espirituais (o coração) sendo inundados pela Palavra de Deus. Só esta plenitude pode curar nossa surdez. Não é a toa que o sábio Salomão adverte: “De todas as coisas que deves guardar, guardas o coração, pois dele procedem as fontes da vida”. (Provérbios 4:23).

Em seguida, com o mesmo dedo, tocou a língua do homem. Isso nos faz lembrar da icônica experiência vivida pelo profeta Isaías, onde seus lábios foram purificados de toda impureza por uma tenaz oriunda do altar de Deus (Isaías 6:7). Jesus disse certa vez: “A boca fala do que está cheio o coração”. (Evangelho segundo Mateus 15:18). Quando nosso coração é cheio do genuíno Evangelho, nossa língua é liberada e nossos lábios purificados para proclamarmos aquilo que ouvimos.

Que sejamos curados de nossa “surdez” e, consequentemente, de toda “gagueira”!

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

A caminho de Emaús


A saga da humanidade

Matheus Viana

No lusco-fusco da madrugada, em pleno curso da aurora, algumas mulheres foram ao sepulcro de um homem oriundo de Nazaré da Galileia que fora morto, dois dias antes, em Jerusalém pelos romanos por ter sido considerado criminoso pelos judeus. Depararam com algo inusitado. A pedra usada para fechar o lugar onde colocaram o corpo estava removida. O sepulcro estava vazio. O fato aparentemente inexplicável encontrava pouso no explicável cumprimento da profecia que dizia: “É necessário que o Filho do homem (...) seja crucificado e ressuscite no terceiro dia”. (Evangelho segundo Lucas 24:7)

Há muito a se falar sobre os desdobramentos desta profecia e da inefável experiência vivida por estas mulheres. No entanto, contenho-me a falar sobre a conduta de dois jovens que, no “frigir dos ovos”, é a mesma da humanidade.

Dirigiam-se para uma pequena cidade chamada Emaús, situada à cerca de onze quilômetros de Jerusalém. No caminho – convenhamos, uma distância considerável já que as viagens eram feitas a pé, a cavalo ou na corcova de camelos – conversavam sobre os fatos ocorridos na grande capital. A morte daquele galileu causou grande repercussão. O dia se transformou em trevas. O templo se fendeu e o véu foi rasgado de alto a baixo. A cidade foi totalmente tomada pelo alvoroço. Enfim, havia muitas coisas para confabularem...

Entretanto, em meio às numerosas análises e reflexões, surge um elemento estranho. Um homem se aproximou deles, os acompanhou pelo caminho em que seguiam e indagou: “Sobre o que vocês estão discutindo?”. (Evangelho segundo Lucas 24:17).

Seria ele um repórter do ‘Folha de Jerusalém’? Se existisse imprensa naquela época, com certeza o fato comentado por aqueles jovens teria sido a principal manchete. Matéria de capa. Pauta especial. Ambos não ficaram surpresos nem tampouco encabulados com a pergunta. Mas o que me chama atenção, quando leio este relato verídico, é que eles pararam com os rostos entristecidos. Perplexos, indagaram ao estranho: “Você é o único visitante em Jerusalém que não sabe das coisas que ali aconteceram nestes dias?”. Ou seja, que sujeito “desantenado” do mundo é este! Para piorar, o indivíduo ainda lhes pergunta: “Que coisas?”.

Antes de aprofundarmos nesta questão, quero refletir sobre o enredo que envolve a humanidade. Somos surpreendidos com os fatos que ribombam, de forma avassaladora e com uma velocidade cada vez mais implacável, na mídia e, quer seja direta ou indiretamente, afetam o nosso cotidiano. No entanto, em meio a este emaranhado escolhemos os nossos próprios caminhos. Ou seja, à margem do centro destes “grandes acontecimentos” sempre utilizamos como escape nossas “Emaús”. Para alguns a “Emaús” é a religião. Para outros, a política, a filosofia, a ciência, o ateísmo, a insanidade... Enfim, cada um se refugia em sua própria clausura.

Bem ao nosso lado está este “estranho” desejoso em nos acompanhar nesta tresloucada jornada, nos oferecendo uma via que, longe de ser alternativa ou se tratar de um mero e enganoso atalho, nos conduz ao horizonte da lucidez, do entendimento, da verdade e da vida (Evangelho segundo João 14:6). Contudo, o tratamos como um desinformado, que não compreende a nossa tristeza por não conhecer nossos infortúnios e sofrimentos. Tão alienado ao apuro alheio que, como perguntou aos dois jovens, nos pergunta: Quais coisas? Quais aflições? Quais sofrimentos?

Desfecho. Os dois jovens resolvem informar o até então “desinformado”. Após elucidarem todos os fatos juntamente com suas frustrações, começaram a ouvir, atentamente, o que o estranho começou a lhes dizer: “Como vocês custam a entender e como demoram a crer em tudo o que os profetas falaram! (...) E começando por Moisés e todos os profetas, explicou-lhes o que constava a respeito dele nas Escrituras”. (Evangelho segundo Lucas 24:27).

Ambos começaram a compreender os fatos: toda aquela aparente catástrofe fora prevista pelos profetas e pelo próprio Galileu crucificado como cumprimento das profecias. Depois de elucidar os desdobramentos aos dois jovens, aquele estranho os convidou para seguirem adiante, mas eles não quiseram. Preferiram ficar em Emaús. E foi ali, quando convidaram aquele estranho a entrar e cear com eles, é que descobriram que era o próprio Jesus. “Não estava queimando o nosso coração, enquanto nos falava no caminho e nos expunha as escrituras?”, questionavam.

Muitas vezes temos a mesma atitude destes dois jovens. Ao invés de enfrentarmos os fatos, mesmo que sejam catastróficos e aparentemente irreversíveis, preferimos sair do epicentro do “terremoto” e refugiarmos em nossas “Emaús”. Por isso, nos encontramos a quilômetros de distância do caminho que nos fora divinamente predestinado (Salmos 139:16, Romanos 8:29). Além disso, culpamos Deus por permitir tais infortúnios e, segundo nossa perspectiva equivocada, achamos que Ele se comporta como um alienado no tocante às nossas lutas e dores.

Mas não nos enganemos! Ele sempre estará caminhando ao nosso lado nos fazendo o seguinte convite: “Eis que estou à porta e bato, aquele que abrir eu entrarei e cearei com ele”. (Apocalipse 3:20). Problemas? Quais problemas? Ele conhece cada uma de nossas lutas, mas naquela cruz do calvário venceu todas elas. E por isso possui toda autoridade para nos garantir: “No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo”. (Evangelho segundo João 16:33). E, baseado neste ultimato, o apóstolo Paulo nos transmite o seguinte ensinamento: “Mas em todas as coisas somos mais do que vencedores, por meio daquele que nos amou”. (Romanos 8:37).

Publicado anteriormente na edição 002 de Profecia

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Pedras que clamam

Jesus intentou fazer algo através da vida de Simão. Contudo, sua personalidade teve que, primeiramente, se tornar uma... Isso mesmo: pedra bruta

Matheus Viana

Pedra bruta. Esta foi a atribuição feita a mim certa vez. Fui acusado de nutrir a prepotência de, por publicar meus textos na revista e no site Profecia, me portar como um pensador. Essa nunca foi minha intenção. No entanto, não posso fazer com que acredite em meus intentos. Aquele que sonda o mais íntimo de nossos corações me conhece (Salmo 139:1-2). Mesmo assim aceitei ser chamado por tal nomenclatura.

Fiz uma súbita associação com o episódio em que Jesus diz para Simão: “Tu és Pedro, e nesta pedra eu edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”. (Evangelho segundo Mateus 16:18). Conforme já elucidei em alguns dos meus textos, na Bíblia, o nome do indivíduo era a demonstração de sua personalidade.

Jesus intentava fazer algo - o nascimento da Igreja - através da vida de Simão. E fez. Contudo, sua personalidade teria que, primeiramente, se tornar uma... Isso mesmo: pedra bruta. Por que bruta? Porque, como tal, sua vida seria edificada sobre a Pedra Angular (Efésios 2:20), o próprio Jesus, e a profecia se cumpriria.

Há uma profecia que diz que a Igreja gloriosa surgirá (Efésios 5:27). A Glória desta última casa será maior do que a primeira, conforme proclamou o profeta Ageu (Ageu 2:9). Por isso, devemos nos tornar pedras brutas a fim de que sejamos, pelo Espírito, edificados na Pedra Angular (Efésios 2:22). Quem se candidata a este posto? Eu aceito!

Tempos depois, lembrei do episódio em que Jesus entra em Jerusalém montado em um jumento e é aclamado pela multidão: “Bendito é o Rei que vem em nome do Senhor! Paz no céu e glória nas maiores alturas”. (Evangelho segundo Lucas 19:38). Veja que este é um aclamar messiânico. Para aquela multidão, naquele momento, a profecia da vinda do Messias se cumprira diante de seus olhos. Algo inefável.

Mas os fariseus foram rápidos em arrefecer a efervescência da ocasião: “Ora, alguns dos fariseus lhe disseram em meio à multidão: Mestre, repreende os teus discípulos! Mas ele lhes respondeu: Asseguro-vos que, se eles se calarem, as próprias pedras clamarão”. (Evangelho segundo Lucas 19:39-40).

Como disse anteriormente, a pedra, para ser edificada sobre a Pedra Angular, precisa ser bruta. O que significa ’bruta’? Independente - e não carente - de toda e qualquer capacitação humana. Simão, caso não tivesse sua identidade transformada, nunca seria o protagonista do nascimento da Igreja, relatado por Lucas no livro de Atos. Pois era inconstante e, por isso, incapaz de cumprir este esplendoroso advento.

Nos tornamos ’pedras’ quando recebemos, a cada dia, o caráter de Jesus até atingirmos Sua estatura (Efésios 4:13). Mesmo assim, devemos ser ’brutas’. Ou seja, dependentes e prontos para a lapidação que apenas o Espírito Santo realiza (II Coríntios 3:18).

A ardente expectativa da criação aguarda pela manifestação dos filhos de Deus (Romanos 8:19). Todavia, os ’filhos’ que saciarão tal necessidade têm um padrão: são fundamentados na pedra Angular a fim de viverem conforme à sua imagem (Romanos 8:29). A revista e o site Profecia têm a missão de proclamar o reino do Messias (Evangelho segundo Mateus 6:10). E a cumprem na medida que podem. Somos, portanto, o cumprimento da profecia de Jesus: “as próprias pedras clamarão”. 

Publicado anteriormente na edição 007 da revista Profecia

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Efeitos colaterais


O ser humano tem a tendência de tomar suas próprias atitudes e a trilhar a conduta que lhe parecer melhor. Portanto, quando lhe acontece algo ruim, Deus é o culpado.

Matheus Viana

Imagine um time de futebol em que você é o técnico. Você não convoca um determinado jogador. Seu time perde o jogo. Quando os jornalistas lhe questionam sobre a derrota, sua resposta é súbita: “a culpa é da ausência do jogador fulano de tal!”. O fato de que você não o convocou, no entanto, é ocultado.

O homem, desde o Éden, escolheu preterir a vontade divina e andar segundo suas próprias convicções. Cobiçou a “liberdade” de viver independente dos planos divinos aos quais o apóstolo Paulo elucida: “Aos que de antemão os escolheu, também os predestinou”. (Romanos 8:29). Subtraímos Deus – e tudo o que é relacionado a Ele – de nossas vidas. Por isso, estamos à mercê dos efeitos colaterais de nossas escolhas. 

Consequentemente, tal verdade também é atribuída a todo mal que porventura venha ocorrer conosco. Adão e Eva escolheram seus próprios caminhos e amargaram seus dissabores. A humanidade tem trilhado a mesma rota.

No entanto, no outro extremo, há os que atribuem a Deus todos os pormenores de suas vidas. A vontade divina torna-se soberana na medida em que nos submetemos ao processo de renovação de mente e experimentamos o quanto ela é boa, perfeita e agradável (Romanos 12:2). Contudo, tal soberania respeita o princípio – divino – do livre arbítrio que foi atribuído ao homem. Um exemplo disso é a tentação.

Deus não permite tentação a qual não possamos suportar (I Coríntios 10:13). Todavia, há muitos que caem em tentações e, na obscuridade e no jugo do pecado, atribuem tal tentação a Deus o culpando por serem sucumbidos por ela.

O apóstolo Paulo preconiza que o homem é vencedor em tudo por intermédio da vitória que Jesus alcançou (Romanos 8:37). Ou seja, quando somos fortalecidos por Ele (Filipenses 4:13) por meio de Sua Palavra. Jesus disse que o Espírito Santo viria para nos guiar por ela (Evangelho segundo João 14:26). Baseado nesta capacitação, as Escrituras dizem através do provérbio de Salomão: “Se o pecado ou o homem mal te seduzir, não o consintas”. (Provérbios 1:10).

Deus não vai resistir a tentação por nós. Ele já fez a parte dEle – providenciar a vitória - , a fim de que façamos a nossa – tomar posse dela e vivermos como vencedores. O apóstolo Paulo e o escritor da carta aos hebreus descrevem Jesus como intercessor (Romanos 8:34, Hebreus 7:25). Isso evidencia a veracidade da advertência proferida por Jesus: “No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, pois eu venci o mundo”. (Evangelho segundo João 16:33). Vida ausente de intempéries e de situações de desalento é religião barata, filosofia psicótica ou charlatanismo puro e simples.

Jesus advertiu seus ouvintes que o caminho proposto por Ele é estreito (Evangelho segundo Mateus 7:14). Ou seja, árduo e difícil. Ele também foi claro sobre os desafios e dificuldades da jornada que designou aos Seus discípulos (Evangelho segundo Mateus 10:8-42). Paulo, o homem que mais influenciou sua geração com o Evangelho de Jesus Cristo, foi claro em relação ao mosaico de desafios que inclui prisões, naufrágios, açoites entre outros perigos de morte. Mesmo assim afirmava em alto e bom som: “Prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus”. (Filipenses 3:14).

A misericórdia de Deus à humanidade que o rejeitou consiste no sofrimento e sacrifício de Seu próprio filho (I João 4:10). Muitos questionam sua bondade pelas catástrofes, barbáries e misérias que existem no mundo. Tal questionamento, na verdade, nada mais é do que a tentativa insana de tirar a responsabilidade de suas escolhas e condutas.

O profeta Isaías é claro e direto: “Eis que as trevas cobrem a terra, e a escuridão os povos”. (Isaías 60:2). Por ser um Deus justo e democrático – pois, repito, respeita o princípio do livre arbítrio – Ele intervém na natureza – incluindo, sobretudo, a humana - quando encontra espaço para agir (Apocalipse 3:20). Este é o problema: não permitimos que Ele aja e, quando o mal acontece, o culpamos por não agir. Mais do que isso: questionamos Sua existência e Sua soberania sobre o universo.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Cobiça x necessidade


Precisamos diferenciar cobiça de necessidade. O fato de o ser humano querer muito algo o faz acreditar que tem necessidade de possuí-lo

Matheus Viana

A alma é uma fonte inesgotável de anseios, desejos e cobiças. Creio que, por conta de nosso coração ser enganoso e desesperadamente corrupto (Jeremias 17:9), a cobiça ocupa um lugar de destaque. Sabemos que o ser humano luta constantemente contra seus maus intentos (Romanos 7:19-20). C.S Lewis no livro ‘Cristianismo puro e simples’ elucida de forma admirável a Lei Moral – a qual nomeamos de consciência - que repousa sobre nós. Por mais que não queiramos, o conceito de certo e errado é latente em nossa psique.

Neste contexto, o pecado – ou qualquer outro nome que você dá a uma atitude errada – floresce. O apóstolo Tiago traz um ensino pertinente: “Então a cobiça, depois de haver concebido, dá à luz ao pecado”. (Tiago 1:15).

Reflita sobre isso e veja que o motivo que o levou a fazer algo que, por mais que você não defina como errado, sua consciência mais íntima define como tal, é justamente a cobiça. O que leva um bandido a roubar algo? Você pode afirmar que é a necessidade. Mas a necessidade e a cobiça estão intimamente ligadas. Veja que, em muitas ocasiões, a cobiça extrema se transforma em necessidade. Este conceito é mais latente nas mulheres, mas os homens também são acometidos por esta espécie de síndrome. O fato de uma mulher querer muito (cobiçar) um sapato novo a faz acreditar que tem necessidade de possuí-lo. É claro que o fato de esta “necessidade” fazer alguém roubar o sapato é exceção. Mas ela não anula a regra de que a cobiça pode se transformar em necessidade.

Sou casado – e muito bem por sinal – mas já caí no pecado da pornografia e da imoralidade algumas vezes. Nunca traí minha mulher na concepção mais usual da palavra, mas já cobicei outras mulheres pela internet e pela televisão. E, conforme Jesus preconiza: “Aquele que olhar para uma mulher com intenção impura, em seu coração adulterou com ela”. (Evangelho segundo Mateus 5:28). O impulso que me levou ao pecado foi a cobiça extrema que me deu a sensação de necessidade de acessar sites pornográficos ou procurar filmes adultos de madrugada.

Esta é a questão. Precisamos diferenciar cobiça de necessidade. Deus exprime sua tristeza através do profeta Jeremias: “Porque o meu povo cometeu dois males: a mim deixou, o manancial de águas vivas, e cavou cisternas, cisternas rotas, que não retêm as águas”. (Jeremias 2:13).

Fazemos isso constantemente. Quando definimos cobiça como necessidade, não pensamos duas vezes em buscar medidas para supri-la. Com isso, o pecado vem à tona. Quando estamos em frente de uma tela de computador e surge a imagem de uma mulher atraente e insinuante que nos leva a cobiçá-la, surge, subitamente, a “necessidade” – que nada mais é do que um desejo aguçado – de clicar sobre ela.

No entanto, quando esta cobiça atinge seu estopim, não precisa aparecer imagem qualquer. Nós mesmos cavamos “cisternas” para saciar nossa sede. Mas, quando terminamos o processo, vemos que ela não foi saciada, pois as cisternas que cavamos não retêm as águas. O que isso significa? Que nunca seremos supridos pelo pecado. Por mais que nos arrependamos, o desejo por ele estará constantemente em nossa alma. É por isso que o apóstolo Paulo afirma: “Pois eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum; pois o querer o bem está em mim, não porém o efetuá-lo”. (Romanos 7:18)...

O que fez com que Lúcifer se tornasse a origem do mal? A cobiça. O profeta Isaías elucida: “E tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu, acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono, e no monte da congregação me assentarei. Subirei sobre as alturas das nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo.”. (Isaías 14:13-14).

É isso mesmo! A origem do mal – independente do nome que você dê a ele - é a cobiça. Segundo as Sagradas Escrituras, Satanás - outrora Lúcifer -, travestido de serpente, induziu a mulher ao pecado e esta, consequentemente, o homem ao mesmo destino. Fato que fundamenta a afirmação do apóstolo Paulo: “Por um homem entrou o pecado, e pelo pecado a morte, e a morte passou a todos os homens”. (Romanos 5:12).

Foi por isso que se apresentou à mulher, no Éden, com o intento de subverter a vida abundante que Deus a concedeu. A estratégia foi a mesma: cobiçar o ilícito. Contudo, a abordagem foi ardilosa. Primeiro deturpou o mandamento divino no intento de relativizá-lo. Pintou a imagem de um Deus tirano que queria impedi-la de viver em plena liberdade.

A estratégia deu certo! A narrativa bíblica elucida três aspectos: “E viu a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento; tomou do seu fruto, e comeu.”. (Gênesis 3:6).

Jesus diz que os olhos são a candeia do corpo (Evangelho segundo Mateus 6:22-23). Ou seja, aquilo que vemos alimenta a nossa alma e determina o nosso comportamento. Vemos este ciclo no episódio de Eva. Ela “viu” que a árvore era boa para comer, “agradável” aos olhos e “desejável para dar entendimento”. Tais atributos a fizeram tomar do fruto e comer. O resultado? Conhecemos bem.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Carta fora do baralho


Os que se dispõem a serem agentes desta reforma intelectual são preteridos. Pois seus princípios, valores e objetivos não são atrativos e nem um pouco interessantes

Matheus Viana

Sei que esta espécie de clamor soará de forma solitária. Já estou conformado com isso! No entanto, sofro da “síndrome do articulista”. Mesmo ciente do risco que ele corre de ser malhado como um boneco de Judas em véspera da páscoa ao se pronunciar sobre algo, não resiste à “tentação” e escreve sua crônica, num comportamento meio que ‘Kami Kaze’.

Bom... Lá vou eu! Há tempos tenho estado desconfortável com o controle que o dinheiro causa no ser humano. Calma! Não sou contra a economia liberal – desde que não exceda os limites da coerência e do valor humano. Mas sou implacavelmente contrário à embriaguez causada por um fascínio excessivo que o capital causa no indivíduo.

Antes, porém, de divagar sobre esta confissão, preciso elucidar a causa dela. Definitivamente, fazer algo no Brasil que demande ao público-alvo o exercício, ainda que seja pequeno, do intelecto é estar disposto a viver uma vida medíocre. Ter o que comer e o que vestir são conquistas estrondosas.

Em contrapartida, o culto à futilidade está cada vez mais lucrativo. O número de pessoas enfeitiçadas por mecanismos de dinheiro fácil, mesmo que seja virtual, é alarmante e, por que não dizer, preocupante. Pois visam adquiri-lo sem, contudo, estarem fazendo algo prático e útil para a sociedade a qual pertencem. 

Veja as imagens do professor e do pensador na sociedade brasileira. São consideradas caricaturais e alvos de constantes repúdios. Ter a imagem vinculada às celebridades é muito mais interessante do que a um intelectual. O próprio valor da palavra “intelectual” está gravemente degradado. Ao ouvirmos, ligamos, automaticamente, a uma pessoa insuportável que não garante, de maneira nenhuma, o divertimento e o prazer social.

Esquecem de que são alguns destes “insuportáveis” que lutam por uma educação de qualidade, por uma política que garanta cidadania digna para todos e por conceder ao brasileiro o desenvolvimento moral e intelectual para que não seja alvo de manipulações, quaisquer que sejam. Não! Estes não têm a mínima importância. Não são lucrativos. Pois tempo é dinheiro! Tempo para pensar e refletir é desperdício financeiro...

O apóstolo Paulo declara a verdade latente em nossos dias que diz: “A ardente expectativa da criação aguarda pela manifestação dos filhos de Deus”. (Romanos 8:19). Enquanto prosseguimos rumo ao alvo de nossos desejos e cobiças, a humanidade está submersa em uma política cada vez mais corrupta, em uma educação pública cada vez mais degradante, em preceitos morais completamente dilacerados e a cidadania digna cada vez mais carente. No entanto, Paulo nos adverte: “Mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis a boa, perfeita e agradável vontade de Deus”.  (Romanos 12:2).

Os que se dispõem a serem agentes desta reforma intelectual são preteridos. Pois seus princípios, valores e objetivos não são atrativos e nem um pouco interessantes.

Muitos criticam a atitude do jovem rico narrada no livro bíblico de Lucas (Capítulo 18:18-30). Mas ela é apenas a demonstração comportamental da esmagadora maioria. Dar aos pobres consiste também em renunciar preceitos e valorizar aquilo que verdadeiramente possui valor. Infelizmente, no contexto de uma sociedade hedonista, estes agentes são considerados os “pobres”. Inaptos para aderirem ao “sistema”.

É conferida à ‘marca da Besta’ apenas uma conotação apocalíptica. Todavia, quando as Sagradas Escrituras dizem: “para que ninguém pudesse comprar nem vender, a não ser quem tivesse a marca...”. (Apocalipse 13:17), estão se referindo ao fato de que, quem não pensar de acordo com este mosaico de valores e prioridades será considerado carta fora do baralho. Pois não conseguirá seguir o ritmo frenético e tresloucado rumo à superficialidade de aparência embriagante.  Tomado por um forte desalento, obedecerá ao início da elucidação do apóstolo Paulo: “Não vos conformeis com este século”. (Romanos 12:2) e também o conselho do apóstolo João: “Não ameis o mundo e nem o que nele há”. (I João 2:15).

Eu sou carta fora do baralho. E você?

Artigo publicado na edição 006 de Profecia. 

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

A semente viva e eficaz


Matheus Viana

Jesus certa vez ensinou: “O Reino de Deus é semelhante a um homem que lança a semente sobre a terra”. (Evangelho segundo Marcos 4:6). Analogia perfeita. O primeiro mandamento que Jesus emitiu aos Seus discípulos foi: “E, indo, pregai, dizendo: É chegado o Reino dos Céus.” (Evangelho segundo Mateus 10:7). A outro homem, proferiu: “Deixe que os mortos sepultem seus mortos, você, porém, vá e proclame o Reino dos Céus”. (Evangelho segundo Lucas 9:60).

Em consonância com a Parábola do Semeador (Evangelho segundo Mateus 13:1-23), a semente que somos chamados a semear é a mensagem deste Reino. Contudo, ela é viva e eficaz (Hebreus 4:12). Ou seja, é o próprio Reino dos Céus em ação sobre a terra (Evangelho segundo Mateus 6:10).

Precisamos esclarecer algo. Há uma grande distância entre pregar o Evangelho, fazendo uso da multiforme e sabedoria que Deus nos concede (Efésios 3:10), e exercer conversão. Veja o manifesto de Paulo, o apóstolo: “Porque, se anuncio o Evangelho, não tenho de que me gloriar, pois me é imposta essa obrigação; e ai de mim se não anunciar o Evangelho!” (I Corintios 9:16). Isso é consciência profética!

No entanto, este árduo comprometimento não anula a verdade fundamental de que o desenvolvimento da semente chamada Reino dos Céus no coração das pessoas não cabe a nós. Palavras do próprio Jesus: “Noite e dia, estando ele dormindo ou acordado, a semente germina e cresce, embora ele não saiba como”. (Evangelho segundo Marcos 4:27). É o Espírito Santo, somente Ele, quem convence o ser humano do pecado, da justiça e do juízo (Evangelho segundo João 16:8). Mas, para isso, conta com o nosso plantio da semente do Evangelho. Um não funciona sem o outro. Não deixe de ler o texto ‘Respeitando fatores

Jesus também disse para fazermos discípulos (Evangelho segundo Mateus 28:19). É aqui que paira a grande confusão. Discípulos de quem? De Jesus, claro. Ainda que a responsabilidade de guiarmos pessoas rumo à plenitude de Cristo (Efésios 4:13) seja nossa (I Coríntios 11:1), através do ‘Fazer e ensinar’ e da ação do Espírito Santo (II Coríntios 3:18), o mestre sempre será Ele. Conforme Paulo preconizou, o desejo de Deus é de ter muitos filhos conformes a imagem de... Ele mesmo: Jesus (Romanos 8:29).

Há um abismo entre império e reino. Grosso modo, um imperador ergue seu império pela imposição da força, subjugando seus súditos. Já o rei de um reino genuíno é aclamado e aceito pelo povo. Somos chamados a pregar o ‘Evangelho do Reino dos Céus’. Contudo, há muitos erguendo impérios subjugando pessoas com um evangelho distorcido em nome de Deus. Por mais que a responsabilidade de levar pessoas ao pleno conhecimento da verdade seja nossa (I Timóteo 2:4), somos apenas sacerdócio real (I Pedro 2:9), nada mais que isso. Não deixe de ler o texto 'Unidade de propósito, diversidade de linguagem'.

Precisamos confessar que, durante nossa trajetória como semeadores, somos tentados a desanimar quando não vemos o crescimento dos devidos frutos. Confesso que vivo este drama. Há períodos – longos, diga-se de passagem – em que temos a triste impressão de que nosso árduo trabalho é vão. Mas precisamos nos lembrar, constantemente, de que a semente uma vez plantada não volta vazia. No devido tempo, ela dará o seu fruto (Isaías 55:11).

Jesus dissertou sobre o coração humano abordando diferentes tipos de terra. Não temos o poder de classificar se ela é boa ou ruim. Nosso dever é plantar a semente do Reino através da prática do Evangelho vivo e eficaz (Tiago 1:22-23).