sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Comunhão, pensamento e liberdade


Matheus Viana

Salomão preconiza: “na multidão de conselhos há sabedoria”. (Provérbios 11:14). Quando Jesus quis revelar quem realmente era não usou o poder de persuasão oriunda de Sua sabedoria peculiar e transcendental, mas da reflexão e do diálogo coletivos (Evangelho segundo Mateus 16:13-20).

Jesus disse que quando duas ou mais pessoas se reunirem em Seu nome estaria presente através do Espírito Santo (Evangelho segundo Mateus 18:20, João 14:26). Este mesmo Espírito, que revelou a Pedro que Jesus era o Cristo, é que nos revelará toda a verdade (Evangelho segundo João 16:13). Por isso, o apóstolo Paulo afirma que o véu que obscurece o entendimento das pessoas só pode ser removido pelo Senhorio de Cristo (II Coríntios 3:14 e 16). No entanto, elucida sobre Ele dizendo: “Ora, o Senhor é o Espírito e, onde está o Espírito do Senhor, ali há liberdade”. (II Coríntios 3:17).

Esta liberdade está fundamentada – e não cerceada – pelo Seu Evangelho que é Espírito e Vida (Evangelho segundo João 6:63). Devemos nos lembrar da diferença entre democracia e anarquia. Uma sociedade livre é, antes de tudo, organizada. E organização consiste em parâmetros a serem seguidos com o intuito de prover liberdade e ordem de maneira coesa.

Jesus veio estabelecer uma nova Lei (Romanos 6:14). Abolindo a antiga? Claro que não! Obedecendo-a em tudo a fim de ser modelo para nós (Evangelho segundo Mateus 5:17-20). Veio nos libertar do jugo da religião a fim de estabelecer uma nova aliança pavimentada na amizade. Sua “revolução” não foi a insurgência de uma rebelião. Não se apresentou como líder de uma revolta popular, mas como um servo (Evangelho segundo Mateus 20:26 – Filipenses 2:6-9).

Nas vezes em que Jesus deixou de observar alguns costumes, como por exemplo não guardar o shabbat, quis mudar o foco da tradição e da devoção religiosas para o relacionamento. Apesar de ter sido considerado maldito e blasfemo, não foi achado nEle nenhuma transgressão (I Pedro 2:22, Hebreus 4:15). Ou seja, obedeceu plenamente a Lei divina.

Portanto, o Senhorio de Cristo consiste em serviço e comunhão como um único atributo. Servir a Jesus é ser seu amigo (Evangelho segundo João 15:16). Nos submetermos aos Seus ensinamentos é colocar nosso intelecto à disposição da sabedoria inefável do Espírito Santo. Como? Através da comunhão e da liberdade que Seu Senhorio proporciona e que são relatados de maneira prática em Atos 2:42-49. Aplicando tais princípios que, confesso, soam utópicos em nosso contexto, teremos uma sociedade muito melhor.

No entanto, é comum pessoas usarem as Sagradas Escrituras para impor determinadas doutrinas e condutas. Aquele que pensa de forma diferente – mesmo que não seja contrária – é acusado de ter uma alma doente ou não raciocinar segundo o Evangelho de Cristo. Há casos em que estes fatos se aplicam, mas a generalização é equivocada.

Submissão a Cristo não apenas respeita, mas exige o uso da mentalidade sã. O primeiro dos dois principais mandamentos é: “Amarás o Senhor teu Deus, de todo o coração, de toda sua alma e de todo entendimento”. (Evangelho segundo Mateus 22:37). Ou seja, usar o raciocínio – desde que não anule a fé e vice-versa – faz parte do mosaico da liberdade que somente Jesus pode proporcionar (Evangelho segundo João 8:36).

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Plataforma invisível - II


Pedro se viu diante do exercício de duas razões: a humana, que determinava que ele seria submergido, e a divina, que pavimentava o caminhar de Jesus sobre as águas turbulentas.

Matheus Viana

O terceiro fundamento é a coragem. Pedro não apenas ouviu, mas atendeu a advertência de Jesus. “E ele disse: Vem! E Pedro, descendo do barco, andou sobre as águas para ir ter com Jesus”. (Evangelho  segundo Mateus 14:29). No entanto, coragem é oriunda de disposição. Quando confrontado com uma visão do trono de Deus, o profeta Isaías recebeu a revelação do clamor divino: “Depois disto ouvi a voz do Senhor, que dizia: A quem enviarei, e quem há de ir por nós? Então disse eu: Eis-me aqui, envia-me a mim.” (Isaías 6:8).

Disposição é produto da plena compreensão da necessidade que nos enreda. No entanto, só teremos este entendimento quando, conforme Paulo adverte, termos o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus (Filipenses 2:5). Os discípulos estavam em situação de extremo perigo. O socorro estava bem em frente deles, mas não o reconheceram. Alguém teria que tirar esta dúvida. Pedro aceitou o desafio e provou do milagre. Conforme Paulo elucida: “A ardente expectativa da criação aguarda pela manifestação dos filhos de Deus”. (Romanos 8:19). É exatamente esta a conduta do cristianismo genuíno: se manifestar e caminhar no sobrenatural.

O quarto fundamento é composto por dois elementos distintos, porém coesos: fé e direção. Contudo, algo deve ser considerado: a fé, na contramão do que afirmam alguns ateus e agnósticos, não anula o exercício salutar do intelecto. Pedro se viu diante do exercício de duas razões: a humana, que determinava que ele seria submergido, e a divina, que pavimentava o caminhar de Jesus sobre as águas turbulentas. Jesus não agiu de maneira irresponsável ao chamá-lo para ir ter com Ele. Mas estava fundamentado na razão divina que, comparada à humana, é sobrenatural.

Conforme elucidei no texto ‘A razão sobrenatural’: “A fé extrapola a razão humana, mas não a anula. Pedro teve fé para andar sobre as águas do mar revolto, ou seja, extrapolou a razão humana diante do fato de que iria afundar. No entanto, seu querer (desejo e intelecto) estava fundamentado na Palavra de Jesus que é viva e eficaz (Hebreus 4:12) e Espírito e vida (Evangelho segundo João 6:63). A razão divina é diferente da humana. O que é sobrenatural para a razão humana é natural para a divina. A fé é o instrumento que faz com que a razão humana se converta à divina. Por isso afirmar que a fé ignora o exercício intelectual é prova cabal de carência... Isso mesmo: intelectual”. No entanto, não conseguiremos trilhar o sobrenatural sem ela.

Entretanto, a fé precisa ter um alvo específico. Pedro experimentou o sobrenatural porque tinha um destino: “ir ter com Jesus”. O apóstolo Paulo preconiza: “Prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus”. (Filipenses 3:14). A direção determina o êxito de nossa fé.

Sansão é um triste e antagônico exemplo. Sua força descomunal era oriunda da capacitação sobrenatural por ser devoto ao nazireado (Juízes 13:5). No entanto, errou o alvo. Focou todas suas expectativas e prazeres em uma prostituta filistéia chamada Dalila. Era provido de todos os fundamentos que vimos até aqui: tinha uma Palavra sobre sua vida, o Espírito de Deus era sobre ele (Juízes 14:6), tinha fé... Mas se enveredou por uma rota equivocada. Não trilhe o mesmo caminho. Há diante de ti uma plataforma invisível que te conduzirá ao alvo correto. 

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Necessidade de regredir


O cárcere de José foi a plataforma para o cumprimento do sonho que Deus lhe deu. Na perspectiva humana, José estava regredindo. Mas na de Deus, estava galgando a escada rumo à plenitude da “boa, perfeita e agradável vontade de Deus”. (Romanos 12:2).

Matheus Viana

Regredir nem sempre é um sinal de derrota. C. S Lewis (1898-1963) em seu livro ‘Cristianismo Puro e Simples’ ilustra esta verdade dizendo que o fato de uma pessoa que trilha uma rota equivocada parar e regressar indica progresso. Pois tal ato demonstra que ela converteu seus passos rumo ao alvo correto. Ou seja, seu regresso é completamente necessário para alcançá-lo. Quanto antes acontecer, mais rápido o alcançará.

Por muitas vezes temos a impressão de regredirmos em alguma situação turbulenta que nos acomete. Quando enfrentamos uma enfermidade, por exemplo, ao sentirmos os sintomas que apontam que estamos sucumbindo, temos a tendência de entregar os pontos. No entanto, precisamos nos lembrar que a aparente derrota de Jesus foi, na verdade, a maior de Suas vitórias. Apesar de todos os milagres que realizou, Sua morte na cruz foi o artifício único que nos garante a vida abundante que veio nos dar em todos os quesitos (Evangelho segundo João 10:10).

Isto não significa que estaremos extintos de aflições. Jesus também disse que as enfrentaríamos, mas, mediante Sua vida abundante, as venceríamos (Evangelho segundo João 16:33). Não é a toa que o apostolo Paulo preconiza: “Porque em tudo somos mais do que vencedores por meio daquele que nos amou.” (Romanos 8:37).

Contudo, esta vitória consiste em um processo, na maioria das vezes, bastante árduo. Afirmo por experiência própria. Há mais de 12 anos convivo com uma severa deformidade óssea. Partes vitais, como coração e pulmão, estão comprometidas em virtude das latentes curvaturas torácicas e vertebrais. Meu coração funciona de forma equivocada e minha respiração não chega a 20%. Tenho, constantemente, a impressão – além de sentir as dores que beiram o insuportável – de que a curvatura está avançando. O que indica que meu corpo está sucumbindo.

Sim, sou tentado a regredir em minha fé. Mas, subitamente, me lembro de que, apesar da respiração precária, não uso nenhum tipo de auxílio, como por exemplo, um tubo de oxigênio. Há anos vários pneumologistas me informaram da necessidade. No entanto, ela nunca se consumou. Respiro com limitações, é verdade, mas de forma completamente natural. Ou melhor, sobrenatural. Pois é o fôlego de vida, o mesmo que ressuscitou a Jesus dentre os mortos, que habita em mim (Romanos 8:11). E, por isso, continuo nutrindo minha fé de que o restante da profecia de Paulo se cumprirá em minha vida: “... e vivificará os vossos corpos mortais”.

A morte de Lázaro foi o palco para a manifestação do poder de Deus através de Jesus (Evangelho segundo João 11:40). A queda e a cegueira de Paulo foram o início de uma jornada exitosa (Atos 9:15). O fato de João Batista não ter acesso ao suntuoso Templo em Jerusalém para pregar no causticante e árido deserto da Judéia foi determinante para cumprir o propósito divino (Evangelho segundo Mateus 3:1-2).

José, como servo de Potifar, fez o que era certo e, por isso, foi lançado no cárcere. Não parece injusto? Contudo, o cárcere foi a plataforma para o cumprimento do sonho que Deus lhe deu. Na perspectiva humana, José estava regredindo. Mas na de Deus, estava galgando a escada rumo à plenitude da “boa, perfeita e agradável vontade de Deus”. (Romanos 12:2).

Por várias vezes indaguei: Deus, o Senhor não poderia fazer a obra que tens feito em minha vida sem eu precisar passar por todo o sofrimento que esta deformidade tem me causado? Ele nunca me respondeu... da maneira que eu quis ouvir. Mas Seu Espírito Santo tem ministrado em mim a consciência de que, se eu não passasse por isso, nunca me debruçaria nas Escrituras como tenho feito ao longo destes anos. Nunca ouviria a voz de Deus me dizendo o que fazer e ensinar nem tampouco me submeteria à sua boa, perfeita e agradável vontade. Ou seja, estava trilhando uma rota completamente equivocada. A enfermidade foi a maneira que Deus usou para me mostrar a necessidade que eu tinha de parar e regredir.

Entretanto, este aparente regresso é que tem me conduzido, conforme Paulo preconiza, ao alvo da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus (Filipenses 3:14). Foi a abrupta queda e a consequente cegueira que fizeram com que Paulo regredisse em sua rota equivocada. De perseguidor de cristãos, passou a ser um cristão perseguido. Os gentios - não judeus -, inclusos eu e você, conheceram o Evangelho de Cristo, em grande parte, graças à sua abnegação. O que parecia um regresso redundou na salvação dos gentios. Se Paulo não “regredisse” em seu caminho, a magnífica e soberana obra de Cristo não surtiria efeito. 

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Plataforma invisível


Pedro andou sobre as águas porque estava alicerçado em uma plataforma constituída de quatro fundamentos. O verdadeiro cristianismo consiste numa caminhada sobrenatural. No entanto, o sobrenatural traz consigo um propósito.

Matheus Viana

Pedro andou sobre as águas. Mais do que um fato extraordinário, é a demonstração do caminho pelo qual Deus deseja que andemos. Na verdade, Pedro andou sobre uma plataforma constituída de quatro fundamentos, cujo primeiro é o veredicto emitido por Jesus: “Vem!” (Evangelho segundo Mateus 14:29). Veremos os outros três em breve.

Este desafio proposto revela que Seu intento não é apenas que provemos o milagre. Mas que aprendamos o princípio de que o verdadeiro cristianismo consiste numa caminhada sobrenatural. No entanto, o sobrenatural traz consigo um propósito. Ele é, de certa forma, revelado na profecia proferida por Jesus: “De fato, o Elias virá e restaurará todas as coisas”. (Evangelho segundo Mateus 17:11). Sim, parte desta profecia se cumpriu na vida de João Batista (Evangelho segundo Mateus 17:12). Contudo, ela ainda repousa sobre sua Igreja.

Jesus nos ensina a seguinte oração: “Venha a nós o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu”. (Evangelho segundo Mateus 6:10), que nada mais é do que a verbalização do clamor divino. Por isso, devemos ter em mente que a resposta a esta oração é proveniente da seguinte verdade declarada por Jesus: “O reino dos céus é tomado por esforço, dos que com força se apoderam dele”. (Evangelho segundo Mateus 11:12).

O apóstolo João preconiza: “Para isto se manifestou o filho de Deus, para destruir as obras do maligno”. (I João 3:8). Além disso, há um decreto sobre a Igreja estabelecido pelo próprio Jesus que diz: “Eu edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”. (Evangelho segundo Mateus 16:18). Resumindo: estabelecer o Reino dos Céus na Terra é destruir as obras do maligno. “O mundo jaz do maligno.” (I João 5:19), adverte o apóstolo João. Por isso, nossa jornada é na direção contrária à filosofia vigente. O que nos fará ser “açoitado pelas ondas” (Evangelho segundo Mateus 14:24). É exatamente aqui que entra o andar sobrenatural.

A humanidade está enredada pelo humanismo. Basta analisarmos os fatos atuais e a pedagogia disseminada por instituições como a UNESCO e o MEC para constatarmos a veracidade do diagnóstico feito pelo apóstolo Paulo: “Mas o deus deste século cegou o entendimento das pessoas”. (II Coríntios 4:4). O marxismo - em parceria com o evolucionismo - e o materialismo regem a intelectualidade moderna e seu consequente comportamento. O resultado? Devoção a uma filosofia completamente contrária aos princípios e conceitos do Reino dos Céus.

Podemos dizer que a distância entre Jesus e o barco, narrada por Mateus, é a demonstração da incompatibilidade da razão humana para com a divina. Contudo, Jesus, através de Sua Igreja, caminha em sua direção “andando sobre as águas” de um mar revolto. Não há outro caminho, apenas uma plataforma invisível.

O segundo fundamento desta plataforma é o Espírito Santo. Pedro andou sobre o mesmo Espírito que pairava sobre a face das águas no princípio. A narrativa mosaica é clara: “E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas.” (Gênesis 1:2).

Sim, Deus mudou drasticamente esta realidade e colocou ordem no caos em seis dias pelo poder de Sua Palavra. No entanto, a queda do homem deu início a um intenso processo de degradação (Gênesis 3:17, Romanos 5:12). O efeito não poderia ser diferente. Ele é descrito pelo profeta Isaías: “Eis que as trevas cobrem a terra e a escuridão os povos”. (Isaías 60:2). Em decorrência disto, o apóstolo Paulo elucida: “Porque a criação ficou sujeita à vaidade, não por sua vontade, mas por causa do que a sujeitou. Na esperança de que também a mesma criatura será liberta da servidão da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus.”. (Romanos 8:20 e 21).

Constatações: as trevas cobriam a face do abismo no princípio. O barco dos discípulos estava enredado por uma turbulenta tempestade. Realidades, apesar de bastante distintas, caóticas. Guardadas as devidas proporções, o contexto atual não é diferente. Contudo, o Espírito Santo continua a pairar sobre a “face das águas”. Assim como culminou no processo de ordem e de Criação na gênese, o pairar (ação) do Espírito de Deus é que propiciará o cumprimento da profecia de Jesus de que todas as coisas serão restauradas (Evangelho segundo Mateus 17:11)...

Continua... 

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Teoria da normalidade


Matheus Viana


Esta teoria se baseia no criacionismo. Explico o motivo. O evolucionismo prega, grosso modo, que uma explosão atômica, chamada de Big Bang, deu origem ao universo. Ou seja, a colisão entre átomos culminou, com auxílio de um processo evolutivo, em maravilhas naturais como as cataratas de Foz do Iguaçu, o Pão de Açúcar e o arquipélago de Fernando de Noronha, por exemplo.

Teoria semelhante, guardadas as devidas proporções, ao pegarmos um copo com leite, farinha, claras e gemas de ovos na mão direita, algumas fatias de abacaxi com açúcar na mão esquerda e provocarmos uma colisão entre eles e, como resultado, surgir um bolo de abacaxi. Assim como um bolo, ainda que tenha participação dos ingredientes necessários, precisa de alguém para executar as ações demandadas, a criação do universo se deu da mesma forma. Teoria cientificamente chamada de Design Inteligente. “Aceitar que a natureza foi criada é uma evidência científica. Aceitar quem é o criador é uma pressuposição religiosa.”, afirma o físico e matemático Adauto Lourenço.

O evolucionismo, sustentado pelo darwinismo, prega que o ser humano é resultado de um processo evolutivo de milhões de anos que relatarei de maneira simplista: um peixe que se tornou um anfíbio, que se tornou um réptil, que se tornou um macaco e que se transformou em um ser o qual a ciência denomina como ‘humano’. Caso seja adepto desta teoria, por acaso você já se perguntou sobre a origem do primeiro peixe que surgiu na face da terra?

Segundo os evolucionistas, ele é resultado do Big Bang e do tal processo evolutivo. No entanto, esta teoria contraria a cientificamente reconhecida Lei da Biogênese, descoberta por Louis Pasteur (1822-1895), que preconiza que apenas um ser vivo pode gerar vida. No ano de 2010, cientistas das universidades inglesas Warnick e Sheffield atestaram, através de experimentos científicos, que a galinha veio primeiro que o ovo.

O criacionismo afirma que o homem foi criado do pó da terra. A expressão ‘humano’ tem sua raiz na palavra ‘humus’ que é traduzida para o português como terra. Além disso, este ser ‘humano’ recebeu do fôlego de vida de outro ser – obviamente – vivo (Gênesis 2:7).

O homem foi formado pelo seu Criador com um padrão. Na versão grega (Septuaginta), a expressão usada para fôlego de vida é pneuma zoe,  que é usada no contexto de espírito ou vida espiritual a fim de distingui-la dos termos bios (físico) e psique (alma), é a vida em seu sentido pleno. Ou seja, o fôlego que o homem recebeu não foi um fôlego qualquer, mas o do próprio Criador que o soprou em suas narinas.

O termo alma ou ser é ‘nefesh’. Comumente traduzido como alma por conta da narrativa de Gênesis dizer: “E formou o SENHOR Deus o homem do pó da terra, e soprou em suas narinas o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente.” (Gênesis 2:7) Ou seja, nefesh é a consequência de receber o fôlego de vida de Deus.

Este fôlego sustentava a normalidade que lhe foi atribuída: ser e viver à imagem e conforme a semelhança de seu Criador. No entanto, tinha sobre si a seguinte sentença: “Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás, porque no dia em que dela comeres certamente morrerás.”. (Gênesis 2:17). Há no grego duas expressões traduzidas como morte para o português. Uma é nekrós que se refere à vida física. A outra é thanatos que se refere ao espírito do homem. O verbo traduzido como "morrerás" descrito no texto bíblico em grego, tem sua raiz na expressão thanatos. Ou seja, a morte que o texto se refere é o extirpar da pneuma zoe que sustentava a normalidade a qual o homem vivia. O que, consequentemente, lhe conduziu à nekrós algum tempo depois.

O homem não observou a advertência divina e sofreu os efeitos colaterais desta atitude. Por perder a vida do Criador se tornou, comparado à normalidade divina, um anormal, ou seja, um deficiente. Como afirmei algumas vezes, se compararmos a nossa vida, por mais que acreditemos ter pleno êxito, com a vida que o homem vivia antes de sua desobediência veremos que ela não passa de uma subvida.

Este conceito se aplica a mim. Nasci com corpo e mente plenamente saudáveis. No entanto, no auge dos meus 16 anos, fui acometido por uma dor na região central da coluna que beirava o insuportável. Resumindo, meu corpo se encontra demasiadamente desfigurado por conta da severa deformidade óssea que acomete o tórax e a coluna vertebral. Em outras palavras: sou um deficiente físico.

Mas a normalidade divina nos é oferecida novamente em todos os âmbitos de nossas vidas. Não foi em vão que o apóstolo Paulo afirmou: “Assim está também escrito: O primeiro homem, Adão, foi feito alma vivente. Mas o último Adão foi feito espírito vivificante.”. (I Corintios 15:45). E mais. Ele também disse: “O mesmo espírito que ressuscitou a Jesus dentre os mortos habita em vós e vivificará os vossos corpos mortais”. (Romanos 8:11).

O primeiro passo para vivermos novamente esta normalidade é recebermos o Espírito de Deus. Por isso, João nos emite o caminho das pedras: “A todos quantos receberam a Jesus, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus”. (Evangelho segundo João 1:12). Que poder, afinal, é esse? O mesmo ao qual Jesus falou aos Seus discípulos: “Mas recebereis poder ao descer sobre vós o Espírito Santo”. (Atos 1:8). Só não é ‘normal’ - na plenitude de seu significado - quem não quer.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Quebra-cabeça

A coesão entre as diversidades de um quebra-cabeça é que forma sua imagem. Apenas uma peça faltante ou fora do lugar e ela não será emitida em sua plenitude.


Matheus Viana

Toda vez que vou à casa dos meus sogros contemplo o belo quadro de uma paisagem inebriante. Um bangalô à margem do Mar do Caribe de um azul estonteante que me faz, de súbito, ser transportado pelas vias da imaginação àquele lugar paradisíaco.

Contudo, esta experiência não seria possível se o quebra-cabeça que o forma não estivesse completo. Apenas uma peça faltante ou fora do lugar e o quadro não emitiria a imagem em sua plenitude. Somente Deus, eu, e minha esposa sabemos o quanto foi árduo e extenuante o processo de montagem. Nada mais, nada menos do que 2000 peças.

Confesso: a parte do céu foi a mais difícil. Mais de 300 peças com a mesma tonalidade de cor. As que se diferenciavam entre si eram de azuis muito próximos. Os formatos das peças também eram bastante semelhantes. Durante esta verdadeira expedição, pude meditar na verdade de que cada ser humano tem um lugar específico no grande quebra-cabeça chamado Corpo de Cristo (I Coríntios 12:7). Qualquer um que nele não se encaixar fará com que a imagem que dele emana não seja emitida, e a humanidade não poderá desfrutar dos benefícios oriundos de contemplá-la.

Por isso, Jesus fez a seguinte oração: “Rogo também por aqueles que crerão em mim, por meio da mensagem deles, para que todos sejam um, Pai, como tu estás em mim e eu em ti. Que eles também estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste”. (Evangelho segundo João 17:20-21).

No entanto, unidade não significa, de maneira nenhuma, ocupar o mesmo lugar nem tampouco realizar a mesma função. A coesão entre as diversidades é que forma a imagem de um quebra-cabeça. Imagine se colocássemos as peças que compõem o mar, na parte inferior da imagem, juntamente com as que formam o céu, na parte superior, ou vice-versa? Não seria possível montá-lo e, consequentemente, a imagem – ou mensagem - não seria emitida. É o que tem acontecido com a Igreja de Cristo. Muitas ‘peças’ não têm discernido e, por isso, não ocupam seus devidos lugares. Uma ou mais peças encaixadas indevidamente comprometem a montagem de todo o quebra-cabeça.

Certa vez fui alvo de um disparate onde o detrator vociferava que me dispunha somente a escrever. Elaborei, em seguida, um texto onde salientei a importância dos livros do Evangelho segundo Lucas e de Atos dos Apóstolos para o fechamento do cânon bíblico e do cristianismo como um todo. Ambos escritos por um homem cuja “mera” contribuição para a disseminação da imagem chamada ‘Evangelho de Cristo’, segundo a Bíblia, foi apenas escrever. Nada mais do que isso. Lucas discerniu o seu lugar e sua função no quebra-cabeça. E, por isso, logrou êxito em sua missão...

Conheço bem o meu lugar predestinado por Deus desde o ventre materno (Salmos 139:16, Jeremias 1:5, Romanos 8:29) e suas atribuições. É o que tenho feito, apesar dos levantes. Não vou permitir que me encaixem – ou tentem encaixar – em outro lugar. Descubra o seu e o ocupe o mais rápido possível. Pois esta “simples” ação culminará no cumprimento da profecia que diz: “A ardente expectativa da criação aguarda pela manifestação dos filhos de Deus”. (Romanos 8:19). 

terça-feira, 13 de setembro de 2011

A razão sobrenatural


O que é sobrenatural para a razão humana é natural para a divina. A fé é o instrumento que faz com que a razão humana se converta à divina. Por isso afirmar que a fé ignora o exercício intelectual é prova cabal de carência... Isso mesmo: intelectual.


Matheus Viana

Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade. (Filipenses 2:13).

Uma realização exitosa passa antes pelo querer. O desejo determina o sucesso de nossos feitos. Ainda que ele não seja suficiente, é fator fundamental. O querer é baseado em dois atributos: sentimento e intelecto. O que fez Eva preterir a vontade de Deus e subverter a natureza humana (Romanos 5:12, Colossensses 3:5) foi o fato de submeter seu intelecto a um discurso contrário e, consequentemente, desejar algo ilícito.

Jesus disse que o primeiro dos dois grandes mandamentos é: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento.” (Evangelho segundo Mateus 22:37). Pois ele pavimenta a realização do mandamento posterior: “Amarás o seu próximo como a si mesmo.” (Evangelho segundo Mateus 22:39) que redunda em altruísmo.

Nosso desejo, ainda que pautado pela alma (sentimento), deve estar fundamentado por uma consciência e racionalidade sã (razão). Sentimento (ou emoção) desprovido de razão produz realizações e resultados nocivos e até fatais. Por outro lado, razão sem emoção é evasiva. Por isso o apóstolo Paulo preconiza que só experimentaremos a boa, perfeita e agradável vontade de Deus quando nos submetermos ao processo transformador de renovação de mente (Romanos 12:2).

Uma questão é bastante pertinente: o que determina o comportamento humano? Sua maneira de pensar. Nossa maneira de pensar, no entanto, deve estar pautada pelos nossos sentimentos. “Deus ‘amou’ o mundo de tal maneira que ‘deu’ seu Filho unigênito para que todo aquele que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Evangelho segundo João 3:16). Ele ‘amou’ (sentiu) e agiu visando um propósito, o que implica em raciocínio. Portanto, razão e sentimento são fatores complementares para o êxito de uma realização.

Nossa razão (pensamento) deve ser submetida à mente de Cristo (I Coríntios 2:16, Colossensses 3:1-2). Ou seja, devemos pensar segundo aquilo que é chamado de ‘viés ideológico’ dEle. Contudo, só conseguiremos vencer este desafio quando observarmos a seguinte exortação de Paulo: “Tende em vós o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus”. (Filipenses 2:5).

A fé extrapola a razão humana, mas não a anula. Pedro teve fé para andar sobre as águas do mar revolto, ou seja, extrapolou sua razão diante do fato de que iria afundar. No entanto, seu querer (desejo e intelecto) estava fundamentado na Palavra de Jesus que é viva e eficaz (Hebreus 4:12) e Espírito e vida (Evangelho segundo João 6:63). A razão divina é diferente da humana. O que é sobrenatural para a razão humana é natural para a divina. A fé é o instrumento que faz com que a razão humana se converta à divina. Por isso afirmar que a fé ignora o exercício intelectual é prova cabal de carência... Isso mesmo: intelectual.

O apóstolo João afirma que as Palavras proferidas por Jesus (Seu evangelho) são Espírito e vida, conforme foi citado anteriormente. No grego há três expressões usadas para traduzir a expressão ‘vida’: bios, psique e zoe. Bios é a vida física, psique é comumente relacionado à alma e zoe ao espírito, ou seja, a vida em seu significado pleno, também relacionado à vida de Deus concedida ao homem (Gênesis 2:7).

De acordo com a terapeuta Patrícia Viana, especialista em saúde mental, o termo psique aborda tanto a alma quanto o intelecto do indivíduo. Apesar de serem dois atributos distintos, são coesos. Não há como desvencilhar sentimento e pensamento. Um delírio psicótico, por exemplo, é executado por um intelecto adoecido. “O delírio é a fuga – inconsciente - do indivíduo para não entrar em contato com a realidade que fere seus sentimentos lhe causando dor”, afirma Viana.

A vida que Jesus nos convida a viver é pautada pelo Seu sobrenatural. Mas, ainda que seja algo acima da racionalidade humana, não possui contornos de delírio. No entanto, há muitos que vivem um cristianismo delirante que produz uma “fé” irresponsável.

Cristianismo sem o exercício pleno de nossa psique (pensamentos e sentimentos) fundamentado em Seu evangelho é delírio. É Ele – e somente Ele – que efetua tanto o querer quanto o realizar. O que isto significa? Que se Ele nos pediu algo que para nós é impossível, creia (submissão de razões e sentimentos) que é possível. Ele não é homem para que minta (Números 23:19). O impossível será possível na medida em que a nossa ‘nous’ (mente, modo de pensar) for substituída pela “nous” de Cristo. Ou seja, quando desejarmos a Sua boa, perfeita e agradável vontade de todo nosso coração, de toda nossa alma e de todo nosso pensamento.  

domingo, 4 de setembro de 2011

Entre a espada e a funda


Davi se desfez de toda aquela armadura e tomou posse de seus instrumentos: o cajado (ministério), cinco pedras lisas (estratégia) e a funda (talento). O resultado? Sabemos muito bem qual foi.

Matheus Viana

Um gigante urrando e amedrontando todo o exército inimigo. Entre os milhares de guerreiros experimentados, não havia sequer um disposto a aceitar o desafio. No entanto, entrou em cena um jovem pastor de ovelhas, cuja função era levar pães e queijos para seus irmãos mais velhos que eram soldados.

A história de Davi e Golias é bastante conhecida. Todavia, há um aspecto pouco explorado que determinou o êxito não apenas de Davi, mas de toda a nação de Israel.

O ávido jovem recebeu do rei Saul permissão para lutar contra o temido gigante. Mas com uma condição: usar a armadura real. Obediente, Davi se cingiu dos aparatos militares. É aqui que quero refletir com você. Munido da armadura, Davi disse: “Não posso andar com isso, pois nunca a usei”. (I Samuel 17:39).

Se Davi descesse ao vale e lutasse usando aquela armadura seria, fatalmente, sucumbido. O que isso significa? Devemos lutar de acordo com as nossas habilidades, e não com as que querem colocar sobre nós. Muitos estão paralisados em detrimento de uma “armadura” que não lhes pertence. Ou seja, estão desempenhando uma função com a qual não são hábeis. A intenção é correta, porém o modo é equivocado.

Davi recebeu um capacete de bronze. Isso fala da maneira de pensar. Nosso propósito deve ser único: estabelecer o Reino de Deus sobre a Terra (Evangelho segundo Mateus 6:10). No entanto, devemos respeitar e aceitar as diferenças conforme diz o sábio Salomão: “Na multidão de conselhos há segurança”. (Provérbios 11:14). Se sujeitar à renovação da mente que Paulo elucida (Romanos 12:2) não é opção, mas condição. Sem ela não experimentaremos a boa, perfeita e agradável vontade de Deus. E renovação de mente consiste também em diagnosticar as divergências e ser beneficiado por elas.

Davi recebeu uma couraça. Isso fala de sentimento. Respeitemos os sentimentos alheios. Ninguém é igual a ninguém. Óbvio ignorado por muitos. Alguns são emotivos e outros impulsivos. A Igreja de Jesus não seria estabelecida sem a impulsividade de Pedro e nem prevaleceria sem o ensino e a prática do amor por João. A variedade de sentimentos é que forma o mosaico que satisfará as necessidades da humanidade. Tanto a vara quanto o cajado, conforme preconiza Davi em um de seus salmos (Salmos 23:4), nos consolam.

Davi cingiu a espada. Isso fala de nossos talentos. Saul era guerreiro. Davi era pastor de ovelhas. Dons diferentes, porém complementares. Não derrotaremos os gigantes que nos ameaçam com os talentos de outros, mas somente com os nossos. Davi se desfez de toda aquela armadura e tomou posse de seus instrumentos: o cajado (ministério), cinco pedras lisas (estratégia) e a funda (talento). O resultado? Sabemos muito bem qual foi.

Unidade de propósito, diversidade de linguagem


Matheus Viana


É relevante refletirmos sobre a torre de Babel por uma perspectiva diferente da disseminada à exaustão. Ela evidencia o quanto a unidade sem a pluralidade - e com um intento equivocado - é nocivo.

O livro de Gênesis diz: “Sucedeu que, partindo eles do oriente, deram com uma planície na terra de Sinear e habitaram ali.” (Gênesis 11:2). Longe de ser apenas um local meramente geográfico, o oriente, nas Escrituras, possui uma conotação divina. Ele simboliza a direção da Glória de Deus.

O Éden, de acordo com as Escrituras, possuía um jardim criado por Deus para que o homem nele habitasse. Em que direção estava situado? Ao oriente (Gênesis 2:8). Era ali que o Criador – em pessoa – dirigia-se, todos os dias, para se relacionar com o homem. O profeta Ezequiel relatou sua visão dizendo: “Então me levou à porta que olha para o oriente. E eis que do caminho do oriente vinha a glória de Deus”. (Ezequiel 43:2).

O homem, desde o início, preteriu a vontade divina e com isso abandonou este lugar glorioso. A sentença foi sumária: “No suor do teu rosto comerás o teu pão”. (Gênesis 3:19). Consequentemente, passou a agir e a viver de forma independente. A glória divina foi substituída pela vanglória humana. O homem passou a receber a honra pelos seus feitos. Foi neste ímpeto que alguns planejaram construir uma torre que chegasse aos céus. O objetivo é evidente: “tornemos célebre o nosso nome”. (Gênesis 11:4). A torre de Babel era – e ainda é - a personificação do orgulho humano.

O atributo que viabilizou tal empreitada foi a linguagem única. Por isso Deus os dispersou colocando entre eles línguas diferentes (Gênesis 11:9). A verdade de que a unidade que Jesus espera que vivamos é plural ressoa por todas as Escrituras. Ele certa vez orou: “Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste.” (Evangelho segundo João 17:21).

Baseados nesta oração, podemos afirmar que a unidade entre Deus Pai e Deus Filho é o modelo da unidade que Jesus deseja que Seus discípulos vivam. No entanto, ela é plural. Em Gênesis 1:26 vemos a sentença: “Disse Deus: façamos...”. Opa... Erro de concordância? Não! “- Mas o sujeito está no singular e o verbo foi conjugado no plural?”. Isso mesmo. Embora seja um único Deus, Ele é um ser trino: Pai, Filho e Espírito Santo. Na criação do homem narrada em Gênesis, o Pai deu forma com o pó da terra, Jesus foi o modelo e o Espírito Santo lhe concedeu o fôlego de vida. Um Deus. Um propósito. Funções diferentes e complementares. A unidade divina é coesa, mas plural.

Poderia dissertar sobre a diversidade entre os discípulos de Jesus, mas o espaço e sua paciência não permitem. No entanto, recorro à elucidação feita pelo apóstolo Paulo sobre o que ele chamou, sabiamente, de ‘Unidade Orgânica da Igreja’. Leia o capítulo 12 da primeira epístola aos coríntios e veja por si mesmo.

Paulo está falando do corpo de Cristo na terra: a Igreja. Veja o que ele diz: “Porque também o corpo não é um só membro, mas muitos. (...) Se todo o corpo fosse olho, onde estaria o ouvido? Se todo fosse ouvido, onde estaria o olfato?”. (I Coríntios 12:14 e 17).

Unidade sem pluralidade gera “torres de Babel”. Infelizmente, temos visto muitas sendo erigidas em nossos dias. Seus construtores usam as Escrituras para criar uma linguagem e, baseados nela, estabelecer uma unidade desprovida de diversidade. Segundo as Escrituras, o Espírito que opera em “torres” não é o que provém de Deus.

No episódio que culminou no estabelecimento da Igreja Primitiva, cumprindo a profecia de Jesus a Pedro (Evangelho segundo Mateus 16:18), “veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam assentados. E foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles.” (Atos 2:2-3).

Veja! Lucas, discípulo de Jesus e autor do livro de Atos, relata que apareceram “línguas” e não “língua”. Foi um mover plural e ao mesmo tempo pessoal. “E todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem.” (Atos 2:4).

Deus, através de Seu Espírito, concedeu a cada pessoa uma linguagem visando um propósito: o estabelecimento do Reino dos Céus. Como? Pregando o Evangelho do Reino a fim de que Sua justiça se manifeste sobre a humanidade. Não me refiro a uma religião, mas à vida abundante que Ele veio oferecer (Evangelho segundo João 10:10).

Em Pentecostes, cada um recebeu uma linguagem que foi ouvida por contingentes específicos. Veja o relato de Lucas: “E em Jerusalém habitavam judeus e homens de todas as nações que estão debaixo do céu. E, quando aquele som ocorreu, ajuntou-se uma multidão, e estava confusa, porque cada um os ouvia falar na sua própria língua. E todos pasmavam e se maravilhavam, dizendo uns aos outros: Pois quê! não são galileus todos esses homens que estão falando? Como, pois, os ouvimos, cada um, na nossa própria língua em que somos nascidos?” (Atos 2:5-8).

Devemos disseminar o Evangelho do Reino com a linguagem que recebemos do Espírito Santo. As “línguas” que Ele me concedeu foi o ensino e a escrita. A “língua” relatada por Lucas no livro de Atos se refere também ao dom que você possui. O apóstolo Paulo preconiza: “A manifestação do Espírito é concedida a cada um, visando um fim proveitoso”. (I Coríntios 12:7). Antes, porém, elucida: “Ora, os dons são diversos, mas o Espírito é o mesmo”. (I Coríntios 12:4).

Receba a sua “língua” e pregue o Evangelho. Esta preciosa semente nunca volta vazia. Os frutos virão no devido tempo (Isaías 55:11). Nunca se aparte deste atributo: unidade de propósito, diversidade de linguagem.