sábado, 19 de abril de 2014

Retenção de CO2

Matheus Viana

“Seu pulmão está retendo CO2. Isto significa que sua situação respiratória é crônica. A constante falta de ar que você tem sentido é por conta de seu pulmão não possuir ventilação suficiente e, por isso, não libera espaço satisfatório para a entrada de oxigênio.”

Este foi o diagnóstico unânime dos clínicos gerais da emergência e do pneumologista que me atende após um exame de gasometria no sangue. A solução para isso foi a indicação de um aparelho de auxílio ventilatório (e não respiratório) chamado BIPAP. Não me pergunte o que esta sigla significa, pois eu também não sei. E não me dei o trabalho de fazer uma pesquisa rápida no Google. Mas sei que ele ajuda a ventilar os pulmões na medida necessária para que, aos poucos, o CO2 que não consigo liberar por mim mesmo seja liberado para a entrada de mais oxigênio. O que tem acontecido e me feito sentir melhor.

No entanto, para que o aparelho faça o efeito esperado, preciso permanecer ligado a ele por no mínimo 6 (seis) horas diárias. Há dias, quando possível, que permaneço de 7 (sete) a 8 (oito) horas, claro, divididas em períodos de 2 (duas) a 3 (três) horas. Durante estes períodos, além de assistir televisão para que o tempo passe mais rápido, reflito sobre minha situação.

Vários são os meus questionamentos. A história de Jó parece renascer. Um dos meus principais questionamentos é o por que sinto um desejo enorme de servir a Deus mas permaneço impossibilitado. A partir disto, surge em meu intelecto o questionamento sobre o motivo de eu querer servir a Deus: se é para agradar a Deus ou achar sentido em minha vida atribulada.

Algumas lições tenho aprendido nestas situações. A primeira é a de que, mesmo com a intenção correta, corremos o risco de nos tornarmos, a exemplo de Marta, irmã de Lázaro, ativistas. Preocupada com o servir, mas sem tempo para prostrar-se aos pés de Jesus (Evangelho segundo Lucas 10:40-42). Eu estava entrando por este caminho. E o que é pior, sem perceber. Paulo foi um dos cristãos que mais trabalhou em prol do Evangelho. Mas em situações de prisões e açoites, ele substituía o tempo que poderia ser usado para o questionamento ou murmuração para... louvar e adorar a Deus (Atos 16:26-27).

Outra lição é que, assim como eu retenho CO2 em meus pulmões, adquirimos muitas coisas que são nocivas a nós e não conseguimos desfazer delas. Não vou fazer aqui uma relação destas coisas, pois vai ficar parecendo texto autoajuda, ou estes textos piegas que pretendem ter o caráter de terapêuticos sem serem de fato. O que posso fazer é citar a questão a fim de propor a reflexão. Esta última, no entanto, é própria do leitor. Ou seja, qual o “CO2” retido no “pulmão” interior de seu coração é você quem deve diagnosticar. Lembremos o que o sábio Salomão adverte: “De todas as coisas que deves guardar, guardas o coração, pois dele procedem as fontes da vida.” (Provérbios 4:23). Assim como o pulmão precisa liberar CO2 para a entrada de oxigênio, nosso coração liberará vida se primeiro receber. E, para receber, precisa ter espaço para isso, ou seja, liberar o “CO2” que recebemos ao longo de nossa jornada.