domingo, 30 de outubro de 2011

Perscrutando o imperscrutável


O anseio de perscrutar o imperscrutável sentido pelo homem o deixa diante de duas alternativas: crer que ele não existe (ateísmo); ou crer que existe e tentar alcançá-lo. Simples assim? Nem tanto!

Matheus Viana

O ateísmo nada mais é do que o produto do fracasso de entender os desígnios de Deus pela mente humana. Confessar tal impossibilidade, no entanto, seria um atestado de incapacidade classificado como derrota. Por isso, ao invés de admitirem a derrota, os ateus partem para o pressuposto de que não há nada nem ninguém que não possa ser perscrutado. Alguns mais radicais, a exemplo do filósofo alemão Friederich Nietzche (1844-1900), rechaçam a própria ideia da metafísica como um todo. Em outras palavras: Deus não existe.

Entretanto, vejamos. A própria ânsia de perscrutar algo comprova a existência de Deus. O ser humano não se satisfaz com o conhecimento, independente da área, que já alcançou. O que é um indício de que Deus colocou no interior do homem o desejo de conhecê-Lo. Contudo, não lhe deu capacidade para tal.

É fato: o conhecimento de Deus e de seus desígnios não pode ser obtido pelo esforço – por maior que seja – da intelectualidade humana. Contudo, isso não anula o anseio de perscrutar o imperscrutável sentido pelo homem, o que o deixa diante de duas alternativas: crer que algo imperscrutável não existe (ateísmo); ou crer que existe e tentar alcançá-lo. Simples assim? Nem tanto!

Caso tenha escolhido a primeira, saiba que, por mais que os ateus não aceitem, o ateísmo nasce de uma fé. Não crer na existência de algo imperscrutável é o mesmo que crer que ele não existe, já que não há provas irrefutáveis de que este ponto de vista seja o verdadeiro. No entanto, muitos que creem que ele existe procuram as muitas alternativas disponíveis para obtê-lo. É exatamente neste ponto que entram em cena as religiões.

A religião, qualquer que seja, poderá satisfazer suas emoções e lhe pregar a impressão de que você está na caminhada rumo ao imperscrutável. Mas, apesar da euforia, você sabe, em seu íntimo, que não está. Paliativos emotivos são tão ineficazes quanto os puramente mentais, que podem ser representados por dogmas filosóficos ou doutrinas religiosas. Ou seja, por mais que a religião ofereça aparatos para atingir e obter o conhecimento do imperscrutável, o máximo que pode é nos fazer andar a esmo, ao redor de nosso latente desejo de alcançá-lo.

Depois desta longa expedição, há outras duas alternativas: desistirmos deste “papo” de religião e espiritualidade ou nos rendermos à verdade de que Jesus, o Cristo, foi a encarnação do imperscrutável de Deus (Evangelho segundo João 1:14). Por que Jesus e não Buda, Confúcio, Maomé ou outro personagem venerado nas muitas religiões existentes em todo o mundo?

Vamos pegar o testemunho de Paulo de Tarso, que não apenas não cria na divindade de Jesus, mas perseguia, em caráter de morte, os que nutriam tal fé e devoção. Depois de um encontro com aquele em quem não cria, escreveu em sua carta aos coríntios: “Porque, qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o espírito do homem, que nele está? Assim também ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus.”. (I Coríntios 2:11).

Aqui temos a primeira evidência de que Jesus era a personificação do imperscrutável de Deus: não era apenas um profeta, um enviado, ou um sábio que falou em nome de Deus, era o Filho do Deus vivo (Evangelho segundo Mateus 16:16) que não apenas possuía o Espírito de Deus (Evangelho segundo Mateus 3:13), mas foi gerado por Ele (Evangelho segundo Mateus 1:21). Por isso João, um de seus discípulos, declarou: “E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade”. (Evangelho segundo João 1:14).

Jesus disse que Ele voltaria para o Pai, mas o Espírito Santo, o consolador, é que revelaria a sabedoria e o conhecimento imperscrutáveis de Deus a nós (Evangelho segundo João 14:26). Baseado neste princípio, o apóstolo Paulo preconiza: “Mas Deus no-las revelou pelo seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus.” (I Corintios 2:10).

Contudo, só receberemos o Espírito Santo ao recebermos primeiramente Jesus como o Filho de Deus (Evangelho segundo João 1:12). Como? Através da fé! “Ora, sem fé é impossível agradar-lhe; porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que é galardoador dos que o buscam”. (Hebreus 11:6).

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Expectativa além das circunstâncias


“Sendo-lhe dito: Em Isaque será chamada a tua descendência, considerou que Deus era poderoso para até dentre os mortos o ressuscitar.” (Hebreus 11:18). Expectativa que extrapolou as circunstâncias.

Matheus Viana

Dor. Algo que ninguém deseja sentir. Contudo, longe de ser um masoquista, afirmo, por experiência própria, que ela tem suas virtudes. Dor é uma espécie de tribulação. E, conforme o apóstolo Tiago ensina: “Meus irmãos, tendes por motivo de toda alegria o passardes por várias provações, sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança”. (Tiago 1:2 e 3).

Há quem refute a afirmação de Agostinho de que a dor é dada por Deus para nos transformar dizendo que ela é obra puramente do diabo. Nem um extremo nem outro. Entretanto, as dores que Jesus sentiu nos açoites brutais que dilaceraram Sua carne e na cruz fizeram parte de todo o mosaico redentor. O próprio Jesus disse a Ananias a respeito de Paulo: “E eu lhe mostrarei quanto deve padecer pelo meu nome. (Atos 9:16). A profecia se cumpriu. Paulo a sentiu, por várias vezes, quando foi açoitado por pregar o Evangelho de Cristo. Ou seja, conforme as Escrituras nos ensinam, sua dor foi em prol do Evangelho, não obra do maligno.

O escritor do livro aos hebreus narra: “Pela fé ofereceu Abraão a Isaque, quando foi provado. Sim, aquele que recebera as promessas ofereceu o seu unigênito.”. (Hebreus 11:17). Que Deus é esse que ordena o pai sacrificar seu único filho? Há dor maior para o pai do que a morte de seu filho? Pior do que isso: o próprio pai teria que imolá-lo. Muito mais do que provar a fé do patriarca e colocar Isaque no devido lugar em que deveria ocupar em seu coração, Deus estava compartilhando com ele um pouco da dor que sentia ao sacrificar Seu próprio Filho, Jesus, antes da fundação do mundo (Apocalipse 13:8). Ele sente a nossa dor antes de nós.

Deus não deixou que Isaque fosse morto. Um cordeiro foi providenciado em seu lugar, fato que apontava para o sacrifício de Jesus. Apesar da dor necessária, Ele está na retaguarda. Verdade que não apenas nos consola, mas norteia.

Todos os dias sou castigado por dores inexprimíveis. Enquanto digito estas palavras, estou acometido por dores musculares que você não faz ideia. Minha curvatura tem aumentado, deformando ainda mais meu corpo bastante frágil. Confesso, além da dor, o pânico e o medo de ser sucumbido me apanham. Será que a severa deformidade dorsal não afetará os pulmões, comprometendo minha respiração? As diminuições do tórax e, consequentemente, da cavidade peitoral não afetarão meu coração? Perguntas que não sei as respostas. Exceto que, pela fé nas Escrituras, o Soberano não permitirá que eu pereça (Romanos 8:11).

Conforme questionei no texto Fé e perseverança: “Seria minha fé em Deus um porto seguro para que o medo da morte não inundasse minhas emoções e me subjugasse a uma depressão fatal?”. Tenho a consciência de que muito mais do que isso. Não se trata de uma “muleta intelectual”, mas mera constatação do óbvio.

No drama que Abraão viveu de ter que sacrificar seu único filho, encontrou forças para crer que o desfecho não seria fúnebre como aparentava. “Sendo-lhe dito: Em Isaque será chamada a tua descendência, considerou que Deus era poderoso para até dentre os mortos o ressuscitar.” (Hebreus 11:18). Expectativa que extrapolou as circunstâncias. Havia uma profecia estabelecida sobre a vida de Abraão que seria cumprida em Isaque. Deus não é homem para que minta (Números 23:19). Seria muita incoerência tirar de cena a pessoa que traria a promessa à tona.

Temos profecias estabelecidas sobre nós, mesmo que não as conheçamos (Salmos 139:16). É pegar ou largar! Por isso, quando nos submetemos ao processo de renovação de mente a fim de vivermos a vontade de Deus, há uma espécie de “seguro divino” que não nos deixa sucumbir. Use-o: é seu direito. Você, com certeza, não será cobrado pelo “sinistro”.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Destruindo o velho, construindo o novo


Uma simples reforma não basta. Não se pode construir algo novo sobre um alicerce deteriorado pelo tempo

Matheus Viana

Para construir algo novo, o velho precisa ser derrubado. É interessante como Jesus tratou o estabelecimento de Sua Igreja (Evangelho Segundo Mateus 16:18) e a destruição do templo (24:2). É notável, ao lermos os Evangelhos, que um não aconteceria sem o outro. O ponto de convergência, no entanto, foi a cruz.

Quando Jesus nela expirou, o véu do templo se fendeu. Pouco tempo depois da visita restauradora a Pedro e aos outros discípulos, a Igreja surgiu. A História se repete. O que os reformadores começaram não foi concluído. Entretanto, uma “simples” reforma não basta. Não se coloca vinho novo em odre velho (Evangelho segundo Mateus 9:17). A profecia do surgimento de uma Igreja gloriosa (Efésios 5:27) e que as portas do inferno não prevalecerão contra ela está longe de se cumprir.

Mas Deus e seus escolhidos continuam com este desejo ardente. Contudo, são cientes de algo: para tal advento, o templo edificado por mãos humanas precisa ser derribado. O Templo de Salomão caiu. No entanto, embora algumas réplicas estejam sendo construídas, o “templo” que precisa ser derrubado é composto por obras erigidas por homens, cujos alicerces estão distante da conduta da Igreja Primitiva.

O que não for de Deus não permanecerá. O mesmo contexto que Jesus vivia quando foi indagado pelos fariseus e anciãos no tocante à sua autoridade enreda o nosso presente. “Com que autoridade fazes estas coisas?”, interrogaram (Evangelho segundo Marcos 11:28). Nós de Profecia temos recebido, a todo tempo, este tipo de pergunta. “Com que autoridade escreves e publicas estas coisas?”.

Como seguidores de Jesus, queremos responder do mesmo modo que Ele respondeu: fazendo uma contra-indagação. “O batismo de João era dos céus ou dos homens?”. (Evangelho segundo Marcos 11:30). Usando o mesmo mote, indagamos nossos detratores: em que temos contrariado as Sagradas Escrituras? Em que temos contrariado a inflamada pregação de João Batista? Em que temos contrariado os ensinamentos de Jesus? Responderemos assim que conseguirem nos responder.

Recebemos argumentações que não passam de tentativas tácitas de responderem tais indagações. Por isso não logram êxito em tal objetivo. E eles sabem disso. Permaneceremos em silêncio neste quesito. Mas a desconfiança continua. Fazer o quê? Nós de Profecia temos plena consciência de que, juntamente com nossos colaboradores e leitores, somos chamados para restaurar todas as coisas (Evangelho segundo Mateus 17:11) e estabelecer o templo que não pode ser feitos por mãos humanas (Efésios 2:20-22), a fim de que a Igreja gloriosa seja erigida (Efésios 5:27).

Temos, através do site e da revista, publicado elucidações e reflexões que visam a derrubada de toda obra que não seja oriunda de Deus a fim de que restauremos Seu reino que consiste em paz, justiça e alegria (Romanos 14:17). De onde vem nossa autoridade? O tempo, por si só, responderá.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Fazer e ensinar

Matheus Viana

Há quem discorde de mim, mas afirmo mesmo assim: o ofício de professor – ou mestre - é o mais importante na formação e no exercício de uma cidadania digna. Não me refiro apenas ao caráter pedagógico e acadêmico - apesar de seu papel fundamental -, mas a toda sua amplitude.

O legado de Jesus se resume em duas ações: fazer e ensinar. O nosso não deve ser diferente. Por isso Lucas, na introdução do livro de Atos, escreve: “Escrevi o primeiro relato, ó Teófilo, acerca de tudo quanto Jesus começou a fazer e ensinar.” (Atos 1:1). O fundamento de Sua Igreja, de acordo com a elucidação do apóstolo Paulo, é desdobramento de Seu ensino (Efésios 2:20) e também de Sua ação (Evangelho segundo Mateus 16:18).

Um de Seus principais ensinamentos foi o de fazer discípulos (Evangelho segundo Mateus 28:19). Discípulo é um aprendiz, ou seja, um aluno. Digo, portanto, que é muito mais do que um aluno, pois não apenas recebe os ensinamentos, mas segue os passos de seu mestre e faz tudo o que ele faz. O próprio Jesus só fez aquilo que viu o Pai fazer (Evangelho segundo João 5:19).

A Igreja se encontra distante do padrão de Jerusalém porque perdeu a disposição de ensinar. Está concentrada apenas no fazer: encher os templos. O tempo investido no ensino minucioso e completo do Evangelho – discipulado - é considerado por muitos como “teologismo inútil” ou “intelectualismo desnecessário”. Ignorando desta forma a advertência de Jesus aos saduceus: “Errais por não conhecerem as escrituras e nem o poder de Deus”. (Evangelho segundo Mateus 22:29).

Os saduceus eram peritos da Torah - Livro da Lei e dos profetas. Mas não conheciam o Logos, ou seja, o próprio Jesus que preconiza: “Examinais as escrituras, pois elas de mim testificam”. (Evangelho segundo João 5:39). Ele é o verbo encarnado (Evangelho segundo João 1:1 e 14). Por isso, não podemos desvencilhar o exercício de nossa intelectualidade baseada nas Escrituras, a fim de termos a mente de Cristo (I Coríntios 2:16), da manifestação de Seu poder mediante o Espírito Santo (Evangelho segundo João 1:12, Atos 1:8). Sim, é verdade que não podemos nos esquecer de, conforme adverte o apóstolo Paulo: “A palavra, por si só, mata, mas o espírito vivifica”. (II Coríntios 3:6). Contudo, a “demonstração de espírito e poder.” (I Coríntios 2:5) não pode anular a meditação e o ensino da Palavra para que nossa mente – isso mesmo, intelecto - seja transformada a fim de experimentarmos Sua boa, perfeita e agradável vontade (Romanos 12:2). 

Todavia, parece que nos esquecemos de que a Igreja de Jesus só foi estabelecida após três anos de um contundente discipulado. Pedro que o diga. Ao olharmos os Evangelhos de maneira acurada, vemos que Jesus apenas ensinou e colocou em prática seus ensinamentos. É exatamente isto que somos chamados a fazer. Isto é Cristianismo. Não há “técnica de evangelismo” mais eficaz do que esta. Não é a toa que o título ao qual Jesus foi reconhecido, na maioria das vezes durante seus 33 anos de vida terrena, foi o de ‘Mestre’.

As cartas de Paulo são nada mais, nada menos do que... ensinos. Por isso ele foi o principal evangelista do Novo Testamento. Seu êxito (II Timóteo 4:6) foi consequência de... Isso mesmo: fazer e ensinar. Muitos definem o termo ‘evangelismo’ como o anúncio das boas novas da salvação, o que não deixa de ser verdadeiro. Jesus nos ensinou a pregarmos o Evangelho a toda criatura (Evangelho segundo Marcos 16:16). E é neste quesito que há algo ainda não compreendido em sua plenitude.

Analisemos o caráter do Evangelho ao qual Jesus praticou. Veja o que Ele, em uma sinagoga – lugar onde os mestres ensinavam -, proclamou: “O Espírito do Senhor é sobre mim. Pois que me ungiu para evangelizar os pobres. Enviou-me a curar os quebrantados de coração.” (Evangelho segundo Lucas 4:18).

No entanto, a pregação do Evangelho pleno consiste em serviço, pois Jesus ensinou: “Não será assim entre vós; mas todo aquele que quiser entre vós fazer-se grande seja vosso serviçal. (...) Bem como o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos.” (Evangelho segundo Mateus 20:26-28). Ou seja, trazer a “boa nova do evangelho” é suprir a necessidade de seu próximo e ser agente de transformação em todos os âmbitos de sua vida. Em outras palavras, fazer e ensinar.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Quem é o meu próximo?


A ignorância no tocante ao nosso próximo não consiste na carência da resposta, mas na falta de comprometimento e empatia para com as respostas que as Escrituras nos oferecem.

Matheus Viana

A parábola do bom samaritano (Evangelho segundo Lucas 10:25-37) é conhecida e exaustivamente transformada em sermões. Porém está repleta de nuances ocultas e fundamentais. A primeira delas é a consequência de quando a Palavra de Deus é tratada como mero objeto de leitura e interpretação.

O mestre da Lei que intentou colocar Jesus à prova era um erudito. Por isso, Jesus o desafiou a colocar todo o conhecimento que possuía em prática. Mas algo o impedia. Apesar de ser perito na interpretação da Lei, era ignorante em relação a quem era seu próximo. Ignorância que impede muitos praticarem a Palavra de Deus.

O apóstolo Tiago exorta: “Sede praticantes da palavra, e não somente ouvintes, enganando-vos com falsos discursos.” (Tiago 1:22). Segundo ele, ouvir a Palavra de Deus sem praticá-la redunda em engano. Infelizmente há muitos sendo enganados, pois acreditam estar servindo a Deus. Contudo, conforme Jesus preconiza àquele mestre da Lei, sem a prática do amor ao próximo não estamos. Tiago também diz: “Porque qualquer que guardar toda a lei, e tropeçar em um só ponto, tem descumprido toda a lei”. (Tiago 2:10).

A pergunta a ser feita é a mesma evocada por aquele mestre: “Quem é o meu próximo?”. As Escrituras emitem, de maneira explícita, a resposta. A ignorância no tocante ao nosso próximo não consiste na carência da resposta, mas na falta de comprometimento e empatia para com as respostas que as Escrituras nos oferecem.

Você que lê minhas reflexões há algum tempo já notou que repito frequentemente a advertência feita pelo apóstolo Paulo aos cristãos em Roma. Devido à urgência que nos enreda, não há como ser diferente. Repetirei quantas vezes for necessária. A ardente expectativa da humanidade aguarda pela manifestação dos filhos de Deus (Romanos 8:19). Nunca se esqueça disto! Necessidade que se dá em todas as vertentes. A diaconisa e coordenadora social Joana Viana elucida: “... não é possível um comprometimento com o Reino de Deus sem um profundo envolvimento em questões sociais”. Verdade indiscutível.

Por quantos anos a Igreja não se envolveu – considerando, claro, o caráter laico do Estado – na política e, com isso, permitiu que “espinheiros” assolem a nação, em todas as esferas, com toda sorte de corrupção? O efeito colateral? A população à míngua de justiça social – respeitando as liberdades econômicas, morais e sociais – e de todo o mosaico que compõe uma cidadania digna.

Por quantos anos a educação, por conta da letargia dos cristãos, tornou-se alvo de disseminação de preceitos nocivos ao público infanto-juvenil que são produtos de uma ‘contracultura’ subversiva? Os meios de comunicação foram dominados por mentes revolucionárias que intentam estabelecer uma Nova Ordem completamente na contramão da “boa, perfeita e agradável vontade de Deus”. (Romanos 12:2) ao ser humano. Devido à ignorância que nos acomete, muitos próximos estão sucumbindo como o homem relatado por Jesus em sua parábola.

“E, respondendo Jesus, disse: Descia um homem de Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos dos salteadores, os quais o despojaram, e espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto.” (Evangelho segundo Lucas 10:30). Aquele homem foi despido, fato que simboliza a perca da identidade de muitos. Quantas crianças são assaltadas e perdem a infância, em tão tenra idade, por conta da sexualidade precoce promovida pelo MEC e pela UNESCO? O que dizer da tentativa de ativistas homossexuais ensinarem nas salas de aulas que meninos se apaixonarem por meninos ou meninas por meninas é algo normal? Quantas mentes estão obscurecidas e, por isso, impedidas de receber a luz do Evangelho que as liberta do opróbrio mental e comportamental que os enreda pelo fato de não termos irradiado esta luz através dos meios de comunicação que nos estão disponíveis?

Aquele que se levanta, no entanto, é colocado à prova por pessoas que, como o mestre que abordou Jesus, não praticam a Palavra de Deus por não terem o conhecimento de quem é o seu próximo. Apesar da abundância de respostas, muitos se esquivam. Jesus falou que um sacerdote e um levita viram a aflição daquele homem, mas passaram “pelo outro lado”. Esses dois personagens eram ministros do templo. Comprometidos com a liturgia do ofício “espiritual”, não se sentiram impelidos nem tampouco responsáveis em socorrer o necessitado. Realidade atual. Não é a toa que o apóstolo Paulo exorta: “Tende em vós o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus”. (Filipenses 2:5). 

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Triunfalismo delirante


 

A fé, mesmo com um discurso positivo nos lábios, é pavimentada por um coração humilde que sabe reconhecer as fraquezas que nele residem. Já o orgulho as ignora.

Matheus Viana

As profecias de Jesus, na maioria das vezes, possuem duas conotações distintas: a curto e a longuíssimo prazo. O aviso que deu aos discípulos, dias antes de ser crucificado em Jerusalém, não foi diferente: “Todos vós vos escandalizareis, porque está escrito: Ferirei o pastor, e as ovelhas ficarão dispersas”. (Evangelho segundo Marcos 14:27).

Advertência completamente atual. A iminência da aprovação de leis que impedem observâncias bíblicas apenas comprovam a veracidade do veredicto messiânico. Em breve seremos considerados criminosos por vivermos e disseminarmos as verdades bíblicas (Evangelho segundo Mateus 24:9-10). Os verdadeiros sacerdotes serão feridos e muitos se dispersarão.

Em outras palavras: a perseguição virá. Ou seja, se intensificará. Pois os que observam e propagam os princípios contidos nas Sagradas Escrituras têm sido feridos de diversas formas. O que chama atenção na narrativa de Marcos, no entanto, é a postura dos discípulos, principalmente a de Pedro.

Ao ouvir a advertência de Jesus, foi rápido no gatilho: “Ainda que todos se escandalizem, eu, jamais!”. Quanta confiança! Excesso baseado em pura prepotência. Orgulho que lhe custou caro. Como já dizia o sábio Salomão, a soberba precede a ruína (Provérbios 16:18). Em amor, Jesus lhe advertiu novamente: “Em verdade te digo que hoje, nesta noite, antes que duas vezes cante o galo, tu me negará três vezes”.

Que balde de água fria! Jesus precisava ser tão pessimista assim? Precisava. Não era mera desconfiança, e sim a revelação plena dos limites de Pedro. Jesus sabe distinguir palavras evasivas, embora entusiasmadas, destoantes de um coração temeroso. Contudo, Pedro, mesmo desnudado, não se rendeu: “Ainda que me seja necessário morrer contigo, de nenhum modo te negarei”.

Conhecemos o desfecho deste episódio. Apesar de enfrentar os soldados romanos no momento em que Jesus era preso, no Getsêmani (Evangelho segundo João 18:10), Pedro titubeou exatamente como o Mestre havia predito (Evangelho segundo Marcos 14:66-72). Todavia, um detalhe tem passado despercebido nos muitos sermões sobre suas afirmações prepotentes: Marcos diz que todos os doze discípulos disseram o mesmo (Evangelho segundo Marcos 14:31).

Tal narrativa é a descrição exata da Igreja atual. Temos buscado um padrão de excelência que, em muitos aspectos, não condiz com o que Jesus espera dela. O foco divino é e sempre será a qualidade que culminará na Igreja Gloriosa (Efésios 5:27). Muitos filhos, sim, mas conforme à imagem de Jesus (Romanos 8:29). É comum pessoas dizerem, em uníssono, que não abandonarão a fé mesmo nas situações mais adversas. Mas, basta uma adversidade para que o discurso e a atitude mudem.

A linguagem da fé é totalmente diferente do triunfalismo delirante. A fé, mesmo com um discurso positivo nos lábios, é pavimentada por um coração humilde que sabe reconhecer as fraquezas que nele residem (Salmos 51:17, Jeremias 17:9). Já o orgulho as ignora. Paulo era um homem que nutria a linguagem da fé (Filipenses 3:14) e, ao mesmo tempo, sabia reconhecer suas debilidades (II Coríntios 12:10).

O cristianismo presente se baseia em retóricas ufanistas. Aquele que se mostrar o mais compromissado com a causa, mesmo não estando em seu coração, é o modelo de excelência. No entanto, conforme Jesus disse aos discípulos, seremos peneirados como o trigo. E, embora o espírito pareça pronto, a carne é fraca (Evangelho segundo Marcos 14:38). Na hora ‘h‘, irão sucumbir.

Não se trata de pessimismo, mas de simples constatação. Pedro já havia recebido a profecia de que seria o protagonista do estabelecimento da Igreja de Jesus sobre a Terra (Evangelho segundo Mateus 16:18), porém ainda não estava pronto para tal façanha. Mesmo assim, quis impressionar o Mestre. Por se portar como um triunfalista delirante, provou do dissabor do fracasso. Que não trilhemos esta rota!