quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Adornados com folhas


Adão e Eva usaram folhas de figueira para ocultar a nudez. Ou seja, foi a medida paliativa para esconder o pecado e aplacar a culpa. Propósitos que a religiosidade busca, sem sucesso, alcançar.

Matheus Viana

Já havia escrito o texto ‘Fruto ou folha’. No entanto, durante uma meditação bíblica, me deparei com algo que não havia notado. “Então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; e coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais.” (Gênesis 3:7).

“Folhas de figueira”. Lembrei-me, de súbito, da figueira a qual Jesus amaldiçoou. Já teci um comentário no texto anteriormente citado. Mas ao ler a narrativa de Gênesis, passei a compreender uma nova faceta.

Adão e Eva usaram folhas de figueira para ocultar a nudez. Ou seja, foi a medida paliativa para esconder o pecado e aplacar a culpa. Propósitos que a religiosidade busca, sem sucesso, alcançar.

Jesus olhou para aquela figueira e queria frutos para saciar a fome que sentia. No entanto, só encontrou folhas. Deus apareceu no Éden com "fome" de arrependimento e relacionamento com Adão e Eva. Mas encontrou-os “adornados” com folhas de figueira. Creio que Jesus se lembrou daquela cena fatídica. Assim como o Pai, não encontrou o que desejava. Adão e Eva, como aquela figueira, foram amaldiçoados por suas folhas.

Muitas vezes agimos assim. Ao invés de confessarmos os nossos pecados e a nossa incapacidade de satisfazermos, por nós mesmos, a vontade divina, nos adornarmos com folhas a fim de escondermos nossas vergonhas e fracassos. Jesus rechaçou este comportamento em um severo sermão (Evangelho segundo Mateus 23:1-23).

O fruto principal que Deus deseja encontrar em nós é o arrependimento. Por isso João Batista proclamava: “Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento”. (Evangelho segundo Mateus 3:8). A falta de frutos da figueira amaldiçoada por Jesus é o reflexo da falta de arrependimento de Eva, que culpou a serpente, e Adão, que culpou Eva, quando foram confrontados por Deus.

Deus vem ao nosso encontro para nos transformar. Conforme disse no texto ‘Fruto ou folha’, folhas não saciarão a vontade divina. Apenas ocultarão as nossas falhas e vergonhas. A vestimenta que Deus nos concede é de pele (Gênesis 3:21), o que simboliza o sacrifício de Jesus, o cordeiro morto antes da fundação do mundo (Apocalipse 13:8). No entanto, só a receberemos quando passarmos pela cruz que nos é proposta (Evangelho segundo Mateus 16:24) que consiste em arrependimento dos pecados e renúncia à toda religiosidade. Em outras palavras: nada de folhas de figueira.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Não desperdice seu talento


Fico imaginando se João Batista não usasse o talento que lhe foi conferido: o de batizar no rio Jordão. Era perito neste ofício. Tanto que o próprio Jesus se apresentou para ser batizado por ele.

Matheus Viana

Sei que o título soa autoajuda. Mas acredite, não é. O relato contado por Jesus e elucidado por Mateus (Evangelho segundo Mateus 25) nos oferece um panorama distinto sobre um tema bastante explorado: não apenas o não usá-lo, mas também, e principalmente, a carência de confiança nele.

O segundo fator desencadeia o primeiro, em ordem reversa, obviamente. Um efeito cascata que culmina na reprovação por parte do Senhor. Talento é algo atribuído ao homem por Deus. Por isso, não confiar no talento que possuímos é não crer nAquele que nos capacita. Em outras palavras: desprezo.

Definição forte? Concordo. Mas trata-se da mais pura e simples verdade. Quem somos nós para desprezarmos o Criador? Pois é! Mesmo assim agimos, inconscientemente, desta forma extremamente absurda.

O rechaçar do Senhor é firme e objetivo: “Servo mau e infiel”. Esta, muitas vezes, é a nomenclatura que recebemos em detrimento de nossa má conduta perante Deus e dos homens. É a mesma coisa que um pai disponibilizar uma exorbitante quantia de recursos ao filho e este padecer de fome entre outras necessidades. Pois, apesar dos recursos os quais lhe pertencem e estão disponíveis, o filho acha que não são suficientes para lhe suprir.

Insensatez. Por causa dela, privamos Deus de agir na humanidade através dos talentos que Ele nos concedeu. A profecia diz que “a ardente expectativa da criação aguarda pela manifestação dos filhos de Deus”. (Romanos 8:19). Cuja manifestação se dará através do pleno exercício dos talentos que nos foi, juntamente com uma dose cavalar de responsabilidade, outorgados. “A quem muito é dado, muito será cobrado.” (Evangelho segundo Lucas 12:48). 

Quantos intelectos deixariam de ser instigados sem a literatura de Dostoiévski? Quantas almas deixariam de ser acalentadas sem a musicalidade de J.S. Bach? Quantos ouvidos deixariam de ouvir o Evangelho de Cristo sem a vocação e avidez de homens como Jonathan Edwards, Charles Spurgeon, Charles Finney, Dwight Moody e Billy Grahan?

Fico imaginando se João Batista não usasse o talento que lhe foi conferido: o de batizar no rio Jordão. Era perito neste ofício. Tanto que o próprio Jesus se apresentou para ser batizado por ele.

A frase dita por Jesus a João nos remete a um profundo nível de análise. Quando João viu que Jesus, o cordeiro que tiraria o pecado do mundo, aquele de quem não era digno de desatar as sandálias, veio humildemente para ser batizado, titubeou em batizá-lo. No entanto, Jesus lhe diz: “Convém que seja desta forma para que se cumpra toda a justiça”.

Já parou para pensar nisto? Toda a justiça divina, existente desde a fundação do mundo (Apocalipse 13:8), seria comprometida se João desistisse de exercer seu talento. Jesus teria que ser batizado para que se cumprissem as profecias. Teria que passar por todos os parâmetros da justiça que Deus desejou estabelecer na terra. No livro de Atos, Lucas, um dos seguidores de Jesus, diz; “Falando a respeito de todas as coisas que Jesus começou a fazer e a ensinar”.

Imagine se Jesus não fosse batizado por João! Ele não teria recebido do Espírito de Deus que testificou de que era Seu filho (Evangelho segundo Mateus 3:13), não teria vencido no deserto, realizado seu ministério e, com certeza, meramente como homem, não teria se submetido à cruz. Resultado? A humanidade estaria fadada à perdição. Tudo pelo “simples” fato de João Batista não exercer seu talento.

Não desperdice o seu! Confiemos nele como extensão de nossa fé nAquele que o concedeu a nós. Pois, acredite, esta dádiva impagável possui segundas intenções. E Ele quer desfrutar do retorno deste nobre investimento, não tenha dúvida disto.

Talento possui o mesmo ímpeto das águas. Não podemos contê-lo. Mais cedo ou mais tarde, a “represa” da incredulidade e da insegurança romperá. Jesus falou sobre isso quando disse: “Mas aquele que crer em mim como diz as Escrituras, de seu interior fluirão rios de águas vivas”. (Evangelho segundo João 7:38). Advento que culminará no cumprimento pleno da profecia que diz: “E toda terra se encherá do conhecimento de Deus, assim como as águas cobrem o mar”. (Isaías 11:9). 

Fruto ou folha?

“Folhas” não saciarão a necessidade do Mestre. Por isso, devemos ser sinceros em reconhecer a nossa incapacidade de gerar o fruto genuíno e buscarmos estar cada vez mais ligados à videira.


Matheus Viana

Jesus teve fome. Não havia jejuado como nos quarenta dias que passou no deserto após ser batizado no Jordão. Apenas sentia a necessidade do Deus Filho que se tornou plenamente homem (Filipenses 2:7). Embora não seja levada em consideração na maioria dos sermões, a fome de Jesus foi o fator determinante que desencadeou as ações subsequentes.

Viu uma figueira com folhas. Algo que denotava a existência de frutos. Ledo engano! Jesus, faminto, se aproximou dela e nada encontrou (Evangelho segundo Marcos 11:13). O motivo era óbvio: não era tempo de figos.

Cabe aqui uma singela reflexão. Por muitas vezes queremos suprir nossas necessidades em “figueiras” aparentemente frondosas, repletas de folhas. Mas sem nenhum fruto. Incompetência ou má qualidade? Nenhum dos dois. Apenas não é o tempo de frutificar.

Quantas pessoas são cobradas a dar frutos fora do tempo? Por não corresponderem ao tempo exigido, são, de certa forma, amaldiçoadas. “Esta aqui não é ‘frutífera’, não serve”. Jesus não condenou, ao amaldiçoar a figueira, a falta de frutos. Mas sua aparência enganosa e o que ela produziu: meras folhas.

O fruto que Jesus espera de nós está relatado no capítulo 15 do Evangelho segundo João. Ele é oriundo de estarmos ligados, enraizados na videira. Jesus é a videira. Logo, o fruto que Ele deseja encontrar é a manifestação plena de sua vida em nós, a fim de que o sonho de Deus, elucidado pelo apóstolo Paulo em sua carta aos romanos (8:29), se concretize.

Folhas não servem. O fruto desejado por Deus leva tempo. Se desenvolve paulatinamente, de glória em glória (II Coríntios 3:18). A figueira, na teologia cristã, simboliza a religiosidade. A atitude de Jesus em amaldiçoá-la, por mais que pareça, não foi equivocada. Nem um pouco. Com isso, Ele nos deixou algumas lições a seguirmos.

A primeira é que nunca podemos esconder a nossa falta de frutos com folhas. Ou seja, com atos que sustentam nossa superficialidade. Nossos feitos serão provados. E é no momento da prova que veremos se a nossa conduta cristã é fruto ou não passa de folha. A segunda é que precisamos esperar o tempo da frutificação. “Folhas” não saciarão a necessidade do Mestre. Por isso, devemos ser sinceros em reconhecer a nossa incapacidade de gerar o fruto genuíno e buscarmos estar cada vez mais ligados à videira. Pois a única coisa que colheremos ao produzirmos apenas “folhas” é o juízo divino. 

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Síndrome de ‘caramujo’


 “Por isso, pela graça que me foi dada digo a vocês: Ninguém tenha de si mesmo um conceito mais elevado do que deve ter; mas, ao contrário, tenha um conceito equilibrado, de acordo com a medida de fé que Deus lhe concedeu”. (Apóstolo Paulo - Romanos 12:3).

Matheus Viana

Quem me conhece sabe que sou portador de uma severa cifose torácica. Deformidade que acomete também minha coluna e que limita meu corpo em demasia.

Por conta disso, confesso: por muitas vezes me intimido. Ao longo dos treze anos em que esta anomalia me escraviza, enclausuro-me na falta de autoconfiança. Todavia, passei também a ser acometido, consequentemente, pela ‘síndrome do caramujo’.

Como editor da revista Profecia sou alvo de constantes ataques. Apesar de ser um deficiente físico, sei discernir, e bem, a abismal diferença entre livre expressão e afronta.

Ao recebê-los, a síndrome se manifesta. Penso duas vezes em respondê-los. O que me faz pensar? O fato de ser um deficiente físico. Mas... Espere! Sou deficiente físico e não mental. Posso muito bem exercitar meu intelecto de modo a desvanecer as trevas que enegrecem a consciência e a lógica de alguns remetentes. Conforme a Bíblia afirma, a Palavra de Deus é a luz para os nossos caminhos (Salmos 119:105).

Assim que os respondo, tomado por este ímpeto repentino, a síndrome vem à tona provocando um abrupto arrefecimento. O que eles vão pensar de mim? Que sou uma pessoa soberba? Antipática? Inflexível? Enfim, muitas coisas surgem em minha mente aflita. Além de tudo isso, sou constantemente lembrado de que não passo de um deficiente físico. As dores insuportáveis que castigam o meu corpo frágil não me deixam esquecer este fato.

Contudo, Deus me confiou algo mesmo sendo eu imperfeito em todos os sentidos. Preciso cumprir o meu chamado independente do que as pessoas pensem de mim. Ser humilde, algo que as Sagradas Escrituras salientam (Evangelho segundo Mateus 11:29, Tiago 4:7), não significa anular os conhecimentos e as experiências adquiridas ao longo da vida.

Não foi em vão que Deus permitiu que eu, com tenros seis anos, gostasse de copiar trechos da Bíblia em um caderno brochura cedido pela minha avó para conter o meu excesso de energia infantil. Não foi em vão que dos sete aos dez anos eu era fascinado em escrever histórias. Não foi em vão que comecei a estudar a Bíblia com 12 anos. Não foi em vão que a partir dos 17 anos decidi me dedicar à arte da escrita, algo em que insisto até hoje, estando eu próximo das 30 primaveras...

Não foi em vão que permaneci, por alguns anos, sentado naquele insólito e opressor corredor 09 da ortopedia do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto por quase nove horas seguidas. E, enquanto aguardava atendimento, minha alma era alimentada por trechos das Sagradas Escrituras. Não foi em vão a severa limitação ao qual sou acometido. Não! Quando a síndrome se manifesta, ela é acompanhada de dores imensuráveis que castigam minhas costas me lembrando quem sou. Não apenas de ser um deficiente físico, mas de ser a pessoa que Deus me transformou em todos estes anos e através de todas estas adversidades.

Não posso viver sob o jugo desta síndrome. Não posso viver sob o cárcere das avaliações e opiniões alheias. Não importa o que pensem de mim. O que importa, de fato, é o que Deus deseja que eu seja. Ele não permitiu todas estas experiências sem propósito (Romanos 8:28).

Por isso eu quero cumpri-lo de maneira plena e ser liberto do ‘caramujo’ que me enreda. Ou seja, observar o ensinamento do apóstolo Paulo: “Por isso, pela graça que me foi dada digo a vocês: Ninguém tenha de si mesmo um conceito mais elevado do que deve ter; mas, ao contrário, tenha um conceito equilibrado, de acordo com a medida de fé que Deus lhe concedeu”. (Romanos 12:3).

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

A cruz da personalidade

O que levou Jesus à cruz? Seu amor e devoção à soberana vontade de Deus. Mas no âmbito social, foi condenado à cruz por um motivo específico: confessar sua identidade e viver de acordo com ela



Matheus Viana

As mãos pregadas no madeiro. Os braços esticados ao extremo acima da linha do ombro. Um pescoço fatigado que não conseguia manter a cabeça, bastante machucada, ereta. O pulmão comprimido que limitava, em demasia, sua respiração. Suas pernas, extenuantes após uma longa e árdua caminhada com uma pesada e maciça cruz sobre o dorso, pregadas e levemente dobradas. O sangue vertia através de suas muitas feridas. Seu corpo estava dilacerado pelos açoites romanos. A dor era inexprimível.

Mas a calamidade não era apenas física, era também emocional. Fora traído por um indivíduo que frequentava seu círculo de amigos. Seus discípulos o abandonaram. Preterido em lugar de um assassino. Crucificado como um criminoso maldito. O próprio Deus Pai o abandonou. Apesar da multidão que o acompanhava como um mero espetáculo de catarse, estava só.

Certamente você já se encontrou em situações deploráveis, físicas ou emocionais. Mas garanto que nenhuma é comparada com a que Jesus experimentou. Seu sacrifício foi único e perfeito, é verdade. No entanto, o cristianismo pleno consiste em passarmos por experiências semelhantes. Não é a toa que o próprio Jesus diz: “Aquele que quiser me seguir, negue-se a si mesmo, tome cada um a tua cruz e siga-me”. (Evangelho segundo Mateus 16:24).

O que levou Jesus à cruz? Seu amor e devoção à soberana vontade de Deus. Mas no âmbito social, foi condenado à cruz por um motivo específico: confessar sua identidade e viver de acordo com ela. Em meio ao controverso julgamento em Jerusalém, não se defendeu de nenhum dos disparates e calúnias que diziam ao seu respeito. Mas quando foi questionado sobre sua identidade, não titubeou: “... o sumo sacerdote lhe perguntou: “Você é o Cristo, o Filho do Deus Bendito?”. “Sou”, disse Jesus. “E vereis o Filho do Homem assentado à direita do Poderoso vindo com as nuvens do céu”. (Evangelho segundo Marcos 14:62).

Jesus sabia que a confiança sobre quem era determinaria o êxito da soberana vontade divina sobre sua vida. Não pode ser diferente conosco. Se a nossa identidade for desfigurada, o plano divino será comprometido. Por isso devemos ser cada vez mais seguros de quem verdadeiramente somos, independente das opiniões alheias. Não se trata de autoajuda barata. É questão de sã consciência. O exercício do genuíno cristianismo - e o consequente estabelecimento do Reino dos céus - depende disso. Contudo, se o seguirmos à risca, será impossível não termos algozes que colocarão nossa identidade em xeque e nos perseguirão de alguma forma.

Por toda sua vida, a identidade de Jesus foi, mais do que provada, colocada em xeque. Na primeira vez que ensinou na sinagoga em sua terra natal, apesar da admiração dos presentes ao modo como expunha as Escrituras, não acreditaram que era o cumprimento da profecia que elucidava (Evangelho segundo Lucas 4:16-30). Mais do que descrença, uma fúria súbita os tomou ao ponto de quererem jogá-lo de um precipício. Para eles, Jesus não poderia ser o Messias profetizado pelo profeta Isaías, pois não passava do “filho do carpinteiro”. No entanto, Jesus logrou êxito em sua missão por não permitir ser condicionado pelo que as pessoas diziam dEle, mas guiar sua vida por aquilo que, de fato, era. Repito: não é diferente conosco!

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Gotas


As “águas” do conhecimento divino que encherão a terra, de acordo com o próprio Jesus, fluirão de nosso ventre.

Matheus Viana

Não. Este título não se refere à nomenclatura popular de uma patologia reumática. Mas sim de nossa posição e ação no tocante à plenitude do plano divino proclamado pelo profeta Isaías: “E toda terra será cheia do conhecimento do Senhor, assim como as águas cobrem o mar”. (Isaías 11:9). A fim de corroborar seu cumprimento, Isaías preconiza como porta voz de Deus: “ Assim será a palavra que sair da minha boca; ela não voltará para mim vazia, antes fará o que me apraz, e prosperará naquilo para que a enviei.” (Isaías 55:11).

No entanto, Jesus revela como este veredicto será estabelecido: “De fato, o Elias virá e restaurará todas as coisas”. (Evangelho segundo Mateus 17:11). Mas, afinal, que “Elias” é esse? Grosso modo, pessoas simples que liberam a Palavra de Deus cuja voz é, conforme as Escrituras afirmam, “voz de muitas águas”. (Ezequiel 43:2; Apocalipse 1:15). Por isso, elucida: “Quem crê em mim, como diz a Escritura, rios de água viva fluirão do seu ventre.” (Evangelho segundo João 7:38). É aqui que entra o “x” da questão.

Somos chamados a crer (Evangelho segundo Marcos 5:36, Hebreus 11:6). Contudo, não é uma fé qualquer, mas em algo específico e que segue um padrão definido: “como diz a Escritura”. As “águas” do conhecimento divino que encherão a terra, de acordo com o próprio Jesus, fluirão de nosso ventre. E, conforme o relato de Isaías, este conhecimento é Sua Palavra que é Espírito e Vida (Evangelho segundo João 6:63). É claro que são metáforas. Por isso, somos, individualmente, gotas (ou se preferir, pequenos reservatórios de água). Mas na unidade relatada por Jesus em sua oração sacerdotal (Evangelho segundo João 17:21) formaremos um imensurável oceano.

Entretanto, só podemos jorrar algo de nosso interior depois que o recebemos. Ao batizar Jesus, João Batista declara: “Eu vos batizo com água para arrependimento; mas aquele que vem depois de mim é mais poderoso do que eu, cujas sandálias não sou digno de levar. Ele vos batizará com o Espírito Santo..”. (Evangelho segundo Mateus 3:11 – Ênfases acrescentadas). Todavia, Jesus só recebeu esta autoridade de batizar não somente pelo fato de Ser Deus (Evangelho segundo João 1:1,14), mas por ter passado primeiramente pelas águas. (Evangelho segundo Mateus 3:18).

Portanto, pensemos de maneira sensata: Jesus tinha algum pecado para se arrepender e ser purificado? Não. A Bíblia afirma de forma convicta que Ele não pecou em nenhum momento (I Pedro 2:22, Hebreus 4:15). Contudo, passou por este processo para cumprir os princípios divinos e nos mostrar o caminho que devemos seguir.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

A caminho de Emaús


A saga da humanidade

Matheus Viana

No lusco-fusco da madrugada, em pleno curso da aurora, algumas mulheres foram ao sepulcro de um certo homem oriundo de Nazaré da Galiléia que fora morto, dois dias antes, em Jerusalém pelos romanos por ter sido considerado criminoso pelos judeus. Depararam com algo inusitado. A pedra usada para fechar o lugar onde colocaram o corpo estava removida. O sepulcro estava vazio. O fato aparentemente inexplicável encontrava pouso no explicável cumprimento da profecia que dizia: “É necessário que o Filho do homem (...) seja crucificado e ressuscite no terceiro dia”. (Evangelho segundo Lucas 24:7)

Há muito a se falar sobre os desdobramentos desta profecia e da inefável experiência vivida por estas mulheres. No entanto, contenho-me a falar sobre a conduta de dois jovens que, no “frigir dos ovos”, é a mesma da humanidade.

Dirigiam-se para uma pequena cidade chamada Emaús, situada à cerca de onze quilômetros de Jerusalém. No caminho – convenhamos, uma distância considerável já que as viagens eram feitas a pé, a cavalo ou na corcova de camelos – conversavam sobre os fatos ocorridos na grande capital. A morte daquele galileu causou grande repercussão. O dia se transformou em trevas. O templo se fendeu e o véu foi rasgado de alto a baixo. A cidade paralisou e foi totalmente tomada pelo alvoroço. Enfim, havia muitas coisas para confabularem...

Entretanto, em meio às numerosas análises e reflexões, surge um elemento estranho. Um homem se aproximou deles, os acompanhou pelo caminho em que seguiam e indagou: “Sobre o que vocês estão discutindo?”. (Evangelho segundo Lucas 24:17).

Seria ele um repórter do ‘Folha de Jerusalém’? Se existisse imprensa naquela época, com certeza o fato comentado por aqueles jovens teria sido a principal manchete. Matéria de capa. Pauta especial. Ambos não ficaram surpresos nem tampouco encabulados com a pergunta. Mas o que me chama atenção, quando leio este relato verídico, é que eles pararam com os rostos entristecidos. Perplexos, indagaram ao estranho: “Você é o único visitante em Jerusalém que não sabe das coisas que ali aconteceram nestes dias?”. Ou seja, que sujeito “desantenado” do mundo é este! Para piorar, o indivíduo ainda lhes pergunta: “Que coisas?”.

Antes de aprofundarmos nesta questão, quero refletir sobre o enredo que envolve a humanidade. Somos surpreendidos com os fatos que ribombam, de forma avassaladora e com uma velocidade cada vez mais implacável, na mídia e, quer seja direta ou indiretamente, afeta o nosso cotidiano. No entanto, em meio a este emaranhado escolhemos os nossos próprios caminhos. Ou seja, à margem do centro destes “grandes acontecimentos” sempre utilizamos como escape nossas “Emaús”. Para alguns a “Emaús” é a religião. Para outros, a política, a filosofia, a ciência, o ateísmo, a insanidade... Enfim, cada um se refugia em sua própria clausura.

Todavia, bem ao nosso lado está este “estranho” desejoso em nos acompanhar nesta tresloucada jornada. Nos oferecendo uma via que, longe de ser alternativa ou se tratar de um mero e enganoso atalho, conduz ao horizonte da lucidez, do entendimento, da verdade e da vida (Evangelho segundo João 14:6). Contudo, o tratamos como um desinformado, que não compreende a nossa tristeza por não conhecer nossos infortúnios e sofrimentos. Tão alienado ao apuro alheio que, como perguntou aos dois jovens, nos pergunta: Quais coisas? Quais aflições? Quais sofrimentos?

Desfecho. Os dois jovens resolvem informar o até então “desinformado”. Após elucidarem todos os fatos juntamente com suas frustrações, começaram a ouvir, atentamente, o que o estranho começou a lhes dizer: “Como vocês custam a entender e como demoram a crer em tudo o que os profetas falaram! (...) E começando por Moisés e todos os profetas, explicou-lhes o que constava a respeito dele nas Escrituras”. (Evangelho segundo Lucas 24:27).

Ambos começaram a compreender os fatos: toda aquela aparente catástrofe fora prevista pelos profetas e pelo próprio galileu crucificado como cumprimento das profecias. Depois de elucidar os desdobramentos aos dois jovens, aquele estranho os convidou para seguir adiante, mas eles não quiseram. Preferiram ficar em Emaús. E foi ali, quando convidaram aquele estranho a entrar e cear com eles, é que descobriram que aquele estranho era o próprio Jesus. “Não estava queimando o nosso coração, enquanto nos falava no caminho e nos expunha as escrituras?”, questionavam.

Muitas vezes temos a mesma atitude destes dois jovens. Ao invés de enfrentarmos os fatos, mesmo que sejam catastróficos e aparentemente irreversíveis, preferimos sair do epicentro do “terremoto” e refugiarmos em nossas “Emaús”. Por isso, nos encontramos a quilômetros de distância do caminho que nos fora divinamente predestinado (Salmos 139:16, Romanos 8:29). Além disso, culpamos Deus por permitir tais infortúnios e, segundo nossa perspectiva equivocada, achamos que Ele se comporta como um alienado no tocante às nossas lutas e dores.

Mas não nos enganemos! Ele sempre estará caminhando ao nosso lado nos fazendo o seguinte convite: “Eis que estou à porta e bato, aquele que abrir eu entrarei e cearei com ele”. (Apocalipse 3:20). Problemas? Quais problemas? Ele conhece cada uma de nossas lutas, mas naquela cruz do calvário venceu todas elas. E por isso possui toda autoridade para nos garantir: “No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo”. (Evangelho segundo João 16:33). E, baseado neste ultimato, o apóstolo Paulo nos transmite o seguinte ensinamento: “Mas em todas as coisas somos mais do que vencedores, por meio daquele que nos amou”. (Romanos 8:37).

domingo, 7 de agosto de 2011

O poder restaurador do perdão


Matheus Viana

A Bíblia é repleta de textos que elucidam a pura e simples verdade de que fomos criados por Deus com um propósito definido e previamente estabelecido desde a eternidade (Isaías 49:1, Jeremias 1:5, Salmos 139:16, Romanos 8:29). Mesmo em meio à extensa variedade de talentos, todos os parâmetros divinos que envolvem nossas atitudes no tocante ao Seu sublime comissionamento consistem no “aperfeiçoamento dos santos para o desempenho de seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo”. (Efésios 4:12).

Por isso, no curso da árdua jornada rumo ao cristianismo autêntico, encontramos sérias adversidades e oposições. Há uma vertente que tenta a todo custo nos impedir de alcançarmos a mesma meta proposta pelo apóstolo Paulo: “prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus”. (Filipenses 3:14). As Escrituras nos advertem: “o diabo, vosso adversário, anda ao derredor, como leão que ruge buscando alguém para devorar”. (I Pedro 5:8). Muitos são seus artifícios. Contudo, o principal estratagema que nos impede de lograrmos êxito em nossa caminhada é o pecado.

O episódio em que Jesus cura um paralítico mostra bem esta triste realidade. “... eis que lhe trouxeram um paralítico deitado num leito. Vendo-lhes a fé, Jesus disse ao paralítico: Tem bom ânimo, filho; estão perdoados os teus pecados”. (Evangelho segundo Mateus 9:2). Esta poderosa ordenança faz toda a diferença. Ainda que para muitos de nós (para mim, sem dúvida nenhuma) esta precisa declaração por muitas vezes tenha passado “em branco”, ela é chave para que possamos viver a conduta que Paulo relata em sua carta aos filipenses. Ou seja, prosseguir o alvo.

Quantas vezes o pecado nos impede de trilhar com ousadia o caminho que Deus nos revela e comissiona? Por quanto tempo este mal gerado no coração de um querubim e que veio à tona em pleno Éden não tem sido um importante entrave para o fluir do plano divino sobre a Terra? Ainda que como Corpo de Cristo temos conseguido avanços em meio à sociedade, estamos muito aquém do sublime patamar desejado por Deus.

No contexto espiritual, muitos se encontram como este indivíduo levado a Jesus: paralíticos deitados em leitos. Inertes em suas fraquezas e sucumbidos por seus pecados. Deficiência letárgica! É aqui que entra em cena o poder restaurador do perdão.

Uma oração que faço constantemente é que se cumpra a profecia descrita por Paulo que diz: “Onde abundou o pecado, superabundou a graça”. (Romanos 5:20). A cruz é a maior demonstração desta verdade (I João 4:10). Nunca seremos curados e levantaremos dos leitos do conformismo e da falta de atitude pelos nossos esforços. Apesar do fato de que a decisão deve partir de nosso coração, o constante insucesso que resulta na morosidade e, em muitos casos, no completo cessar da missão que repousa sobre nós é devido às nossas evasivas e vãs tentativas de tentarmos caminhar na força de nosso próprio braço.

Não conseguiremos vencer o pecado pela nossa justiça que para Deus “é imunda como trapo de imundícia”. (Isaías 64:6). Precisamos chegar a Jesus com o nosso coração “quebrantado e contrito” (Salmos 51:17) e recebermos de Seu perdão. Simples assim. Por isso Ele emite a redentora sentença: “perdoados estão os teus (os meus, os seus, os nossos muitos) pecados.”. O veredicto final? “Levanta-te, toma o teu leito e vai para sua casa”. Desfecho deste breve episódio? “E, levantando-se (o paralítico), partiu para sua casa”. (Evangelho segundo Mateus 9:8).

Tome posse deste perdão e levante-se! Você não foi chamado para viver como um paralítico deitado em um leito. Mas predestinado para um nobre propósito: contribuir de forma significativa para que a soberana vontade de Deus encha a terra “assim como as águas cobrem o mar”. (Isaías 11:9).

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Harmonia entre mente e corpo


Matheus Viana


Assistindo o discurso de Ronaldo “Fenômeno” na entrevista coletiva onde sacramentou sua aposentadoria, uma afirmação específica me chamou a atenção: “Perdi para o meu corpo. Minha cabeça pensa, mas o corpo não responde”.

Longe de ser um renomado e talentoso atleta, sei bem o que é isso. Conheço profundamente a penosa experiência de o corpo não responder aos mecanismos e impulsos do cérebro. O que nos limita, e muito, de fazermos não apenas aquilo que desejamos, mas, em alguns casos, também de sermos o que somos. Ronaldo precisou deixar de ser jogador de futebol – identidade com a qual ficou mundialmente conhecido e aclamado - por conta da limitação que o acomete.

Mas a recíproca também é verdadeira. Seremos bastante limitados se, mesmo com um corpo em perfeito estado, a cabeça não pensar. A máxima de Descartes, “penso, logo existo”, elucida bem esta verdade. Não viveremos conforme nossa personalidade se o nosso intelecto não estiver condicionado para tal.

Não é a toa que Cristo é o cabeça da Igreja (Efésios 5:23), seu corpo na Terra (I Coríntios 12:12). Baseado nesta verdade, Paulo nos adverte a termos a mente de Cristo (Efésios 1:21). O principal fracasso da Igreja é exatamente não viver de acordo com o intento que o levou a ser gerada (Evangelho segundo Mateus 16:18, Atos 2:38-40). Simplificando: ser o que ela é. O motivo? Anomalia intelectual. Ou seja, não pensar segundo a mentalidade de Cristo (I Coríntios 2:16).

É por isso que o apóstolo Paulo preconiza: “Transformai-vos pela renovação de vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, perfeita e agradável vontade de Deus”. (Romanos 12:2). Não a experimentaremos sem a plena consciência de quem verdadeiramente somos (Romanos 12:3). E, na medida em que a adquirimos, somos cientes de nossa crucial necessidade de nos submetermos à esta renovação de mente (Efésios 4:23).

Contudo, não basta termos o intelecto são se o corpo não for capaz de acompanhá-lo. É por este motivo que Paulo elucida, em sua carta aos romanos, que precisamos receber do mesmo Espírito que ressuscitou a Jesus dentre os mortos, a fim de que os nossos corpos sejam restaurados (Romanos 8:11).

Há mais de 12 anos meu corpo é acometido por uma séria deformidade óssea que me limita sobremaneira. Mesmo assim, sou convicto de quem sou, a primeira parte da restauração iminente. Condicionar meu intelecto a viver segundo este parâmetro é o passo seguinte.

É neste mote que Deus nos faz a seguinte proposta: “Anda na minha presença e sê perfeito”. (Gênesis 17:1). A principal verdade que precisamos descobrir a nosso respeito é de que somos dependentes dEle. Ela é o núcleo da plena harmonia entre mente e corpo que culmina na vida abundante que Ele nos oferece (Evangelho segundo João 10:10). No entanto, aceitar esta proposta é vital. Pense nisto!


Publicado na edição 008 da revista Profecia

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Um leproso

Matheus Viana


A multidão se apinhava seguindo Jesus, que descia do monte. Em meio a tal aglomeração, um leproso se aproximou dele. Um leproso. Essa é a identidade narrada nas Escrituras. Seu nome não é revelado. Tampouco sua nacionalidade ou religião. Nada. Leproso era o único atributo que o diferenciava dos demais.

A lepra era uma enfermidade que, além de terrível, causava ônus nos três aspectos que enredam a vida de um ser humano: social, físico e espiritual. Um leproso era considerado impuro em meio à sociedade hebraica. A lei dizia: “... se o pêlo na praga parecer mais profunda do que a pele da sua carne, é praga de lepra; o sacerdote o examinará e o declarará imundo.” (Levítico 13:3). O ônus social era inevitável: “Será imundo durante os dias em que a praga estiver nele; é imundo, habitará só: a sua habitação será fora do arraial.” (Levítico 13:46).

Um leproso era obrigado a viver à margem da sociedade, completamente solitário. Mas não era apenas isso que caracterizava seu sofrimento. Além disso, teria que conviver com a crescente degradação de seu físico, com a corrosão de sua pele. A narrativa bíblica é nua e crua: “Quando sarar a carne, em cuja pele houver uma úlcera, e no lugar da úlcera aparecer uma inchação branca (...) se ela parecer mais funda do que a pele, e o seu pêlo se tornou branco, o sacerdote o declarará imundo: é praga de lepra que brotou da úlcera”. (Levítico 13:18-20).

Posso ver você fazendo uma expressão de dor ao ler tal relato. Aquela “careta” peculiar e inevitável quando se depara com algo repugnante ou doloroso. Pois é. A lepra era repugnante e dolorosa. Repugnante em relação às pessoas e dolorosa em relação ao corpo.

Mas não é só isso (parece até chavão dos produtos PoliShop)! A lepra, assim como qualquer outra enfermidade, era um indício de que o indivíduo acometido por ela nascera sob a maldição do pecado. Certa vez os discípulos indagaram a Jesus sobre um cego de nascença: “Mestre, quem pecou, este ou seus pais para que nascesse cego?”. (Evangelho segundo João 9:2).

Repugnante, doloroso e maldito. Este era o currículo daquele leproso que se aproximou de Jesus. Imagine-se nesta situação! Ou melhor, lembre-se de todos os problemas que te afligem! Depois, visualize um encontro com Jesus! Fale a verdade! Seria a oportunidade imperdível de descarregar nEle todos os  descontentamentos e as lamúrias contidas em seu coração como um vulcão prestes a entrar em erupção. “Jesus, por que o Senhor permitiu isso na minha vida, na minha família, na minha casa, na minha parentela, no meu trabalho?”, e por aí vai...

Aquele leproso se deparou com esta oportunidade. Tinha todos os motivos do mundo para esbravejar seus disparates, não tinha? Quando se aproximou de Jesus ele... O adorou (Evangelho segundo Mateus 8:3). “O quê? Só pode ser brincadeira?”. Também fiquei indignado quando li este texto pela primeira vez.

Tal adoração é expressa em sua petição: “Senhor, se quiseres, podes purificar-me”. Que “tapa na cara”! Além de reconhecer o Senhorio de Jesus, não exigiu nada. Não reclamou de sua condição deplorável e não fez nenhuma reivindicação do tipo: “Senhor, eu cumpro a lei, tenho fé, observo seus mandamentos, mas mesmo assim eu vivo esta vida miserável. Onde estão as bênçãos e as recompensas que o Senhor promete?”.

Pelo contrário. O leproso submeteu seus desejos, anseios e necessidades ao Senhorio de Jesus. “Se quiseres”. O evangelho atual nos motiva a pedirmos com ousadia a fim de termos as nossas necessidades e desejos supridos. No entanto, não há maior ousadia do que esta: “Alegra-te do Senhor, e ele satisfará os desejos de seu coração” (Salmos 37:4).

Jesus entendia o drama do leproso. Ele sabia o que era solidão, pois ficou quarenta dias solitários no deserto. Sabia o que era carregar a maldição do pecado sobre si, pois como cordeiro morto antes da fundação do mundo (Apocalipse 13:8), estava destinado a carregar a maldição do pecado de toda a humanidade (Gálatas 3:13). E também sabia o que era ser rejeitado, pois quiseram jogar-lhe de um precipício (Evangelho segundo Lucas 4:29).

Aquele leproso se alegrou em seu Senhor, independente das circunstâncias as quais vivia. A maior expressão de contentamento para com Deus, independente do momento que enfrentamos, é a de nos submetermos, com alegria, à Sua soberana vontade. Ele fez isso e recebeu de Jesus, o Senhor, a seguinte sentença: “Quero, fica limpo! E imediatamente ficou limpo de sua lepra”. (Evangelho segundo Mateus 8:4).

Queira você ou não, somos leprosos em alguma área de nossas vidas. Nascemos sob um veredicto de pecado. O salmista afirma: “Em iniquidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe”. (Salmos 51:5). O apóstolo Paulo elucida: “Por um homem entrou o pecado, pelo pecado a morte, e a morte passou a todos os homens”. (Romanos 5:12). Temos alguma área que precisa de restauração. Ou melhor, uma lepra que precisa ser limpa. Faça como o leproso e seja limpo como ele foi.

Publicado na edição 008 da revista Profecia

Fé e perseverança

Matheus Viana


Certa madrugada, (para ser sincero, não me lembro do dia), estava deitado em minha cama, acompanhado de minha esposa que repousava em meio à inquietude de seu sono conturbado. “Desfrutava” naquele momento do desconforto e do sofrimento provocado pelas dores intensas e rotineiras. Repousei, com certa dificuldade, a cabeça no travesseiro. Em virtude dos muitos pensamentos que brotavam de minha mente, fui acometido da seguinte indagação: -   O que nutro em meu coração é fé ou medo de morrer?


Se eu escolhesse, por livre e espontânea vontade, caminhar nas rotas obscuras, pavimentadas pelas minhas preocupações e incertezas, teria todos os motivos e argumentos que um ser humano pode criar para ser um indivíduo depressivo e enclausurado pelo medo. Com o corpo desfigurado em pleno repouso e com a cabeça confortavelmente acomodada em um travesseiro, processava esta dúvida que corroía meu interior: - Será que o alicerce da minha fé não é, na verdade, uma tremenda falta de opção? Ou seja, tenho muito medo de morrer e, por isso, vivo sobre os alicerces da esperança de que, um dia, terei meu corpo miraculosamente curado para assim fugir das terríveis garras da morte? Esta fé não seria uma fuga, ainda que inconsciente, deste medo avassalador?

Entrei em parafuso! Lembrei, subitamente, do texto registrado na carta aos hebreus que diz “Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que não se veem”. (Hebreus 11:1). E também da advertência que o apóstolo João descreveu em sua carta que diz “No amor não há medo, antes o perfeito amor lança fora o medo; porque o medo tem consigo a pena, e o que teme não é perfeito em amor”. (I João 4:18).

Fiz uma súbita ligação com outro texto registrado no capítulo 11 da carta aos hebreus que diz “Sem fé, é impossível agradar a Deus”. (Hebreus 11:6). No entanto, o questionamento que de certa forma me martirizava não era o fato de eu nutrir fé em Deus ou não. E sim qual era o seu alicerce. Se minha fé era oriunda de meu amor a Deus ou de um forte medo que consumia o âmago de minhas emoções. O que, segundo a Bíblia, são duas coisas completamente incompatíveis, paradoxais... 
-          Seria minha fé em Deus um porto seguro para que o medo da morte não inundasse minhas emoções e me subjugasse a uma depressão fatal? – questionava.

Lembrei de um dos dois principais mandamentos de Jesus transmitidos aos saduceus que o indagaram: “Amai o Senhor vosso Deus de todo vosso coração, de toda vossa alma e de todo vosso entendimento”. (Evangelho segundo Mateus 22:37). Tal ordenança foi como um feixe de luz iluminando meu tenebroso caminho. De maneira inconsciente, minha mente e também minhas emoções estavam sendo inundadas por aspectos que emanavam das evasivas perspectivas naturais. A deformidade física que castiga meu corpo, as assustadoras previsões médicas e, de forma geral, o surgimento e a manifestação de todas as limitações consequentes.
-          Por que não pensei nisto antes? Está tudo tão claro na sobriedade e coerência das Escrituras... Uma verdade oculta apenas para quem não quer ver ou, para quem está acometido por uma séria e comprometedora cegueira. Fé é a certeza das coisas que se esperam e a prova concreta das que não se veem – dizia em um desesperado monólogo.

Precisava condicionar o meu intelecto a não raciocinar sob a desesperadora perspectiva do natural, mas sim elevá-lo à esfera divina, ao patamar da supremacia sobrenatural. Por isso, o apóstolo Paulo nos aconselha "Pensai nas coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra.". (Colossenses 3:2) E, consequentemente, nos ensina a termos “o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus”. (Filipenses 2:5). É muito mais do que um mero ciclo vicioso. É o mosaico da fé. Na medida em que condicionamos o nosso intelecto a raciocinar segundo este prisma, adquirimos o sentimento de Cristo. Ou seja, fé. É por isso que fé é totalmente contrário ao medo. 

Esta era a resposta. O que eu nutria em relação a Deus, por mais que parecesse, não era fé. E sim um simples subterfúgio intelectual em que eu tentava transmitir meu medo para o limiar de uma esperança evasiva. Um exercício puramente mental de tentar exercitar a crença na verdade de que, por maior que fosse meu problema, conseguiria vencê-lo apenas pela força da mente. Portanto, uma prática completamente permeada por um medo oriundo de meu raciocínio manipulado pela rasa e sagaz perspectiva humana.

Esta é a descoberta que desejo, de todo o meu coração, que o leitor faça ao ler esta simples narrativa “testemunhal”, como diz o professor Luiz Montanini. Este livro nada mais é do que um relato da jornada que trilhei em pouco mais de uma década. A intenção aqui não é, de maneira nenhuma, exaltar o ‘vitimismo’ barato. Mas sim tentar mostrar que é na dificuldade, algo que a Bíblia chama de provação, que Deus imprime em nós os sólidos alicerces da fé.

Muitas vezes somos acometidos pelo medo da tribulação. No entanto, Tiago nos exorta dizendo: “Tendes por motivos de alegria o passardes pela tribulação. Pois, a tribulação produz em nós perseverança”. (Tiago 1:2). Pois somente aqueles que perseverarem até o fim receberão a coroa da vida. (Apocalipse 2:8). Perseveremos, por enquanto, na leitura deste pequeno livro. Um mero instrumento que Deus usará para incendiar o seu coração com a ardente chama da fé.

Feche os olhos

Matheus Viana


Feche os olhos! Este foi o comando emitido ao meu coração e que subitamente atingiu meu intelecto enquanto pedalava uma ergométrica. Regularmente, pedalo durante trinta minutos. Período estafante. Mas no dia 17 de maio de 2011 foi diferente. Me submeti a esta espécie de mandamento. Fechei os olhos e comecei a pedalar. Os músculos das minhas pernas eram exercitados e doíam como das outras vezes. Mas continuei. Por várias vezes fui tentado a olhar o relógio para ver se os trinta minutos diários se expiraram. Porém, fui impelido a continuar, mesmo com as dores e o cansaço.

No entanto, um certo medo começou a se apoderar de mim: “Não posso fazer mais do que trinta minutos de exercício. Minha capacidade respiratória e os batimentos cardíacos não permitem.”, dizia para mim mesmo. Teimoso, persisti pedalando com os olhos fechados.

O suor escorria pelo meu corpo. As pedaladas ficavam cada vez mais pesadas e extenuantes. A dor e a fadiga beiravam o extremo. Quando não aguentei mais, abri os olhos e olhei para o relógio. Mais de quarenta minutos haviam se passado. Para ser mais exato, pedalei durante quarenta e dois minutos.

Fui além dos diagnósticos que pautam minha vida. Superei minhas expectativas. Rompi os meus limites. Apesar de serem constatações com aparência de autoajuda, acredite, não são. Isto apenas confirma a veracidade do que o apóstolo Paulo preconiza: “Andamos por fé, e não por vista”. (II Coríntios 5:7).

Sim, a fé é cega! Ela é a certeza das coisas que não se veem (Hebreus 11:1). Toda vez que pedalava olhando para o relógio conseguia, com muita dificuldade, a “façanha” de trinta minutos. Almejava pelo momento em que o ponteiro atinge o algarismo ‘6’.   Quando acontecia, eu parava, instantaneamente, de pedalar e me considerava vitorioso por cumprir o que propus para mim mesmo.

No entanto, aquele que nos adverte a fecharmos os olhos é o que propõe algo muito maior às nossas vidas. O profeta Isaías emite o veredicto divino: “Porque os seus caminhos não são os meus caminhos, nem os seus pensamentos os meus pensamentos. Pois assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos que os seus caminhos e os meus pensamentos mais altos que os seus pensamentos”. (Isaías 55:8-9).
       
Paulo de Tarso é considerado o apóstolo cristão de maior expressão e influência, mesmo não tendo pertencido ao seleto grupo dos doze. No entanto, ele só conseguiu este notável êxito porque teve sua personalidade transformada: de um fariseu devoto que perseguia cristãos para um cristão perseguido. Tal metamorfose foi devida à cegueira que lhe acometeu (Atos 9:8).

Quando se dirigia para Damasco teve um encontro com Jesus. Caiu do animal que o transportava e ficou cego. Um cristão chamado Ananias recebeu a incumbência divina: “Disse-lhe, porém, o Senhor: Vai, porque este é para mim um vaso escolhido para levar o meu nome diante dos gentios e dos reis e dos filhos de Israel.”. (Atos 9:15).

Este homem notável partiu de Jerusalém como Saulo e com um objetivo: prender cristãos. Mas retornou como Paulo e com uma vocação: proclamar o Evangelho do Reino dos céus. Sabemos que o nome do indivíduo, no contexto bíblico, fala de seu caráter. O nome Saulo – derivado de Saul – significa ‘aclamado’. Já Paulo significa ‘pequeno’. Seu orgulho de ser um erudito da Lei mosaica precisou ser abatido a fim de ver quem realmente era: um ser pequeno diante da magnitude de Seu Criador. Só depois disto é que pôde, de fato, viver segundo os preceitos da soberana vontade divina. Antes da restauração há a cegueira!

Todos nós temos áreas que nos impedem de viver a soberana vontade de Deus e por isso estamos muito aquém daquilo que Ele deseja para nós. Alguns nutrem uma visão além daquilo que verdadeiramente são, outros, aquém. Este mesmo Paulo adverte: “Porque pela graça que me é dada, digo a cada um dentre vós que não pense de si mesmo além do que convém; antes, pense com moderação, conforme a medida da fé que Deus repartiu a cada um”. (Romanos 12:3).

Enquanto Deus deseja que pedalemos durante mais de quarenta minutos, nos conformamos em pedalar, com muito custo, os trinta diários. Em uma bicicleta comum, isso significa ir mais longe.        O apóstolo Paulo disse certa vez: “Prossigo para o alvo para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus”. (Filipenses 3:14). É fato: os intentos de Deus a nós são humanamente impossíveis de serem alcançados. Não conseguiremos cumprir o que Ele nos propõe se fitarmos os olhos nas dificuldades e nos obstáculos que nos cercam. A solução para isso é “simples”: não olhe os resultados ou metas humanas. Não olhe as adversidades. Não contemple suas limitações. Apenas feche os olhos e pedale...